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A Hora do Mal: a perspectiva do universo suburbano para a criação de uma assustadora narrativa de terror

Fenomenal como Cregger começa a impor um medo logo na meia hora inicial

A Hora do Mal
Warner Bros. Pictures/Divulgação

Os irmãos Philippou (Dan e Michael) e Zach Cregger ocupam hoje, indubitavelmente, a posição de melhores diretores da safra atual do terror. Eles sabem trabalhar com aspectos comuns da humanidade do espectador, examinar temas mais profundos, preferem criar o medo através de eventos que são comuns a todos nós, mesmo que sejam inseridos ali elementos sobrenaturais ou do terror do passado.

 


Cada qual a seu modo, difícil ficar inerte ao impacto que tais diretores tentam passar. Os irmãos que começaram sua trajetória como youtubers, preferem através da superação do luto e da perda de entes queridos transformar uma narrativa em algo ainda mais doloroso e chocante.  É o que justamente acontece em Fale Comigo (2022) e Faça Ela Voltar (2025).

 

Zach Cregger, por sua vez, consegue trazer traumas suburbanos para as telas. Um evento trágico que acontece numa comunidade, o medo de ter a casa invadida, a violência que pode estar em nossa vizinhança. Não escapa nem mesmo o segredo escondido de uma casa alugada, exatamente o que acontece na trama de Noites Brutais (2022).

 

A Hora do Mal (Weapons, 2025), logo de início, pode nos levar a lembrar dos grandes filmes antigos de Stephen King. Uma pequena cidade, crianças no elenco e um acontecimento que afetará os moradores gradativamente. Com uma narração infantil muito bem conduzida relatando sobre a cidade e o estranho sumiço de 17 crianças, o espectador vai recebendo as primeiras pistas de como será o filme e sendo conquistado para não desanimar até os créditos finais.

 

A culpa do desaparecimento misterioso recai para a professora Justine (Julia Garner). Todas as crianças eram de sua sala, com exceção do garoto Alex (Cary Christopher). Ela agora precisa enfrentar uma cidade desconfiada que a cerca. Acuada pelos moradores e pais dos alunos, Justine se sente ameaçada e passa a viver com medo, inclusive tendo seu carro pichado e não podendo trabalhar mais na escola.

 

Convenhamos que a câmera mostrando a professora espreitando pela janela para ver se alguém está próximo de sua casa é algo angustiante e que parece indicar um ato violento que possa vir em seguida. Outra aflição é quando Justine tenta dialogar com Alex para saber se ele está bem, mas é impedida até mesmo de chegar perto do garoto.

 


Fenomenal como Cregger começa a impor um medo logo na meia hora inicial. Sem gore e sangue (mas saiba que eles virão), a ameaça à professora soa massacrante até mesmo para nós, espectadores. E talvez com isso o título original do filme assuma seu propósito: julgar e acusar precipitadamente as pessoas são as ‘armas’ que frequentemente usamos.

 

Warner Bros. Pictures/Divulgação
Warner Bros. Pictures/Divulgação

O filme é apresentado por meio da perspectiva de diversos personagens em fragmentos intercalados. Essa estratégia funciona e endossa a narração infantil que ouvimos lá no início. Como se estivéssemos lendo capítulos de um livro e juntando peças para entender como tudo se junta. Tudo se conecta bem para um filme que fica mais pesado cada vez que descobrimos sobre os personagens ligados aos eventos.

 

Importante num filme como esse é manter o equilíbrio entre as cenas. Zach consegue. Até mesmo em cenas que poderiam ser triviais, a tensão aumenta em cada passagem que presenciamos. Seja no policial atrás de um viciado em drogas, seja numa perseguição dentro de um mercado, os eventos ganham intensidade e nos levam para um final explosivo.

 

Igualmente, fica difícil esquecer a cena onde as crianças correm para fora de suas casas como se fossem mísseis teleguiados, praticamente 'armas' mortais (como um dos próprios personagens cita). Há de convir que certamente é uma das imagens mais cruciais do filme e que se encaixou muito bem para divulgá-lo pela internet. A construção da narrativa também ganha força através de diálogos bem estruturados.

 

A Hora do Mal fez bem em não entregar muitos trailers e respostas antes do lançamento, ao contrário do que ocorreu com Premonição 6 que a gente sabe do destino de muitos personagens antes do filme ser lançado. E mesmo que a imagem de Tia Gladys (Amy Madigan em atuação formidável) tenha passado em todos os sites e redes sociais, surpreendente como o espectador a vê surgir na primeira vez dentro do filme. 

 

O nefasto e inevitável fim de um dos personagens me fez lembrar de George Romero e seus grandes clássicos com zumbis, entretanto sabemos que existem muitas outras influências/inspirações que passam tanto por Stephen King como por John Carpenter.

 

O importante é ter um diretor como Zach Cregger que consegue reunir criativamente elementos da ficção do terror tradicional, a atmosfera do cotidiano suburbano e até do humor negro para criar uma produção que contribui muito para a inventividade do gênero atual.

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Trailer:


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