Mesmo de forma regular, Brick nos leva a refletir sobre relacionamentos, humanidade e confinamento
- Eduardo Salvalaio
- 18 de jul.
- 3 min de leitura
Se o filme não se justifica como entretenimento completo, deixa algumas mensagens que se encaixam para muitos momentos de nossas vidas

A pandemia de Covid-19 ainda repercutirá por um bom tempo. O próprio Cinema é capaz de retratar esse tempo de isolamento, confinamento e de perdas que tivemos. Usando metáforas e analogias, mesmo seguindo por algo surreal demais e novamente fazendo o espectador refletir sobre um momento que possa voltar a acontecer, certamente muitos filmes ainda chegarão para nos incomodar.
O diretor e roteirista alemão Philip Koch chega com Brick (2025). O filme, presente no catálogo da Netflix, mostra Tim (Matthias Schweighöfer), Olivia (Ruby O. Fee) e um grupo de moradores de um prédio que, num certo dia, se encontram cercados em seus apartamentos por um muro inquebrável e magnetizado obstruindo todas as aberturas para o mundo externo.
Para causar mais expectativas no início, o próprio Tim que é programador de jogos, é um homem conturbado por lembranças de um passado trágico, que é mostrado gradualmente através de flashbacks. Mesmo não estando bem com sua namorada Olivia, agora ambos precisam superar os atritos e encontrar um jeito de superar esse muro.
O filme até possui certas semelhanças com A Torre do Inferno (La Tour, 2022). Nesta produção francesa, também um grupo de moradores se isola após uma densa fumaça preta fechar todas as saídas. Entretanto, aqui a crueza, a brutalidade e a aproximação com o Terror (com direito a inúmeras mutilações e mortes) é mais recorrente que Brick.
No filme de Kock, a trama fica mais centrada no Sci-fi e Ação, com pouca ênfase no Terror e Suspense. Sabemos que neste tipo de filme, o impedimento com o mundo exterior será um dos menores obstáculos, os confinados ainda precisam lidar com suas diferenças, personalidades distintas e conflitos.
Entretanto, o filme peca ao trazer personagens que acabam não agregando tanto até o final. E não faltam os estereótipos como o avô que precisa proteger a neta, o drogado, o cara sensato e o estranho folgado que aceita a situação e resolve não fazer nada. Certamente o foco fica em torno de Tim e Olivia, por meio de cenas que buscam trazer uma carga dramática mais pesada, sobretudo quando eventos do passado entre os dois ficam mais claros para o espectador.

Mesmo com um muro que pode se voltar contra os humanos através do seu próprio magnetismo, o diretor não cria eventos exagerados e sangrentos demais (mesmo na morte mais impactante vista em tela). Existe a violência? Sim. Mas ela não é gratuita e não é fator dominante para o filme.
Kock opta por explorar os próprios compartimentos dos apartamentos para expor alguns segredos, tentando assim aumentar a tensão que cresce conforme algumas descobertas são reveladas. Um cenário onde uma simples anotação pode elucidar muito do que está acontecendo.
Entre uma atmosfera que remete aos filmes pós-apocalípticos ou que parece querer ser um filme em que os personagens estão diante de um jogo mortal, o diretor até consegue guardar uma surpresa em meio a um certo cansaço. Os isolados farão de tudo para encontrar uma solução, desde usar matemática, lógica e até mesmo o próprio celular.
Em meio a altos e baixos, Brick está longe de ser um filme memorável. Possui um conceito interessante, embora seja de uma execução regular. Em contrapartida, é sim uma daquelas produções que nos leva a refletir sobre muito de nossas ações e pensamentos acerca de família, vizinhos e de quem está do nosso lado.
Se o filme não se justifica como entretenimento completo, deixa algumas mensagens que se encaixam para muitos momentos de nossas vidas. Uma delas pertence à frase proferida por um dos personagens numa cena crucial: ‘será que muitas vezes nós mesmos não criamos um muro entre nós?’.

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