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O TC e seus redatores listam os 40 melhores discos internacionais de 2023

Foto do escritor: Redação Redação

Atualizado: 29 de dez. de 2023

Ouça sem moderação.

boygenius, The Rolling Stones, The National,Arlo Parks
Imagem: Reprodução


É chegada a hora da tão falada e, por vezes, injusta lista dos melhores álbuns de 2023. Assim como fizemos no ano passado, lançaremos listas separadas para discos internacionais e nacionais. Começando pelos estrangeiros, este ano trouxe uma profusão de lançamentos excepcionais. O retorno do Depeche Mode com 'Memento Mori' marcou um ponto alto, apresentando um disco memorável e de suma importância devido à mensagem que cada composição carrega. Tivemos também a grata surpresa do supergrupo boygenius, composto por Julien Baker, Phoebe Bridgers e Lucy Dacus, que lançou o melodioso e belo 'The Record', que tirou muitas lagrimas por aí. Além disso, destacam-se trabalhos de bandas renomadas como The National, Wilco, e o aguardado retorno do Blur. Uma variedade de excelentes sons e gêneros permeou o ano. Muito protagonismo feminino, banda ícone do alternativo noventista e lançamento da maior banda de rock (ainda) em atividade.


Chega a ser difícil selecionar apenas 40 discos nesse vasto oceano de maravilhas da cultura pop. Mas se não for assim, perderia a graça. Que charme teria uma lista que não causasse certa polêmica e descontentamento em parte dos fãs? Por isso, elas são injustas, ingratas e até tenebrosas de se fazer. No entanto, nossa intenção aqui não é caracterizar os 40 melhores álbuns e desmerecer todas as outras obras, mas sim listar aqueles que mais tocaram em nossos ouvidos durante o ano. Todos temos aquele disco xodó, aquele que é como uma companhia constante ao lado da cama. Não fique chateado se o seu artista favorito não aparecer por aqui. Aproveite para ouvir, reouvir e descobrir algo novo.


A presença da música é significativa e vital em nossas vidas. A cultura, a arte e as canções pop enriquecem nossa existência, proporcionando um alento e inspirando a esperança em dias melhores, enquanto buscamos a essência e a paz. Vários álbuns desempenharam um papel fundamental em tornar este ano mais leve, renovando nossa motivação para perseguir nossos ideais. Em meio a um período de desafios, conflitos e aprendizados, também experimentamos momentos de boa companhia, risadas e excelentes filmes - tópico que merece uma lista própria. A música, resiliente, permaneceu presente em todos os momentos de 2023, mesmo diante das adversidades e dos obstáculos. Este modesto portal completou dois anos de existência, dois anos compartilhando cultura pop e semeando a arte como um todo, sem esquecer da cena alternativa brasileira. Aguarde nossa lista de discos nacionais.


Gosto muito da frase que o Jeff Tweedy disse em seu livro de memórias 'Vamos Nessa (Para Podermos Voltar)… ': "A música. Se você a mantiver perto, ninguém pode tirá-la de você. Ela existe. A parte bonita sempre existiu e sempre continuará existindo."


Então, é isso! Nos divertimos, relembramos e revisitamos discos lançados, e tudo se torna uma brincadeira no final. Espero que curtam a lista e aproveitem para ouvir e recordar esses discos. Que todos tenham um ótimo natal e prospero ano novo.

(Marcello Almeida)

 

Colaboradores desta lista:

Alexandre Tiago, Eduardo Salvalaio, Marlons Silva, Marcello Almeida e Thaís Sechetin

 

40 - Queens Of The Stone Age - In Times New Roman...


'In Time New Roman...' é pesado, cru e soa grosseiro, uma paulada atrás da outra. "Emotion Sickness'', que foi lançada como o single principal, é uma faixa suja e monstruosa no sentido Frankenstein da coisa; a melodia e a letra atormentada foram costuradas, deixando espaços para toda a sujeira vazar pelas suturas. Camadas e elementos que resgataram o poder primitivo do Blues-Rock dos primeiros discos do grupo.


Aqui o Queens of the Stone Age evoca a angústia inescapável de ver seu mundo desmoronar e, em seus momentos mais poderosos, transmitem tanto a devastação quanto a lenta jornada de retorno do "inferno". Uma combinação de resgate e uma busca sutil por novas possibilidades, como uma arquitetura conceitual de tudo o que a banda tem explorado ao longo de toda sua trajetória na música.



39 - Dolly Parton - Rockstar


Toda boa lista que se preze tem que ter um guilty pleasure. O desta lista só pode ser um álbum da Dolly Parton fazendo o bom e velho Rock, algo que ela ainda não havia experimentado.


Que a Dolly é um ser humano fantástico, uma cantora sensacional e uma compositora divina, não resta dúvida. Em 2022, ela entrou para o Rock And Roll Hall Of Fame, mas só não recusou o convite porque não havia mais tempo. Não se considerava uma artista de Rock. Talvez o fato a tenha inspirado a gravar um disco repleto (eu disse repleto) de releituras de clássicos do Rock, com participações especiais que fizeram história. "Every Breath You Take" com a participação do Sting, "Baby I Love Your Way" com Peter Frampton, "I Hate Myself For Loving You" com Joan Jett & The Blackhearts são apenas amostras de como a Dolly ainda tem muito gás, ousadia e saltão alto para exibir.


Pode não ser o melhor disco da carreira dela, nem o melhor do ano, mas com certeza ele é muito divertido.


38 - Foo Fighters - But Here We Are


A trajetória do Foo Fighters desde o lançamento do seu álbum homônimo em 1995, (disco que na época não foi muito bem recebido pela crítica), mudou da água para o vinho. Dave Grohl passou de baterista do Nirvana para o maior astro do rock n roll, tendo sua imagem ancorada pela frase: "o cara mais legal do rock". Entretanto, a morte tem sido presente na vida de Dave desde então: o suicídio de Kurt Cobain em 1994, o amigo e baterista dos Foos, Taylor Hawkins, como se já não fosse pesado demais, Grohl perdeu sua mãe recentemente também.


No décimo primeiro álbum da banda intitulado 'But Here We Are', o primeiro sem Taylor Hawkins, cada faixa parece buscar um refúgio para lidar com o luto e os recentes acontecimentos que colocaram a banda por um fio, são músicas que emergem do luto, da dor e da tentativa de colar seus vários pedaços pelo chão. O disco é dedicado a essas duas pessoas fundamentais, pilares que serviram de base para que eles pudessem chegar onde estão hoje. Hawkins morreu repentinamente em março do ano passado durante uma turnê da banda; a mãe de Grohl, Virginia, morreu em agosto.


Um disco que celebra a força da família, que busca um refúgio na música para suportar a dor das perdas, às vezes introspectivo, barulhento, repetitivo e confuso. Mas que prova do saboroso poder de cura e resiliência da música. E vale por ver uma banda veterana juntando seus pedaços e explorando seus limites. Como se a vontade de dizer algo para Taylor Hawkins impulsionasse a banda para um novo proposito, de continuar fazendo aquilo que eles gostam de fazer, agora na cia de Josh Freese na bateria.



37 - Loraine James - Gentle Confrontation


Ao longo dos anos, a compositora e produtora inglesa Loraine James aperfeiçoou e trabalhou todo o potencial de sua voz e o lado criativo e minimalista de sua obra. Loraine mistura de maneira exemplar elementos da música eletrônica e experimentalismo, com isso cria um elo para um som altamente expressivo ao fundir o jungle e o idm e assim narrar seus conflitos, emoções e experiências pessoais.


'Gentle Confrontation', como sugere o próprio título, é uma obra que oscila entre momentos mais desafiadores e delicados. As composições compartilham uma atmosfera distintiva, resultante de ambientações enevoadas e uma notável semelhança no tratamento vocal, mas seguem caminhos independentes.


Loraine vem provando ser uma ótima revelação nos últimos tempos na música ambiente ao concentrar seu processo criativo em canções minimalistas com um cunho sentimental e sociopolítico relevante.


36 - Blondshell – ‘Blondshell’


O álbum homônimo de Sabrina Teitelbaum captura de maneira autêntica o início da vida adulta. A compositora Expressou suas emoções mais íntimas e intensas em um triunfante sucesso de rock alternativo. A sensualidade crua, evidenciada em 'Kiss City', foi habilmente destilada.


Como se ela colocasse em foco sua raiva disfarçada de uma inteligencia poética urgente, divertida e destemida. 'Blondshell' representa um sucesso abrangente em diversos aspectos. É raro que artistas em ascensão tenham a chance de experimentar, reajustar seu som e permitir que suas experiências pessoais se manifestem organicamente na música. E isso acontece aqui de forma brilhante com canções que irão martelar por muito tempo em sua cabeça.


35 - Duran Duran – Danse Macabre


Lançado perto do Dia das Bruxas, este é mais um sinal de que o Duran Duran está mais do que vivo. Seus últimos álbuns talvez não alcancem o status dos que moldaram a identidade da banda, mas os fãs podem se considerar privilegiados por ainda receber lançamentos de qualidade.


O disco é bastante divertido e brinca com a temática das músicas de Halloween. A faixa-título é especialmente feita para dançar. Além disso, o cover de "Psycho Killer", com a participação de Victoria De Angelis, do Maneskin, demonstra que o Duran Duran ainda tem o talento para criar covers de qualidade – um feito notável, especialmente considerando o álbum "Thank You" de 1995, que foi, sem dúvida, uma experiência aterradora.


34 -Sleaford Mods – UK Grim


O Sleaford Mods já está em seu décimo segundo disco, despejando acidez e agressividade, mas com muita maturidade. Com letras de cunho político e críticas contundentes ao Reino Unido, a dupla esbanja rimas com um pano de fundo sonoro minimalista.


O álbum também vale a pena para conferir as participações especiais de Florence Shaw (Dry Cleaning), Perry Farrell e Dave Navarro (Jane's Addiction). Provavelmente, o disco conquistou um lugar de destaque na lista pessoal de Iggy Pop. Ele costumava incluir semanalmente uma faixa do Sleaford Mods em seu programa na BBC Radio, o Iggy Confidential.



33 - Lakecia Benjamin - Phoenix


Lakecia Benjamin é uma talentosa e espetacular saxofonista de jazz que tem mostrado e aprimorado cada vez mais sua arte musical ao mesclar o gênero com outros, como hip-hop e soul, sem deixar de lado as referências dos elementos tradicionais do próprio jazz. O que torna seu som envolvente e único. A prova está no fato de que já tocou com grandes artistas da música, como Stevie Wonder e Alicia Keys, e lançou um álbum fantástico em 2020, "Pursuance: The Coltranes", no qual presta homenagem aos gênios John Coltrane e Alice Coltrane, que são grandes referências para ela.


No entanto, a jazzista estadunidense sofreu, em 2021, um grave acidente de carro, o que fez muitos se preocuparem com a artista, a ponto de não saberem se ela conseguiria se recuperar. Para surpresa de todos, ela se recuperou muito bem e, três semanas depois, estava realizando uma turnê na Europa para mostrar sua volta por cima. Esse renascimento em termos discográficos veio em 27 de janeiro de 2023 com o álbum 'Phoenix'.


32 - Jessie Ware - That! Feels Good!


Jessie Ware é uma cantora e compositora britânica nascida em 15 de outubro de 1984, que realiza um trabalho cuidadoso com a música e demonstra uma notável evolução. Antes de se dedicar integralmente à música, sua primeira incursão profissional foi no jornalismo, tendo trabalhado por um tempo no conceituado jornal “The Daily Mirror”.


Quando decidiu se dedicar completamente à música, seu percurso inicial foi gradual, até o ano de 2017, quando lançou “Glasshouse”, seu terceiro disco de estúdio que incluía a faixa "Midnight", um mega hit que marcou a década de 2010. Três anos depois, em 2020, ela lançou “What’s Your Pleasure?”, seu quarto e excelente álbum com fortes referências da Disco Music e Música Eletrônica em um pop maravilhoso de se ouvir. Agora, em 2023, ela mantém o alto nível com o ótimo “That! Feels Good!”, acrescentando ao seu som elementos de Soul e R&B clássico de forma acolhedora, deslumbrante e refinada.


31 - Gorillaz - Cracker Island


O álbum começou a ser gravado em 2021, mas só foi lançado em fevereiro. Foi muito bem recebido pela crítica e vale a pena, especialmente pelas participações especiais, como Thundercat, Stevie Nicks, Bad Bunny, Beck, entre outros.


Com um estilo dançante, por vezes semelhante às bandas pós-punk dos anos 80, o álbum representa um retorno esperado para quem sentia falta do projeto. Sempre proporcionando entretenimento e hits, talvez de forma menos pretensiosa do que nos primeiros discos.


Para quem quer dar um up nos ânimos e dançar, recomendo ouvir a faixa-título e a sensacional "New Gold".


30 - Yo La Tengo – This Stupid World


Uma das melhores bandas de Indie do mundo, o Yo La Tengo é uma das inúmeras bandas que têm histórias de álbuns projetados em 2020 que só foram finalizados e lançados recentemente.


Outra característica do disco é que ele foi gravado de forma totalmente independente, dispensando a parceria de algum produtor: a própria banda assina a produção. Apesar de todos esses anos de estrada, a banda não abandonou a sonoridade característica de décadas atrás e músicas como “Sinatra Drive Breakdown”, “Fallout” e “Stupid World” nos trazem à memoria aquela guitarra distorcida que tanto ouvimos no grunge, indie e demais estilos alternativos noventistas. É um disco pesado, ruidoso e dolorido de ouvir. Por isso, agradecemos!


29 - Fito Paez - EADDA9223


O argentino Rodolfo Páez, mais conhecido como Fito Páez, é um dos nomes mais importantes da história do rock argentino. Em 2023, ele tem muitos motivos para comemorar, tanto na vida pessoal quanto na profissional. Na vida pessoal, ele mantém uma relação muito boa com seus filhos, está noivo da atriz Eugenia Kolodziej e completou 60 anos em 13 de março. Já na vida profissional, lançou discos muito bons e está sendo homenageado na minissérie "Fito Páez: El Amor Después del Amor", uma produção da Netflix Argentina, cujo nome em português é "Amor e Música: Fito Páez". Além disso, decidiu reviver seu clássico álbum "El Amor Después del Amor" em "EADDA9233", um lançamento muito bem feito, repleto de muitas participações especiais, para espalhar mais amor e arte pelo mundo em 2023.


Para quem não sabe, o disco "El Amor Después del Amor", lançado em 1992, é considerado atualmente como o álbum mais vendido e aclamado da história do rock argentino. Com vendas expressivas e elogios, o álbum conta com diversas participações especiais, que vão desde Mercedes Sosa até Charly García e Gustavo Cerati. Sua sonoridade é notável, e o álbum figura nas mais importantes listas de música devido à sua alta qualidade.


No novo trabalho, Páez resgatou e atualizou esse registro de forma magnífica, com a presença de músicos novos da cena musical argentina, artistas renomados do rock argentino e artistas de outras nacionalidades. Isso faz com que todos se sintonizem com a sonoridade desse álbum, que merece ser ouvido e divulgado, marcando a presença de encontros marcantes e sons simplesmente magníficos.


28 - Birdy – Portraits


Por ter sua formação iniciada no piano, podemos dizer que muito da sonoridade de Birdy se enriquece por panoramas acústicos e orquestrados.


Entretanto, a cantora sabe flertar com o Pop-Rock e coloca o ouvinte sorridente em faixas dançantes regadas por um sabor 80’s como ‘Paradise Calling’, ‘Ruins I’ e ‘Automatic’. Um disco para ser apreciado como um todo, sem o infeliz hábito de pular faixas. Enaltece o espírito de resgatar o velho exercício lá dos anos 80/90 quando o prazer de descobrir um álbum inteiro era típico de nossas vidas.


27 - Iggy Pop - Every Loser


Em 'Every Loser', Iggy Pop abraça todas essas vertentes do rock pesado e joga uma brisa enérgica em sua carreira. Aos 75 anos, o roqueiro demonstra energia de sobra e esbanja vitalidade em seus vocais precisos e inconfundíveis. Quando muitos de seus colegas de geração já estão mortos ou relembrando seus sucessos para continuar em turnê pelos estádios, o eterno espírito livre do rock promete um álbum feito à moda antiga, que vai “dar uma surra sonora em você”.


Ao lado do produtor Andrew Watt, conhecido por já ter trabalhado com artistas como: Miley Cyrus, Morrissey e Elton John. Watt não tenta modificar Iggy Pop em algo que ele não é, mas dá a ele a liberdade para ser todo Iggy Pop que quiser ser.


A música na vida de Iggy pode muito bem ser sinônimo de resistência e existência. Uma notória celebridade do punk que sobreviveu aos efeitos do tempo e se tornou uma referência para novos artistas e continua a disseminar sua música com maestria e paixão de um jovem eufórico e destemido, mantendo acesa a chama de sua geração.


'Every Loser' é uma comemoração excentricamente alegre da vida de alguém que sabe por que você não deve desperdiçar nenhum momento, ou talvez ele apenas esteja cumprindo a profecia que cantou em "Kill City". "Se eu vou morrer aqui, primeiro vou fazer barulho".


26 - Belle And Sebastian - Late Developers


Ouvir Belle & Sebastian é mergulhar em canções agridoces, melodias serenas e suaves daquelas que chegam a ser possível escutar o dedilhar dos dedos no violão. Para uma banda que surgiu em meados dos anos 90, de maneira improvisada por músicos de Glasgow, essa sonoridade melódica construída através de letras poéticas e inteligentes, figurando personagens icônicos que se entrelaçam com a vida real, foi o estopim para a Belle moldar o som do indie pop da época e conquistar os corações aficionados por música.


De uma banda como Belle & Sebastian, pode se esperar de tudo. De surpresa, Stuart Murdoch e sua turma, lançaram ‘Late Davelopers’ (2023), um disco que, de primeiras impressões, parece revisitar o legado da banda de álbuns já mencionados aqui neste texto. Não é aquele disco que te pega logo de início, entretanto, conforme você vai dando chances ao álbum, a nostalgia e magia de canções como “When we Were Very Young” vai espalhando o sabor do disco, e logo, logo você começa a se entregar a proposta da obra.


O segundo álbum dos veteranos do indie pop em um período de doze meses resgata o espírito de ótimas canções pop e "tempera" tudo isso com toques de suavidade, trazendo vitalidade para 'Late Developers'. Um retorno satisfatório a boa forma do Belle & Sebastian. É o disco mais recompensador da banda de Glasgow desde 'The Life Pursuit', de 2006.


25 - Sobs - Air Guitar


Celine Autumn, Jared Lim e Raphael Ong formam o trio enérgico de Singapura, Sobs, o grupo mergulha agridocemente nas raízes nostálgicas de sons de guitarras ensolaradas e vocais adocicados. Ouvir a banda é como fazer uma viagem atualizada ao passado e surfar nas ondas gostosas do power pop. O Sobs é como se fosse um oásis ensolarado na paisagem melancólica da cena indie de Singapura.


O trio chegou ao seu segundo disco intitulado ‘Air Guitar’, sucessor do marcante e envolvente ‘Telltale Signs’ de 2018. O novo trabalho conquista e cativa o ouvinte logo de cara com a faixa-título (Air Guitar) que entrega as melhores aspirações da música pop com sons de guitarras nostálgicos e melódicos. As canções da banda falam de sentimentos íntimos e com isso conseguem selar uma maior proximidade com o ouvinte. A cada música, você se deixa levar pelo ritmo e acaba se transportando do passado ao presente.


24 - M83 - Fantasy


A mistura saborosa entre o shoegaze e o Synth-Pop cristaliza um clima espacial e psicodélico, deixando aquela agridoce sensação de uma ambientação apocalíptica, algo meio cinematográfico mesmo. Canções como "Water Deep", que abre o trabalho sendo seguida pela climática e sedutora "Oceans Niagara" reforçam essas paisagens com aquele certo frescor sugado do Krautrock. Uma sequência perfeita, uma faixa acaba dando folego para a outra voar cada vez mais alto, levando o ouvinte junto nessa viagem onírica entre realidade e sonhos. "Amnesia" é marcada por ótimos sintetizadores e vocais espaciais que emulam os momentos mais emocionantes do álbum ‘Saturdays= Youth'.


Em 'Fantasy' o M83 brinca com os ritmos e elementos, alterna de nostalgia para instantes mais alegres e firma os pés no shoegaze e synth-pop, brindando o ouvinte com belas canções e melodias. "Sunny Boy" é um bom exemplo dessa diversidade de ritmos densos com camadas suaves e climáticas. Na verdade, isso se espalha por todo o trabalho como se oferecesse uma catarse necessária dividida em suavidade e tempos enérgicos, onde se encontra a verdadeira força sonora de Gonzalez. Não é um disco simples, ele exige sua atenção e cobra isso conforme vai avançando, é preciso embarcar e mergulhar na viagem proposta pelo álbum.


23 - Romy - Mid Air


Produzido com maestria por Jamie xx, Fred Again e Stuart Price, o álbum de estreia solo de Romy Madley Croft apresenta faixas vibrantes de house e trance, combinando habilmente elementos pop inteligentes e letras pessoais.


'Mid Air' apresenta uma Romy solta e livre, como se estivesse saindo da sua própria escuridão direto para a luz, com canções euforicas que apresenta um lado vibrante da cantora que atua como vocalista do The xx há mais de uma década.


O álbum se destaca como uma possível trilha sonora para o auge de uma festa ou para uma crise existencial alimentada pela ressaca do dia seguinte, algo verdadeiramente incomum. Se considerarmos o intervalo entre os álbuns do xx como um período de inatividade, Madley Croft está fazendo uso desse tempo com discernimento.



22 - Squid – o Monolith


Sem se desviar por completo dos trilhos do Pós-Punk Revival, o segundo trabalho da banda mostra uma lapidação sonora orientada para se aproximar de paisagens mais límpidas, menos cruas e mais texturizadas, dispostas a seguir por outros gêneros. Uma daquelas obras em que o autor faz questão de reestruturar alguns conceitos e métodos, embora nada seja fácil na primeira audição.


Mais curto que seu antecessor, porém não tão menos merecedor de várias audições, assim é “O Monolith”. Uma daquelas obras em que o autor faz questão de reestruturar alguns conceitos e métodos, mas que certamente não serão tão assimilados prontamente pelo receptor, aqui, neste caso, o ouvinte. Tudo bem, temos até o terceiro disco para fazer isso acontecer.


21 - bar italia - Tracey Denim


O trio londrino, conhecido por sua prolífica produção, inicia uma jornada promissora e imaginativa com seu primeiro álbum lançado pela Matador Records.


Antes de conquistarem reconhecimento como uma das bandas pós-punk mais cativantes de Londres, o Bar Italia dedicou anos construindo seu caminho com paciência. O trio, composto por Nina Cristante, Jezmi Tarik Fehmi e Sam Fenton, lançou diversos trabalhos pelo inovador selo World Music de Dean Blunt, incluindo o álbum de estreia 'Quarrel' e o subsequente EP 'Angelica Pilled' em 2020. O segundo álbum, intitulado 'Bedhead', surgiu rapidamente no início de 2021, seguido pelo lançamento de três singles independentes em 2022: 'Banks', 'Miracle Crush' e 'Polly Armour'.


‘Tracey Denim’ foi produzido e gravado pela própria banda com mixagem de Marta Salogni, conhecida por trabalhar com Black Midi e M.I.A.


‘Nurse!’ o primeiro single hipnótico do álbum, é uma faixa ousada e irresistivelmente estilosa, alternando entre momentos intensos e pausas inesperadas. O impulso da música é impulsionado por guitarras estridentes, complementado por uma distorção vibrante, mas prazerosa, que a conclui de maneira marcante. A banda já foi comparada ao The Cure e Joy Division.


20 - Teenage Fanclub - Nothing Lasts Forever


O título do álbum "Nothing Lasts Forever" pode parecer inusitado para o Teenage Fanclub, uma banda dedicada a manter viva a sonoridade e a sensibilidade da explosão do guitar-pop dos meados da década de 1960.


Apesar do título, há uma sensação de resolução, como se o grupo tivesse abraçado a natureza efêmera das mudanças. Eles abordam esse tema desde o início com "Foreign Land", uma faixa serena que se inicia com Blake expressando: “É hora de seguir em frente/E deixar o passado para trás”.


Mesmo adotando uma abordagem mais madura e centrada, a banda britânica não negligenciou a vitalidade, entregando um novo álbum que destaca que a produção musical de alta qualidade continua viva e pulsante.


19-Beirut – Hadsel


Numa década (2000-2010) em que muitos grupos e projetos musicais chegariam para se tornar fortes no cenário musical, Beirut trouxe uma musicalidade diferenciada e ousada dentro do panorama indie que começava a mostrar seus grandes expoentes.


Zach Condon criou esse disco após passar por problemas de saúde e se isolar na remota e bucólica ilha de Hadsel na Noruega. O resultado é mais um trabalho repleto de boas melodias com arranjos requintados. Em sua busca por cura e recuperação é Zach Condon que nos receita o medicamento necessário para muitos momentos da vida: a música que conforta e que alimenta nossa vontade de sempre reverenciar essa arte.

18-Sufjan Stevens – Javelin


O americano Sufjan Stevens tem uma carreira incrível. Chegando a três décadas de atividade, o compositor é inquieto, ousado, multifacetado, participou de muitas colaborações com outros artistas/grupos e sempre é lembrado quando o assunto se trata de novos nomes que mudaram o cenário musical pós-2000.


Outro músico que passou por um momento bem conturbado em sua vida. Novamente, umdisco do cantor que exige múltiplas e atentas audições. As estruturas sonoras são complexas, difíceis de grudar de primeira em nossas mentes. Camadas, texturas e instrumentos que surgem e crescem gradativamente, que se misturam em harmonias intrincadas. Não podemos nos esquecer das letras, muitas das quais dialogam com o ouvinte ao tratar de termas tão comuns a todos como solidão e velhice.


17-Mudhoney - Plastic Eternity


Grandes bandas conseguem se ajustar às transformações, e é inegável que o Mudhoney se destaca como uma verdadeira grande banda.


Em 'Plastic Eternity', o Mudhoney investe menos em músicas rápidas e pesadas, apesar de incluir faixas como "Almost Everything" e "Here Comes the Flood". Em vez disso, dedicam mais tempo ao trabalho midtempo robusto que tanto apreciam, utilizando instrumentos adicionais para enriquecer a experiência sonora.


O trabalho evidencia a capacidade da banda de nos surpreender, inclusive a si mesmos, mesmo após 35 anos de carreira. Diante dos resultados alcançados, parece claro que esta não será a última vez em que eles nos proporcionarão momentos surpreendentes.


16- SZA - SOS


SZA transforma 'SOS' em um álbum que funciona como uma jornada para um território profundamente pessoal e íntimo, ao mesmo tempo em que ressoa com as aflições do ouvinte. As composições capturam uma sensação de crescimento, superação e evolução pessoal.


A trajetória da estrela norte-americana é inovadora é notavelmente diversificada, transitando desde o pop-punk até nuances inspiradas no Radiohead. As canções transitam de questões pessoais para dilemas universais, ao mesmo tempo em que SZA se coloca diante de desafios tanto como artista musical quanto como figura pública.


*Vale ressaltar que o disco foi lançado em 9 de dezembro de 2022. No entanto, como muitas listas, inclusive a nossa, já estavam fechadas, fica a consideração.


15- Gaz Coombes - Turn The Car Around


Gaz Coombes pode ser aquele músico o qual a carreira solo possa ter passado despercebida aos diversos ouvidos e holofotes da vida. Se formos parar para analisar, são mais de 30 anos à frente do grupo Supergrass e mais de dez em carreira solo. Acontece que Coombes não fez tanta polêmica quanto um Gallagher e nem se mostrou ser prolífico quanto um Damon Albarn, apesar de Coombes ter uma linha memorável de composições que balançam entre baladas tristes e outras mais enérgicas, em qualquer circunstância, ele pode te fazer sair cantando por aí, seus versos líricos e pontuais que são muito bem ancorados por sua voz agridoce e agradável.


O disco está repleto de mudanças sutis de camadas e texturas, o que torna o trabalho distinto dos álbuns anteriores de Gaz, mas, ao mesmo tempo, ele contém um instinto viajante e libertador, o que faltou em ‘World’s Strongest Man’ de 2018. Esses temperos enaltecem a doçura de faixas pop como “Dance On” que fecha esse belo registro de um músico destemido que consegue expandir sua música sem muitos esforços e sem sair por aí gritando seu talento de composição. Tudo que Coombes não quer nesse momento é fazer barulho e com isso de alguma maneira ele consegue soar jovial novamente feito um adolescente ouvindo "Alright".


14- JFDR - Museum


JFDR é o pseudônimo da cantora, compositora e multi-instrumentista islandesa Jófríður Ákadóttir. Artista essa que já participou dos grupos Samaris e Pascal Pinon. Detalhe importante que nesta segunda banda citada, ela tinha apenas 14 anos de idade. Muito ligada com o cinema, fez trilha sonora para séries de TV e filmes. Também compôs algumas músicas para o jogo Death Stranding (2019).


JFDR assegura a Islândia como um celeiro da boa música. Uma garota que desde a adolescência sentiu a necessidade de colocar sua música para ir além de seu país e para cair no gosto do ouvinte, tanto do Pop-Rock como do Clássico. Museum é a conquista do sonho dessa garota que cresceu, amadureceu e que se agiganta na sua arte de nos saudar com boa música.


13- Lana Del Rey - Did You Know… Under Ocean Blvd


Com 37 anos, Lana Del Rey apresenta uma maturidade embasada pela experiência de vida e fatos do mundo que a cercam como artista mulher. A maioria das letras de ‘Did You Know That There’s A Tunnel Under Ocean Blvd, seu nono álbum de estúdio, dissertam sobre família, sua vida, lar, presente e futuro. Tudo isso com uma abordagem pessoal e sonoramente falando, exemplar e impactante. Lana sempre teve uma afeição pela morte, chegou a dizer isso em entrevistas em 2014. Álbuns como ‘Norman Fucking Rockwell!’ de 2019, ou em ‘Born To Die’ de 2012, o assunto morte está presente, porém, agora, ele deixa de ser aquela ponta emergente em sua obra e assume o protagonismo para que a artista trace reflexões sobre sua vida e o conturbado relacionamento com a família.


'Did You Know...' é longo e totalmente emocionante. Em certos momentos cru. Repleto de passagens e camadas vibrantes e oníricas que se transformam em canções profundas como se fossem a estrutura de um universo labiríntico rodeado por passado, presente e futuro. Existem questões existenciais, mas também contém notas de diversão. Não é atoa que Lana Del Rey é tida como uma das compositoras mais intrigantes da música pop moderna.


12-Wilco - Cousin


O 13º álbum da banda apresenta uma notável familiaridade com 'Yankee Hotel Foxtrot' No entanto, a presença de Le Bon na função de produtora adiciona um intrigante toque de excentricidade ao trabalho, enquanto as letras refletem as preocupações e inquietações de um homem mais maduro. Talvez seja o disco do Wilco com o poder e teor político mais acentuado. A banda permanece atenta aos acontecimentos do mundo, ao mesmo tempo em que colhe os frutos da vivência e do envelhecimento.


No entanto, uma coisa que o Wilco nunca perdeu é a sua habilidade de criar ótimas canções e explorar todos os limites de sua criatividade. A chama que foi acendida com "Yankee Hotel Foxtrot" ou "Sky Blue Sky" em 2007 está mais vibrante do que nunca. As canções melancólicas sempre foram um bálsamo em sua discografia, sendo profundas e repletas de paixão pelo que fazem. Isso fica evidente logo na faixa de abertura, "Infinite Surprise", com toques experimentais e uma atmosfera climática envolvente, daquelas que só eles sabem conduzir de maneira inspiradora. Algo nessa canção soa desconexo, passando a imagem de uma demo ao estilo Talking Heads.


A faixa-título evoca todos esses detalhes e fragmentos, que, quando são unidos com aquele toque agridoce, expandem a capacidade da banda de transitar por arranjos simples e experimentais. E essa mutação do Wilco sempre gera belos frutos.


Aqui temos uma banda que continua avançando de forma única mesmo após três décadas de carreira, o que por si só é uma surpresa infinitamente cativante.


11- Sigur Rós - ÁTTA


Desde a abertura com a instigante "Glóð", que abre muito bem essa jornada, dando o espaço necessário para a comovente e bonita "Blóðberg" crescer com sua melodia terna e íntima ao mesmo tempo. Essa é aquela canção que vai te levar para vários mundos distantes sem que você saia do lugar. Não é surpreendente que Jónsi tenha reconhecido a crise climática como a principal fonte de inspiração para o niilismo expresso em 'ÁTTA'. Além disso, não é coincidência que o Sigur Rós tenha convidado Johan Renck, um diretor renomado conhecido principalmente por seu trabalho na minissérie Chernobyl para conduzir o clipe de "Blóðberg".


'ÁTTA', com certeza, pode ser considerado um dos melhores álbuns do Sigur Rós desde o monolítico 'Takk...' de 2005. Experimente encontrar um lugar tranquilo, sem barulhos, pegue seu fone de ouvido e mergulhe profundamente nessas canções maravilhosas, belas e emocionantes. Um disco que acrescenta mil motivos para o Sigur Rós existir nesse mundo cada vez mais frio e insensível.


10- Blur -The Ballad Of Darren


'The Ballad Of Darren' é marcado por canções melancólicas, que lidam abertamente com a nostalgia, mas não aquela coisa envolvendo passado; a nostalgia aqui é caracterizada pela tristeza de envelhecer, aquele sentimento que martela na cabeça e te deixa acordado a noite. O próprio Damon revelou em uma entrevista recente sobre o novo disco que ele é uma pessoa "muito mais triste aos 50 anos" e que vem aprendendo a ficar confortável com sua melancolia. Isso talvez explique e justifique sua inquietação na música. Mesmo ausente do Blur, o músico não parou: se envolveu em diversos projetos com a música africana, lançou álbuns solos e ainda manteve o Gorillaz ativo. Enfrentou problemas com drogas e encontrou uma luz para não chegar ao fundo do poço com a ajuda da prática de yoga.


Se "The Ballad" abre o disco jogando uma brisa melancólica, suave e tranquila, "The Heights" fecha com barulhos e inquietações, onde o clímax parece nunca chegar ao fim, deixando aquela sensação instigante do que esperar do Blur no futuro. Os momentos finais da canção, de uma certa maneira, cria uma conexão empolgante com "Ashes Of American Flags" do belo 'Yankee Hotel-Foxtrot' do Wilco.


"The Narcissist" é uma das canções mais bonitas do Blur de todos os tempos e, com certeza, uma das músicas mais lindas desse ano. A canção foi lançada como o principal single que apresentou o disco para o mundo e emocionou o público durante os shows em Wembley. Uma faixa que pode agradar os fãs mais devotos dos primeiros álbuns da banda.


Um Damon Albarn de peito aberto, expondo suas fragilidades e conflitos internos, e isso é sentido em cada linha tocada e cantada do álbum. Como ele mesmo disse em entrevistas, "Está tudo bem, estou confortável com a melancolia".


9- Peter Gabriel - i/o


Ao invés de simplesmente lançar seu primeiro disco com material inédito desde 2002, Peter Gabriel adotou uma abordagem única ao longo de um ano, apresentando uma nova música para cada fase de lua cheia. O resultado final, "i/o", representa uma contribuição significativa do ex-vocalista do Genesis, que aborda a condição humana com uma positividade marcante, perspicácia e vocais maravilhosamente preservados.


Cada faixa apresenta uma fusão de elementos positivos e sombrios, embora a generosidade de espírito de Gabriel seja algo que transcende a capacidade de ser amalgamada, pois ela ilumina cada aspecto, tanto dentro quanto fora da música. O disco também pode muito bem ser uma forma inteligente e divertida de proporcionar aos ouvintes a experiência de trocar de lugar com o artista. Considerando o tempo que levou para a obra ser concluída (20 anos), você talvez consiga sentir na pele os elementos que constroem uma atmosfera e a identidade de uma canção pop.


Um disco leve, solto e menos denso e carregado que seu trabalho anterior, UP de 2002, que contém uma carga mas pesada e depressiva. "i/o" pode muito bem ser aquele disco que todos nós precisavamos antes do ano acabar.


8- Depeche Mode - Memento Mori


O trabalho é composto por 12 faixas densas, sentimentais e profundas. “Ghosts Again" tem uma sonoridade forte que fala sobre as perdas da vida em uma letra que tem um teor sentimental forte por conta de suas despedidas e tristezas. O ouvinte parece estar no ótimo filme de 1957 “O Sétimo Selo”, do renomado cineasta sueco Ingmar Bergman, onde o videoclipe da música usufrui desse elemento de forma incrível e magnífica. “People Are Good” é um som leve, interessante e minimalista, que parece uma mistura bem feita de Daft Punk e Kraftwerk.


Comovente, experimental e surpreendente são alguns dos adjetivos que definem o décimo quinto álbum da banda, um trabalho desafiador e sentimental. Entretanto, mesmo carregado por uma áurea pesada, o Depeche Mode se mostra afiado em expandir sua sonoridade muito além dos fantasmas endossados pela dor e tristeza de perder alguém próximo. Eles ainda podem ser considerados uma ótima referência para o Synth Pop.


7- The National - First Two Pages Of Frankenstein


Este álbum marca um novo começo para a banda, que mostra sua capacidade de criar música tanto para si mesmos quanto para o mundo. Berninger confessa em letras honestas e verdadeiras seus momentos mais tenebrosos e difíceis e encontrou um refúgio nessas canções para expressar suas emoções mais profundas. Em "Tropic Morning News", ele canta com brutal honestidade sobre sua tristeza, encontrando força para compartilhar suas partes dolorosas com o mundo. “Não há nada que me impeça agora, de dizer todas as partes dolorosas em voz alta”, canta ele em um dos versos da canção. Este é um disco que representa um momento de renovação para o The National, com Berninger podendo enfrentar suas emoções e usar a música como uma forma de cura e libertação.


 "New Order T-Shirt" é uma bela prova desta estética, embora ela não seja exatamente nova - evocando a época de High Violet - a habilidade na execução é combinada com uma perspectiva brilhante, permitindo que a canção se sirva de uma atmosfera melancólica ou uma experiência gratificante para quem a ouvir com a devida atenção.


'First Two Pages...' demonstra o que torna essa banda tão popular e relevante mesmo após duas décadas de carreira. O novo trabalho mostra o grupo retornando às suas raízes e entregando sua melhor performance. É uma prova da habilidade da banda em explorar os limites de sua sonoridade, mantendo-se no topo da cena musical. Para uma banda que estava em crise existencial, este disco nos mostra que a permanência no abismo da alma pode ser escuro e doloroso, mas a escalada pode apontar o seu melhor lado.


6- PJ Harvey - I Inside The Old Year Dying


Após um longo hiato de sete anos, finalmente fomos agraciados com um novo álbum da renomada e emblemática PJ Harvey. E posso dizer, sem receio algum, que a espera para colocar os ouvidos e alma em 'I Inside The Old Year Dying' valeu cada minuto, a jornada do novo trabalho começa com as vivências e experiências do seu disco anterior, 'The Hope Six Demolition Project' (2016). Após uma intensa jornada artística com 'The Hope Six...', entre viagens por lugares devastados pela guerra e pela pobreza extrema, Harvey se viu em um enorme dilema sobre seu futuro na música. O processo imersivo e criativo de criar um álbum que retratava duras realidades de forma crua e complexa foi emocionalmente esgotante, levando-a a repensar sua trajetória.


'I Inside The Old Year Dying' nasceu do seu mais recente livro de poesia, Orlam, de 2022, e é efetivamente uma coleção de doze poemas musicados - e Harvey apresenta uma entrega exuberante, é como se ela tivesse encontrado a verdadeira liberdade diante dessa obra indescritível e hipnotizante. Aqui, estamos de frente de uma compositora livre das amarras do caminho convencional para se colocar um disco no mundo, e isso deixa a experiência mais fluida, uma jornada de autoconhecimento que coloca uma Harvey no centro, revelando sua essência mais profunda agraciando o ouvinte com uma fusão harmoniosa entre palavras, melodias e emoções.


A rica linguagem, que sofre constantes mutações, e o poder imersivo desta obra conquista por completo o coração do ouvinte. Demora um pouco para mergulhar no mundo de Harvey, mas uma vez lá, você não vai querer sair. Prepare-se para uma jornada musical envolvente e apaixonante, enquanto você se entrega às melodias e histórias cativantes desse álbum extraordinário.


5- Rolling Stones - Hackney Diamonds


A essa altura, a velhice já concedeu a percepção dos limites todos que o tempo e a vida determinam. A voz de Jagger ainda impressiona e foi muito bem explorada no trabalho de Andrew Watt. Isso é bastante notável na lindíssima balada "Depending On You", candidata à faixa mais emocionante do álbum. Uma das grandes músicas de 2023. O vocal segura aquele feeling todo ao qual tanto nos acostumamos a ouvir na privilegiada coleção de baladas da trajetória do grupo, que faz com que a canção se equipare à ótima e igualmente bonita "Out of Tears", por exemplo, que faz parte do marcante 'Voodoo Lounge' (1994), o álbum - não custa lembrar - cuja turnê os trouxe pela primeira vez para a nossa terrinha, em 1995.


'Hackney Diamonds' encara o tempo, mas não o teme e se beneficia das possibilidades que a vida ainda permite, embora demonstre alguma reflexão sobre um certo prazo que não se estenderá tanto. Aproveitemos. Os Stones são do nosso tempo. E esse tempo é agora!


4- Arlo Parks - My Soft Machine


Arlo Parks continua destilando sua música carregada por uma força poética e descritiva sobre os anseios da juventude e romances dotados de momentos melancólicos e isso emana agridocemente em suas canções. Foi assim com seu primeiro e elogiado disco 'Collapsed In Sunbeams' de 2021 e a história se repete positivamente no tão aguardado disco ‘My Soft Machine’ de 2023. Durante grande parte dos anos de 2021 e 2022, ela esteve constantemente na estrada, incluindo uma série de apresentações com Clairo e participações em shows de abertura para Harry Styles e Billie Eilish.


Ao longo dessa jornada, ela decidiu deixar Londres para se estabelecer em Los Angeles. No entanto, sua intensa carga horária de trabalho teve um impacto negativo em sua saúde mental, levando-a a cancelar diversos shows em setembro de 2022 para poder desacelerar e se recuperar. Em seu segundo álbum, intitulado 'My Soft Machine', ela mergulhou profundamente nas turbulências emocionais com o que está lidando enquanto atravessa as mudanças drásticas de sua vida.


As bases do disco se sustentam por camadas Pop Rock, Bedroom Pop e passando pelo R&B e Soul. São aspectos que fizeram de Parks uma das mulheres que despertaram o talento no fundo da própria alma e o resultado desse colapso criativo alcança dimensões incalculáveis. "Blades", emula toda a melancolia que emana das vivências da cantora.


3-Mitski- The Land Is Inhospitable and So Are


Mitski é sempre sinônimo de lindas canções e melodias que impregnam na alma com aquela paisagem melancólica e tristonha que embalam sentimentos e emoções. Para uma cantora e compositora que iniciou sua trajetória como a porta-voz de uma geração alienada, marginalizada e romanticamente triste, seu álbum de estreia 'Lush' de 2012 caiu como uma luva nos corações de uma leva de roqueiros indies desiludidos com a vida, em busca de canções que sintetizassem seus mais íntimos sentimentos. Camadas que foram cada vez mais ganhando uma tonalidade brilhante com guitarras indie rock forjadas em 'Be The Cowboy' de 2018.


E junto com ele veio o silêncio, a voz angelical se calou por aproximadamente quatro anos e quebrou o gelo com um disco repleto de texturas brilhantes e guitarras indies. 'Laurel Hell', de 2022, trouxe de volta a voz de Mitski renascida das cinzas feito a ave fênix e apresentou para sua legião de fãs canções como "Valentine, Texas". Era tudo que faltava para ela entrar no Top Five da Billboard 200 e chegar pela primeira vez ao Top 50.


Pouco mais de um ano do seu retorno ao cenário Indie, a musicista está de volta com um disco mais silencioso e orgânico, com uma ambientação acústica trazendo elementos do Folk que emulam uma atmosfera bossa-nova. 'The Land Is Inhospitable and So Are', que ganhou o mundo ontem, 15 de setembro, é um título mais que perfeito para nossos dias atuais. Em tradução livre, já causa um impacto imediato: 'A Terra é Inóspita e Nós Também'. Olhando para os últimos acontecimentos do mundo e para o nosso dia a dia inseridos em um cenário cada vez mais caótico, hostil e melancólico, o título já faz uma leitura precisa da vida e como ela está.


No fim de tudo Mitski está nos dizendo que existe a dor e a solidão, mas também existe o amor e está tudo bem, eles fazem parte dos ingredientes que vão construindo nossa história nessa longa ou curta jornada chamada vida. A Terra pode ser um lugar Inóspito, mas se você persistir, vai perceber as experiências que ela oferece: momentos difíceis e alegres, a decisão de aceitar o amor e a convicção de que, no final das contas, tudo terá valido a pena.


2-Slowdive - Everything Is Alive


Em tempos onde Spotify e Deezer são responsáveis pela informação musical de muitas pessoas, entender o sentido de capas e títulos de álbuns, tenha talvez, perdido a relevância para a maioria dos ouvintes. O que pode ser um erro, em algumas ocasiões. Muitas vezes a mensagem pode ser entendida logo ali.


Caso do novo trabalho dos ingleses do Slowdive, “Everything Is Alive”. Tudo está vivo. Essa é a visão da banda pretendendo seguir adiante, a bela mensagem que chega e que, com todo carinho, nos é transmitida por melodias, vibrações, letras e a união de músicos talentosos.


Chegando após eventos pesados e trágicos para a banda, o quinto álbum mostra a importância de quem continua vivo seguir fazendo o que gosta, de compartilhar com um mundo onde todos, sem distinção, perdem alguém estimado ou precisam lidar com situações complicadas. A banda faz de sua maturidade e paixão por Música uma alavanca para seguir adiante, transmitindo uma mensagem de agradecimento e reflexão sobre essa jornada chamada vida.


O importante é o futuro. Os próximos tempos. Cada dia acordar e contemplar mais trabalhos assim que nos concedem a importância de estarmos vivos e ao lado de quem também queremos vivo. Ter a necessidade de viver após momentos difíceis e enevoados de nossas vidas. Isso o Slowdive faz bem e consegue passar sua mensagem com responsabilidade e confiança.


1-boygenius - The Record


Apesar de ter se formado em 2018 com o lançamento do EP "boygenius", o primeiro álbum do grupo só foi lançado em 2023, pois as três artistas estavam ocupadas trabalhando em seus respectivos álbuns solos. Julien Baker lançou "Little Oblivions" em 2021, Phoebe Bridgers lançou "Punisher" em 2020 e Lucy Dacus lançou "Home Video" em 2021.


Julien Baker, Phoebe Bridgers e Lucy Dacus possuem origens diferentes, tanto locais (por nascerem em locais diferentes dos Estados Unidos) como culturais. No entanto, elas encontraram no boygenius uma forma de fortalecer a amizade que possuem e também de criar canções de forma colaborativa. "The Record" retrata muito bem essa união, mostrando que cada uma é essencial na vida das outras, a ponto de poder influenciar no processo de criação de cada uma. O disco foi lançado em 31 de março de 2023 e foi produzido por boygenius e pela renomada produtora Catherine Marks no famoso estúdio Shangri-La em Malibu. Possui 12 faixas bem interessantes e produzidas, que merecem a audição pelo seu som e a leitura de suas letras. (Alexandre Tiago)


 

Eu não poderia deixar de comentar sobre a energia e carisma desse disco. 'The Record' é aquele tipo de obra sonora que logo de instante instaura aquele sentimento revigorante, satisfatório e emocionante que percorre por todas as canções e guitarras desse trabalho.


O supergrupo de indie-rock, formado por Julien Baker, Phoebe Bridgers e Lucy Dacus, questiona e zomba da masculinidade neste lindo e comovente álbum de estreia, recheado de lindas pérolas sonoras. O destaque notável do álbum reside no encontro dessas vozes, que ressoam de maneira clara e estão impregnadas de uma harmonia folclórica e solene — algo reconfortante. Elas atingem o ápice emocional, criando verdadeiras canções pop que penetram profundamente na alma sem pedir permissão.


Quando você percebe, já fez uma jornada por mundos sem sair do lugar. Quer comprovar o que estou dizendo? Pegue seus fones de ouvido e deixe-se levar pela jornada onírica de "True Blue". A música é um caminho sem volta, e quando você encontra algo assim, é vício na certa. (Marcello Almeida)

 

É daqueles acontecimentos em que a amizade resulta - também - num feito artístico dos mais memoráveis. Phoebe, Lucy e Julien se divertiram fazendo um dos grandes álbuns de 2023, e isso é perceptível nos shows realizados na temporada. "The Record" é um trabalho forte e sensível ao mesmo tempo, capaz de arrebatar pelas melodias lindas e as vozes inspiradas, cada uma das três com sua carga emocional particular, mas que se completam magicamente de uma maneira pouco vista na história do pop/rock.


boygenius dá aquela sacudida num cenário ainda um tanto dominado por certo viés machista, legado que persiste de certa forma, mas elas utilizam do humor esperto e da sagacidade criativa no combate aos tantos estereótipos presentes nesse universo. O próprio nome do grupo é uma alfinetada inteligente e os trajes que remetem àquela célebre foto do Nirvana para uma famosa revista nos anos 90 são uma forma de solidificar certo empoderamento girl power, sem perder a ironia ácida, sutil e certeira. "True Blue" é capaz de arrancar lágrimas de um poste. Que boygenius inspire muitas meninas em diversas garagens espalhadas por esse mundo cada vez mais esquisito. (Marlons Silva)




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