Melancolia nostálgica e versos sobre envelhecer ressoam por The Ballad Of Darren do Blur
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Melancolia nostálgica e versos sobre envelhecer ressoam por The Ballad Of Darren do Blur

Atualizado: 23 de jul. de 2023

"Se você encontrar a escuridão, olhe para outra direção (olhe para outra direção)", The Narcissist.

Fotografia: Reuben Bastienne Lewis


Oito anos após seu último disco, 'The Magic Whip', que marcou o retorno da banda querida do Britpop, Blur, Damon Albarn e cia anunciaram um retorno lotando shows no Estádio de Wembley com canções que marcaram toda uma geração no início dos anos 90, como "Girls & Boys", "Advert" e "Song2". E para aumentar ainda mais a euforia, a banda anunciou um álbum novo com canções que Albarn vinha trabalhando sozinho durante sua turnê com o projeto Gorillaz em 2022. Isso resultou em 'The Ballad Of Darren', o nono disco do grupo desde que apontaram como figuras importantes do Britpop britânico em 91, com 'Leisure', que ao lado de 'Modern Life Is Rubbish', de 93, podem ter sido os discos que ajudaram no nascimento, resistência e sobrevivência do gênero em um período onde o movimento Grunge estava em ascensão no mundo, com os olhos voltados para um tal Nirvana. Mas isso é conversa para uma outra hora e outro texto.


'The Ballad Of Darren' é marcado por canções melancólicas, que lidam abertamente com a nostalgia, mas não aquela coisa envolvendo passado; a nostalgia aqui é caracterizada pela tristeza de envelhecer, aquele sentimento que martela na cabeça e te deixa acordado a noite. O próprio Damon revelou em uma entrevista recente sobre o novo disco que ele é uma pessoa "muito mais triste aos 50 anos" e que vem aprendendo a ficar confortável com sua melancolia. Isso talvez explique e justifique sua inquietação na música. Mesmo ausente do Blur, o músico não parou: se envolveu em diversos projetos com a música africana, lançou álbuns solos e ainda manteve o Gorillaz ativo. Enfrentou problemas com drogas e encontrou uma luz para não chegar ao fundo do poço com a ajuda da prática de yoga.



Muito do contexto do novo trabalho, talvez tenha sido emanado da liberdade que eles tiveram de não ficarem presos eternamente no Blur. Cada membro se manteve ativo em projetos paralelos: Graham Coxon com carreira solo e The Waeves; Dave Rowntree na política; Alex James com sua produção de queijo. O fato de cada um deles ter sido definido e marcado por algo que fizeram muito jovens (Blur) e o fato de cada um ter encontrado satisfação e sucesso em outros lugares pode significar que eles podem voltar para o Blur pelo simples fato de quererem fazer isso, não porque precisam. Isso transmite liberdade para que eles possam fazer um álbum agridoce, bonito e afável como 'The Ballad Of Darren'.


Certamente, o disco não possui aquela euforia, energia e alegria das canções pop inglesas que tanto nos marcaram no passado vertiginoso do grupo. Falta a inquietação criativa apresentada em 'The Magic Whip'. No entanto, é difícil não se render ao encanto e à beleza que emanam de faixas como "Balbaric", que emula uma vivacidade característica do Gorillaz, ou da bela melodia e dos acordes de guitarra presentes em "Russian Strings". Se aquela velha frase de que as canções tristes são as mais bonitas é verdadeira, então essa faixa faz total jus a ela. "St. Charles Square" chega com o estilo de "It's No Game (Pt.1)", do emblemático álbum 'Scary Monsters' de David Bowie.



O disco deixa transparecer que o sentimento de amizade entre eles apenas se fortaleceu durante os anos. "The Ballad" emula, de certa maneira, uma aproximação com a fase solo de John Lennon, enquanto os vocais de Damon e Coxon se cruzam, dois grandes amigos desde a adolescência, é como se estivessem conversando atentamente um nos olhos do outro. Enquanto Damon canta “Vou cair junto com você” e Coxon retribui “Nós viajamos pelo mundo juntos”. Uma banda de coração aberto, sem medo e pudor de soar triste e melancólico. Um Blur mais silencioso, deixando aquela euforia, alegria e energia cristalizada no seu devido lugar. O álbum pode ser um reflexo dos sentimentos de Damon, porém ele não está sozinho desta vez para expor isso para fora.


"The Narcissist" é uma das canções mais bonitas do Blur de todos os tempos e, com certeza, uma das músicas mais lindas desse ano. A canção foi lançada como o principal single que apresentou o disco para o mundo e emocionou o público durante os shows em Wembley. Uma faixa que pode agradar os fãs mais devotos dos primeiros álbuns da banda. É notável que temos um Blur envelhecido, lapidado pelos últimos acontecimentos no mundo. Aqui, eles optam por algo mais simplista, longe das pressões de grandes estúdios. A banda se enfiou em um estúdio caseiro de Damon; o disco soa mais como um reencontro de amigos que sempre irão se entender, mesmo que passem muito tempo longe um do outro. Toda vez que se encontrarem, terão essas melancólicas e bonitas histórias para contar.



Você, fã do Blur, que acompanhou a ascensão da banda, é bem provável que esteja na mesma faixa etária de idade deles. Em muitos momentos do disco, você pode se ver em algumas camadas e nuances narradas aqui. Um disco que fala sobre a vida, relacionamentos rompidos, o pavor de existir em um mundo corrosivo e sobre envelhecer. Talvez seja natural nos tornarmos mais melancólicos com o passar do tempo, e The Ballad Of Darren nos mostra que não tem problema algum em não ser alegre o tempo todo. Algo como perder aquele espírito e sentimento que sempre imaginávamos que nunca perderíamos, e para onde a gente está indo agora?


As canções são consistentemente bonitas. Não é o melhor disco da trajetória da banda, mas mostra uma certa ousadia em ser honesto com aquilo que eles querem dizer nesse momento. A harmonia entre esses caras acaba se tornando um deleite; preste atenção no som da guitarra de Coxon entrelaçando agridocemente com os sintetizadores estridentes e os vocais codificados em "Goodbye Albert"; ou jogando deliciosos feixes de luz em "Far Away Island". As belezas do disco vão emanando dessas nuances e pequenos detalhes que soam bem mais silenciosos, se tratando do Blur que conhecemos.



Se "The Ballad" abre o disco jogando uma brisa melancólica, suave e tranquila, "The Heights" fecha com barulhos e inquietações, onde o clímax parece nunca chegar ao fim, deixando aquela sensação instigante do que esperar do Blur no futuro. Os momentos finais da canção, de uma certa maneira, cria uma conexão empolgante com "Ashes Of American Flags" do belo 'Yankee Hotel-Foxtrot' do Wilco. Pode ser uma mera divagação desse que vos escreve, mas 'The Ballad Of Darren', cujo título homenageia o guarda-costas da banda, Darren “Smoggy” Evans, é um disco que tem muito a dizer sobre as banalidades e fragilidades dos nossos tempos atuais e as inquietações que nos perseguem diariamente.



Um Damon Albarn de peito aberto, expondo suas fragilidades e conflitos internos, e isso é sentido em cada linha tocada e cantada do álbum. Como ele mesmo disse em entrevistas, "Está tudo bem, estou confortável com a melancolia".

 

The Ballad Of Darren

Blur


Ano: 2023

Gênero: Britpop, Indie Rock

Ouça: "Barbaric", "The Narcissist" "The Heights"

Humor: Melancólico, Silencioso, Reflexivo


 

NOTA DO CRÍTICO: 8,0

 

Veja o clipe de Narcissist:










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