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Em 'Paterson', Jim Jarmusch traça um olhar minimalista para as pequenas belezas do cotidiano

Um filme sobre os espelhos de uma vida adulta entediante e pacata, dosada por toques de frescor e sentimentalismo

Crédito: Mubi


Paterson é um filme estadunidense de 2017, dirigido e escrito por Jim Jarmusch. A narrativa acompanha a vida do introspectivo jovem Paterson (Adam Driver), um motorista de ônibus que canaliza sua rotina escrevendo poesias sobre a essência das coisas simples da vida e do cotidiano, como uma simples caixa de fósforo que vira protagonista em um poema lírico e romântico sobre sua afável amada.


Paterson vive com sua namorada Laura (Golshifteh Farahani) e um cachorro. Laura parece não saber ao certo o que quer da vida. Vive transmutando entre a culinária, por hora pretende ser artista, ao mesmo tempo, que sonha em ser uma musicista de sucesso. Já o “dog” fica sempre à espreita esperando Paterson chegar do trabalho para passear pelas noites vazias e insólitas da cidade de mesmo nome do longa, localizada no Estado de Nova Jersey. Isso mesmo Paterson: um homem, uma cidade, um cotidiano que faz imersão na mesmice melancólica de tudo aquilo que envolve e nos abraça para uma rotina diária que mais parece espelho do dia anterior e assim sucessivamente.



Jarmusch traça um olhar minucioso sobre a vida, como se fosse um sonho real com um ritmo e desenvolvimento natural. Um motorista de ônibus/poeta que canaliza em sua escrita os momentos mais mundanos e belos da vida. Paterson adiciona uma entrada emocionante no coração do telespectador. Isso porque o filme se abastece de uma abordagem minimalista, a qual mais lembra as estrofes de um poema, e elas são completadas por um ritmo sincero e descontraído que envolve do início ao fim.



O longa aborda temas como rotina, monotonia e atonia. As transições de tempo no filme são sempre parecidas, representando a rotina do casal que leva uma vida entristecida, sem ações. Espelhos de uma vida adulta entediante e pacata, dosada por toques de frescor e sentimentalismo.

A poesia de Paterson contrasta com esse cenário ordinário e plácido, inserindo beleza em uma vida banal, movida por repetições diariamente. O mérito de Jim Jarmusch é simplesmente não transformar o sórdido em uma coisa chata e cansativa diante das telas. O filme é bonito, sensível e melancólico na medida certa. A cidade de Paterson também é onde se passa o primoroso poema do americano Willian Carlos Williams, intitulado de Paterson. O longa poderia muito bem ser resumindo como o encontro da poesia com a arte cinematográfica.



Nesse ponto de vista, cabe até mesmo fazer uma divagação entre ambas as artes, já que o filme as une tão gloriosamente. O sentimento que isso transborda é de que fazer cinema ganha as mesmas nuances de um poema em formas fotográficas, roteiros e diálogos que de certo modo traduzem sentimentos do nosso cotidiano e nos enchem os olhos quando estamos diante dela, seja na tela do cinema ou em páginas de um livro.


Paterson poderia muito bem ser resumido como uma doce celebração das pequenas alegrias que encontramos pelo caminho da vida, por mais estranhas que elas possam ser, reluzem sinceridade e sentimentalismo. Por sinal, são características presentes na filmografia do cineasta que fez vampiros se tornarem seres mais humanos através das dores da alma e coração no filme ‘Amantes Eternos’ de 213. Em Paterson ele parece contar sua própria história através de imagens e uma paleta de cores que encontra inspiração no mundano.



Um encontro da beleza com diálogos inteligentes que ajudam harmonizar uma narrativa que em muitos momentos parece ser estática. Mas ao fundo disso tudo o diretor está traçando um olhar contemplativo para existência humana. A rotina repetitiva de Paterson nada mais é do que a representatividade de uma narrativa que busca sem pressa encontrar sua ode cinematográfica da arte e deleite do cotidiano. Paterson tinha tudo para ser um filme entediante, mas ao contrário disso, ele se torna um poético e fascinante retrato da beleza e arte que passam despercebidas no cotidiano.


Um filme que reluz um verdadeiro drama dos bons. Adam Driver consegue transformar um cenário monótono em pura beleza. Ele está maravilhoso e excepcional. Mais conhecido pelo papel de Kylo Ren na saga Star Wars. Driver esbanja e comprova seu talento dramático e introspectivo de ‘História de Um Casamento’ (Netflix, 2019). Em Paterson ele cria um personagem bucólico preso em uma rotina inacabável, vivendo o mesmo dia sempre. Ele tem em sua poesia uma válvula de escape para fugir dessa realidade trivial. Um filme belo, sensível e comovente.

 

Paterson


Ano: 2016

País: EUA

Direção: Jim Jarmusch

Roteiro: Jim Jarmusch

Classificação: 12 anos

Duração: 118 min

Elenco: Adam Driver, Golshifteh Farahani, Rizwan Manji


 

NOTA DO CINÉFILO: 8,5

 

Trailer:



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