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Sissy é um moderno conto de Terror que satiriza sobretudo a prática do Bullying e suas consequências

O filme mostra sua ironias sem que isso de forma alguma detrate os personagens ou desfavoreça sua trama

Foto: Divulgação


O gênero Terror sempre consegue aproveitar a época em qual está situado. Que o diga agora com essa era permeada por influenciadores digitais e pela efervescente geração TikTok, que faz questionamentos a respeito da saúde mental e que volta a dialogar sobre a violência doméstica. A partir dessas características de nossa atual sociedade, diversas são as produções do gênero que surgem a cada dia, claro que muitas não conseguem desenvolver essas temáticas tão bem e acabam virando um desastre total.


Outro problema abordado é o bullying. Mas esse não é de agora e se voltarmos no tempo, lá em 1976, o formidável Carrie, A Estranha de Brian de Palma, já abordava bastante esse problema. Outra produção como A Final (2010) trazia reflexos de ações ocasionadas pelo bullying numa trama tensa e de consequências drásticas.



Sissy (2022) é um filme australiano dirigido por Hanna Barlow (que também atua no elenco do filme) e Kane Senes. Cecilia (Aisha Dee) é uma influenciadora digital que ajuda seus 200.000 mil seguidores e leva uma vida virtual famosa, apesar de solitária em sua casa. Numa de suas idas ao mercado, reencontra com uma colega de infância, Emma (Hannah Barlow). Voltando aos laços de amizade do passado, Cecilia é convidada pela amiga a participar de uma despedida de solteira numa isolada casa de veraneio.


O filme que começa delineado por tons alegres, com um Cecilia fazendo vídeos para seus seguidores e com um reencontro feliz e inesperado entre as amigas tem esse mérito: não dar pistas rápidas de que pretende ser um Terror, ou então, de que não vai pegar pesado na crítica ou sátira social que pretende fazer. Porém, logo na viagem do grupo de amigos, um canguru é atropelado na estrada e, ainda respirando, o animal precisa ser sacrificado. É exatamente na ida do grupo para a casa que logo começamos a perceber como a tensão na trama vai começar sua escalada.


A cena do canguru, inclusive, vai casar meticulosamente com outra cena posterior e essencial para a trama (parte do filme totalmente pesada e chocante, digamos).

As coisas complicam quando Cecilia se depara com um dos seus problemas do passado. Outro trunfo dos diretores é mostrar a relação de Cecilia com Emma de forma lenta, nos deixando bem curiosos acerca dos acontecimentos. Os flashbacks chegam gradativamente aos olhos do espectador em forma de uma fita VHS que Cecilia guarda com carinho e que agora faz questão de mostrar a Emma. Esses fatos por completo só serão revelados bem adiante no filme, segurando ainda mais a tensão da narrativa.


O filme mostra sua ironias sem que isso de forma alguma detrate os personagens ou desfavoreça sua trama. Cecilia era conhecida como Sissy durante a infância. Sissy, na gíria americana, é o equivalente a covarde ou ‘maricas’. Em outro momento, a garota coloca uma máscara de limpeza facial chamada Elon Mask (uma ironia com Elon Musk, será?).




Além disso, o conceito do que chamamos de uma amizade verdadeira entra em xeque aqui, sobretudo num mundo mais preocupado com likes do que estar diante de amigos não importando as diferenças entre eles. Em algumas cenas, a câmera que faz questão de aparecer de cabeça para baixo nos deixa aflitos, mas é um artifício bem usado até mesmo para mostrar a situação caótica e torta por qual a trama está prestes a seguir caminho.


Com uma interpretação magnífica de Aisha Dee, as caras e trejeitos de Cecilia fazem o espectador ter diversos sentimentos em relação a ela. É uma personagem que nos passa sentimento de cumplicidade, mas que até o final (surpreendente e contundente) pode nos enganar e alterar nossa percepção sobre os reais conceitos de vilania e bondade do filme.

Sissy não é original. Longe de ser. Com uma pegada bem centrada em Terror adolescente, pega elementos tradicionais do gênero e os coloca num caldeirão que no final funcionam. A casa isolada, uma festa entre amigos que não sai como planejado, um pouco de humor negro com Slasher, o Gore que chega em forma de mortes violentas (atenção, esse filme não é indicado para pessoas de estômago fraco).


Entretanto, o filme australiano convence no que pretende abordar, em suas várias críticas e sátiras, por uma trama que a todo instante opta por enganar o espectador em suas constantes reviravoltas. O final choca, pode não agradar a todos, mas não é diferente das nocivas consequências originárias da prática de bullying.

 

Sissy


Ano: 2022

Gênero: Terror, Humor Negro

País: Austrália

Direção: Hanna Barlow, Kane Senes

Roteiro: Hanna Barlow, Kane Senes

Elenco: Aisha Dee, Yerin Ha, Lucy Barret, Hanna Barlow e outros


 

NOTA DO CINÉFILO: 7,0

 

Trailer do filme:




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