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Control: o retrato definitivo de Ian Curtis e da fragilidade que virou lenda

Atualizado: há 2 dias

A vida em preto e branco nunca foi tão cruelmente bela

Control: o retrato definitivo de Ian Curtis
Imagem: Reprodução

Um homem diante do abismo. Um corpo franzino, sempre em tensão, entre a entrega à música e a rendição ao silêncio. Control, filme dirigido por Anton Corbijn em 2007, não é apenas uma cinebiografia sobre Ian Curtis, vocalista do Joy Division. É um mergulho na sensação de viver com as entranhas expostas, de carregar o peso de um mundo que não cabia dentro de si.



Curtis é apresentado em preto e branco, como se a cor fosse um excesso, uma mentira. A fotografia fria do filme se alinha à própria estética do Joy Division: minimalista, cortante, sem adornos. Não há glamour, não há brilho. Apenas o cotidiano de um jovem inglês sufocado entre empregos burocráticos, crises epilépticas e um casamento que se desmancha enquanto a música o consome.


O filme pulsa em fragmentos. Momentos íntimos, como Ian escrevendo em silêncio. Explosões de intensidade nos palcos, com a câmera captando cada espasmo como se fossem descargas elétricas. E pausas abruptas, quando o silêncio se torna mais pesado que qualquer acorde. Cada corte, cada respiração, reforça a fragilidade de um homem dilacerado entre a busca por transcendência e a impossibilidade de viver a vida comum.


Sam Riley como Ian Curtis no filme Control
Imagem: Reprodução

Não basta falar da história: é preciso sentir o que Control transmite. O espectador quase sofre com os ataques de epilepsia, sente o desconforto dos silêncios familiares, a claustrofobia da vida suburbana. A atuação de Sam Riley como Ian é magnética — ele não interpreta, ele encarna a confusão, a vulnerabilidade e a distância emocional do cantor. Alexandra Maria Lara, como Annik Honoré, e Samantha Morton, como Deborah Curtis, ajudam a construir o dilema humano que Ian nunca conseguiu resolver.



As referências culturais se entrelaçam de forma sutil. O Joy Division não aparece como peça de museu, mas como parte de um contexto: a Inglaterra cinzenta do fim dos anos 70, marcada pelo desemprego, pela frustração juvenil e pela herança punk que abriu espaço para novas linguagens. Control é, ao mesmo tempo, um retrato íntimo e um documento histórico.


Sam Riley como Ian Curtis no filme Control
Imagem: Reprodução

E então chega o final inevitável, aquele que todos conhecem, mas que ainda assim dilacera. Anton Corbijn não romantiza, não faz espetáculo: mostra com a mesma frieza com que a vida muitas vezes mostra. Há um detalhe sonoro, uma escolha musical que Ian faz nos instantes finais, e que o filme registra com precisão quase documental. É um gesto simples, mas carregado de presságio, como se a música fosse a última companhia possível diante do vazio. E de repente, Atmosphere surge como um epitáfio sonoro. Aquela faixa do Joy Division, já marcada por uma melancolia quase sagrada, encerra o filme de forma dilacerante, como se a própria banda se despedisse de seu vocalista.


O diálogo com o presente é claro. Em um mundo onde saúde mental ainda é tabu e artistas continuam a ser esmagados pela pressão da genialidade e da indústria, Control permanece atual. A história de Ian Curtis não é apenas do passado: é um espelho da nossa própria fragilidade contemporânea.


No fim, Control não é apenas sobre a morte de Ian Curtis. É sobre a impossibilidade de viver plenamente quando a dor é mais alta que a música — e sobre como, mesmo assim, sua voz continua viva, inapagável, em cada acorde do Joy Division.

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⭐⭐⭐⭐⭐

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