Juntos é um filme que se sustenta no Body Horror para dialogar com as relações afetivas modernas
- Eduardo Salvalaio
- há 1 dia
- 3 min de leitura
Não é todo dia que vemos magnetismo e fusão de corpos do jeito que é visto aqui

O Body Horror sempre acompanhou o Cinema, embora esse subgênero incomode bastante e não seja apreciado por muitos. Desde o passado, muitos filmes vieram para perturbar e até hoje causam repercussão, a exemplo de Re-Animator – A Hora dos Mortos Vivos (1985) e A Mosca (1986) de David Cronenberg (um filme em que muitos espectadores saíram do cinema mesmo antes da sessão terminar).
Michael Shanks é o roteirista e diretor de Juntos (Together, 2025), mais um filme que mostra como o Body Horror voltou a ganhar espaço no cinema e promete muitas novidades para os espectadores. O subgênero voltou a ganhar fôlego e está forte, sobretudo por conta da evolução da tecnologia, dos efeitos e técnicas de maquiagem, como também pela nova safra de diretores criativos que estão surpreendendo.
Tim (Dave Franco) e Millie (Allison Brie) formam um casal que se muda para o interior. Num determinado passeio pela floresta, os dois enfrentam uma forte chuva e precisam passar a noite numa caverna. Após esse evento, passam por mudanças estranhas que afetam seus corpos, sentidos e até mesmo o relacionamento entre ambos.
Embora o filme traga logo no início uma cena que entrega qual será a mudança que irá ocorrer na vida do casal, interessante destacar como Shanks conduz sua narrativa. O espectador fica sempre a espera de uma cena mais brutal ou de como as transformações podem ocorrer e impactar na rotina de Tim e Millie.
Embora o diretor não abuse de extremas transformações corporais (como foi com A Substância) ou apele para o gore, o clima de nervosismo e de angústia é sustentado a todo instante. Essa estratégia nos leva sabiamente ao desfecho, levando o filme a ter certo toque de originalidade e fugir de uma narrativa estagnada e arrastada.
Muito da produção se segura através de passagens cruciais que deixam o espectador aflito. Exemplo é a cena onde o próprio casal se ‘droga’ com calmantes para burlar a aproximação corporal involuntária que ocorre. Momentos esses que chegam com dor e sofrimento exibindo corpos entrando numa série de contrações e contorcionismos.
Claro que o Terror não é uma constante. Com pitadas inteligentes de humor (o que foi aquela cena do banheiro da escola?) e romantismo, a narrativa também inclui os problemas de um casal moderno que ainda precisa se adaptar ao seu relacionamento cotidiano e que passa por desentendimentos e ressentimentos.

Millie, por exemplo, recebe críticas por gostar de um homem que ainda sonha ser um astro do Rock e que, segundo uma amiga, não é maduro o suficiente para ela. Sabem aquelas fofocas e julgamentos errados que costumam atrapalhar o relacionamento de um casal? Isso mesmo.
Embora a explicação para as transformações que ocorrem acabem rasas demais e nem importem tanto na conclusão do filme, o espectador aguarda ansioso como Tim e Millie contornarão essa situação que se agrava a cada dia na rotina do casal. A atuação de ambos é fenomenal e vale lembrar que Dave Franco e Allison Brie são casados na vida real (certamente isso influenciou muito num filme que trata exatamente da vida de um casal).
Da mesma forma, cenas que revelam o passado traumático e trágico de Tim, apresentadas inicialmente, nem precisaram ganhar força junto a trama. Embora elas tenham ficado em segundo plano e até deixadas de lado depois da primeira meia hora, digamos que foram importantes no aspecto construtivo da psicologia do personagem.
Shanks pode não fazer um Body Horror perfeito do início ao fim, porém acende a questão de que existem mais possibilidades para o cinema dentro do subgênero. Nem tudo está cansado ou monótono. Não é todo dia que vemos magnetismo e fusão de corpos do jeito que é visto aqui.
Entre diálogos que envolvem O Banquete de Platão e reflexões sobre relações afetivas, o diretor se sai bem até os créditos finais e cria um dos filmes mais interessantes de 2025.
