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A Jaula é um thriller que explora os efeitos da violência na sociedade de nossos tempos

A Jaula é um daqueles filmes que chegam cercados de polêmica e controvérsia

Foto: Star +

O Cinema já provou que pode realizar grandes produções usando personagens confinados. A genialidade de muitos diretores consegue se expressar mesmo que para isso ele use de espaços apertados e com o mínimo de cenários possíveis a disposição. Podemos rapidamente lembrar agora de O Que Você Faria? (El Método, 2005), O Quarto de Jack (Room, 2015) e O Poço (El Hoyo, 2019).


De forma criativa, geralmente são filmes que trazem toda uma carga emocional em meio a um thriller/suspense que cresce vertiginosamente. Muitos deles, inclusive, também servem para metaforizar nossos sentimentos e fobias, além de colocar a mão na ferida e revelar diversas críticas sociais/políticas na trama que apresentam.

Do diretor João Wainer nos chega A Jaula. Wainer, um fotógrafo e jornalista, nos apresenta aqui seu primeiro longa metragem de ficção. Baseado no filme argentino-espanhol 4x4 (2019) que foi inspirado num episódio real que aconteceu na Argentina, o diretor brasileiro que, trabalhou muitos anos no jornalismo, consegue unir uma linguagem de jornalismo policial junto a uma trama ficcional bem tensa.


Djalma (Chay Suede) é um assaltante que, após arrombar um carro de luxo, se vê trancado no interior do próprio veículo. Mal sabia ele da armadilha (jaula) que o esperava. O carro é blindado, a prova de som e com um interior que não pode ser visto pelos pedestres. Dentro desse espaço, Djalma tentará encontrar formas de poder fugir, entrando numa espiral de desespero e ficando debilitado a cada hora que passa.


O segundo personagem surge depois em forma de uma voz no rádio do carro. Tentando dialogar com Djalma, o médico e dono do carro Henrique (Alexandre Nero) explica o porquê do procedimento e faz do seu carro que agora serve de jaula todo um discurso de imponência entre classe dominante agressiva e um homem que se sente acuado tal qual uma presa que precisa sobreviver.


Os diálogos, muitas vezes complexos abordando várias questões sociais, trazem um antagonismo entre os dois personagens. O médico Henrique diz ter sofrido muito com a violência no passado e que agora, precisava tomar alguma atitude. Djalma, por sua vez, entra num sofrimento cada vez maior, precisa aguentar as torturas físicas e psicológicas que o médico vai lhe impondo aos poucos, numa espécie de uma arquitetada vingança.

O filme preza por retirar a noção de tempo. Não sabemos quanto tempo dura o confinamento de Djalma, porém, seu desespero agrava a cada minuto de filme, sobretudo quando nenhum tipo de ajuda externa chega e existe o agravamento de qual seja a verdadeira intenção do médico. A trama não explica muito a história por trás dos personagens, inclusive, não se preocupa em mostrar flashbacks. Por conta disso, o espectador precisa tirar suas conclusões sobre cada um deles.



Chay Suede tem uma interpretação convincente. Desde o homem que entra no carro orgulhoso de seu feito e que urina no banco de trás apenas por deboche passando pelo homem fragilizado e preso que precisa sobreviver e esperar por uma fuga que não chega. O ator mostra os trejeitos que vão de ironia até raiva trazendo muito a mudança brusca de comportamento do personagem.


Apesar de passar quase todo num único cenário, o filme possui trama ágil com câmeras que mostram a inquietude de Djalma em encontrar uma solução de fuga. Seja tentando abrir buracos na porta do carro, seja em procurar por algo em sua mochila que possa servir de ferramenta útil, o filme ganha esse tom de claustrofobia apesar de um espaço em comum e para muitas pessoas: um interior confortável de carro luxuoso.


A película conta ainda com participações de Astrid Fontenelle que vive uma repórter mais preocupada com a audiência de seu programa do que com a solução pacífica da situação e de Mariana Lima que vive uma policial de sangue frio. Ambas as personagens acrescentam muito para as temáticas que o filme pretende abordar, entre elas: a imprensa sensacionalista, banalização da violência, vingança, justiça, a dicotomia bem/mal.

A Jaula é um daqueles filmes que chegam cercados de polêmica e controvérsia. Não é por menos, sobretudo pelos tempos turbulentos que passamos em nossa sociedade. Com um final ainda mais contundente, pode não ser a reposta que muitos esperam. Cinema está aí pra isso. De qualquer forma, na soma geral, é fácil saber que todos somos vítimas de um sistema debilitado e que não pode encontrar facilmente culpados pelo estado em qual chegamos.

 


A Jaula


Lançamento: 17 de fevereiro de 2022

Gênero: Suspense, Thriller, Drama, Crime

País: Brasil

Direção: João Wainer

Elenco: Chay Suede, Alexandre Nero, Mariana Lima

Duração: 80 min

Classificação: 16 anos



 

NOTA DO CINÉFILO: 7,0

 

Trailer do filme:




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