Em 'The Land Is Inhospitable and So Are', Mitski canta sobre as tristezas e alegrias da vida
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Em 'The Land Is Inhospitable and So Are', Mitski canta sobre as tristezas e alegrias da vida

O sétimo álbum da cantora nipo-americana não foge dos assuntos da solidão, que consolidaram uma base de fãs fiéis ao longo de sua trajetória.

Crédito: Ebru Yildiz

Mitski é sempre sinônimo de lindas canções e melodias que impregnam na alma com aquela paisagem melancólica e tristonha que embalam sentimentos e emoções. Para uma cantora e compositora que iniciou sua trajetória como a porta-voz de uma geração alienada, marginalizada e romanticamente triste, seu álbum de estreia 'Lush' de 2012 caiu como uma luva nos corações de uma leva de roqueiros indies desiludidos com a vida, em busca de canções que sintetizassem seus mais íntimos sentimentos. Camadas que foram cada vez mais ganhando uma tonalidade brilhante com guitarras indie rock forjadas em 'Be The Cowboy' de 2018.


E junto com ele veio o silêncio, a voz angelical se calou por aproximadamente quatro anos e quebrou o gelo com um disco repleto de texturas brilhantes e guitarras indies. 'Laurel Hell', de 2022, trouxe de volta a voz de Mitski renascida das cinzas feito a ave fênix e apresentou para sua legião de fãs canções como "Valentine, Texas". Era tudo que faltava para ela entrar no Top Five da Billboard 200 e chegar pela primeira vez ao Top 50.


Pouco mais de um ano do seu retorno ao cenário Indie, a musicista está de volta com um disco mais silencioso e orgânico, com uma ambientação acústica trazendo elementos do Folk que emulam uma atmosfera bossa-nova. 'The Land Is Inhospitable and So Are', que ganhou o mundo ontem, 15 de setembro, é um título mais que perfeito para nossos dias atuais. Em tradução livre, já causa um impacto imediato: 'A Terra é Inóspita e Nós Também'. Olhando para os últimos acontecimentos do mundo e para o nosso dia a dia inseridos em um cenário cada vez mais caótico, hostil e melancólico, o título já faz uma leitura precisa da vida e como ela está.



Quando mencionei a bossa-nova como uma das influências do disco, não é de se estranhar; a própria artista revelou em entrevistas recentes que as inspirações para 'The Land...' partiram de nomes como Caetano Veloso, Faron Young, Arthur Russel e outros.


Algo que já fica evidente logo na linda e serena faixa de abertura "Bug Like An Angel", onde a voz agridoce da cantora se funde ao som de um violão, transmitindo um ar mais caseiro e intimista, até ser quebrado por um coro de uma única palavra: "Family". Nesse momento, um ar sombrio e solitário emana de versos poéticos que traduzem nossos vários estados de espírito; em algumas linhas, a tristeza some e dá voz à alegria, assim sucessivamente. "Às vezes uma bebida é como uma família."


A próxima faixa, "Buffalo Replaced", incorpora satisfatoriamente elementos orientais que remetem a Joni Mitchell e Fiona Apple, deixando aquela mágica sensação de que estamos diante de um álbum que nasceu das dores da alma e das alegrias da vida. É como se fossem dois polos medindo forças entre uma canção e outra, causando um enorme turbilhão de sentimentos que renascem novamente em um acorde memorável. Assim como na vida, há momentos de tristeza e alegria; eles existem um por causa do outro.



O sétimo álbum da cantora nipo-americana não foge dos assuntos da solidão, que consolidaram uma base de fãs fiéis ao longo de sua trajetória. O que muda? É que ela deixa de lado um pouco as guitarras, dando mais espaço para pianos, instrumentos de cordas, violões e até mesmo orquestras. O disco foi produzido por seu colaborador de longa data, Patrick Hyland, que juntou uma fantástica banda em um estúdio ao lado de uma orquestra sensacional, e os frutos e fragmentos dessa colaboração são sentidos piamente, como algo majestoso e celestial na doce e harmônica "Heaven", uma canção que espalha a cada nota nuances de esperança contagiante, que se torna avassaladora como uma canção do mestre Neil Young. A forma como os arranjos orquestrais vão se misturando e crescendo lado a lado com a música, tornando-se cada vez mais exuberante, cria uma paisagem bucólica e linda ao mesmo tempo.



Outro ponto alto no disco é "My Love Mine All Mine". Essa é aquela que pode ser uma das canções do ano, uma faixa que embala emoções em seu ritmo lento e sereno. Se em outras canções do álbum seu coração fica em pedaços, essa música tem o poder de cura revitalizante e vai costurando as feridas com amor e com uma voz que parece vir dos céus. A perfeita sintonia entre voz e melodia.


"The Frost" embala um folk cintilante e aconchegante de ouvir que transmite uma paz emulando a vida no campo, as manhãs de céu azul, mesmo que ela cante para o vazio da alma percebendo que está sozinha com sua dor. "Sou apenas uma pessoa sem testemunhas".


No fim de tudo Mitski está nos dizendo que existe a dor e a solidão, mas também existe o amor e está tudo bem, eles fazem parte dos ingredientes que vão construindo nossa história nessa longa ou curta jornada chamada vida. A Terra pode ser um lugar Inóspito, mas se você persistir, vai perceber as experiências que ela oferece: momentos difíceis e alegres, a decisão de aceitar o amor e a convicção de que, no final das contas, tudo terá valido a pena.

 

The Land Is Inhospitable and So Are

Mitski


Lançamento: 15 de setembro de 2023

Gênero: Folk, Indie Rock

Ouça: "Heaven", "My Love Mine All Mine", "Bug Like An Angel"

Humor: Introspectivo, Reflexivo, Poético

Pra quem curte: Fiona Apple, Joni Mitchell


 

NOTA DO CRÍTICO: 9,0

 

Veja o clipe de "Heaven":








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