Enclausurados pega a ideia do confinamento e de velhos clichês para construir uma narrativa regular
- Eduardo Salvalaio

- 6 de out.
- 3 min de leitura
O suspense aqui é morno, o terror não nos assusta muito

ATENÇÃO: O TEXTO CONTÉM SPOILERS!
A princípio, Enclausurados (Claustro, 2023) despertou minha intenção por dois motivos. Ser um filme do Cazaquistão e convenhamos que não é toda hora que aparece alguma produção do país. Também a sinopse do filme estar ligada a questão do isolamento/confinamento que ainda penso ser um tema que sempre pode trazer algumas novidades, inclusive após sentirmos até hoje os reflexos da Pandemia de Covid-19.
Max (Roman Zhukov) recebe uma ligação de seu amigo para ir buscá-lo numa festa dentro de um prédio residencial. Claro que Max se vê obrigado a participar da festa e é quando percebemos que tanto o evento como os convidados presentes são um pouco estranhos.
Entretanto, a situação fica ainda mais insólita quando ele, junto com Kema (Elizaveta Yuryeva), sai do recinto e não consegue voltar mais, inclusive sem encontrar as pessoas ali presentes e sem ter saída do apartamento. Para piorar, o apartamento também troca os cômodos do lugar.
Diante dessa atmosfera de enclausuramento sem possíveis saídas, fácil se lembrar de produções que passaram por essa mesma condição a exemplo de Brick (2025) e de A Torre do Inferno (2022). Nestes dois filmes, o personagem precisa saber lidar não apenas com as condições adversas, como também precisa enfrentar a própria violência de outros seres humanos.
Entretanto, em Enclausurados, o diretor Olzhas Bayalbayev opta por elementos ligados ao sobrenatural, bruxaria e misticismo. Nada de vizinhos. Apenas a presença de Max e Kema diante de uma situação que estará conectada a fatos trágicos do passado. Mais uma vez, sem muitas novidades, aqui temos a junção entre o mundo do além e o mundo dos vivos. E espíritos que, para apaziguar seus sofrimentos, exigem favores aos vivos.
Infelizmente Max ganha mais destaque que Kema. Ele 'rouba' o filme desde quando a primeira criança conversa com ele. Capaz de perceber as aparições, ele é levado para a cena da tragédia e precisa cumprir o que lhe foi exigido. Outro erro: esses momentos onde ocorre a ruptura de tempo poderiam ter recebido mais retoque (a parte da segunda criança mesmo ficou sem criatividade).
Conforme a relação de Max com os espíritos aumenta, mais conhecemos os eventos trágicos que aconteceram ali no passado. No meio disso tudo, ainda há tempo para um romance entre os dois personagens e, para garantir alguns sustos, o diretor usa dos velhos e típicos clichês do gênero: o vulto passando pelo corredor, o espírito que surge abruptamente diante da tela, a câmera que possibilita a noção de algo a espreita do personagem.
O filme ganha uma maior intensidade nos seus 15 minutos finais explorando cenas que buscam através de efeitos e maquiagens, assustar ainda mais o espectador. Problema maior do filme é não absorver tanto a nossa atenção e não segurar um Terror mais profundo durante toda sua exibição. Muito do que vemos acaba deixando a narrativa leve, confortável e até humorada, indicada até para quem tem medo do gênero.
Problema de Enclausurados volta a ser aquilo que sempre friso nas resenhas: ter boas ideias, mesmo que recicladas, porém não juntá-las sabiamente em prol de uma narrativa menos cansada e desuniforme. O suspense aqui é morno, o terror não nos assusta muito. Ao menos o final tem uma lógica e faz jus aos personagens e suas histórias que conhecemos dentro do filme.
















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