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Deftones volta à força com Private Music: um décimo álbum entre beleza e brutalidade

Trinta anos depois, eles ainda conduzem o ouvinte entre extremos, entre caos e beleza, entre silêncio e erupção

Deftones, 2025.
Deftones, 2025. Crédito: Jimmy Fontaine

É incrível, notório, como o Deftones segue há mais de três décadas caminhando entre extremos — do método abrasivo de Adrenaline à sofisticação introspectiva de Ohms. Trinta anos de territórios próprios, construídos em riffs densos, batidas pulsantes e vocais que ora rasgam, ora acariciam. Com Private Music, seu décimo álbum, eles não apenas reafirmam sua longevidade; consolidam um som que é brutal, sensual, imortal e absolutamente reconhecível, mas ainda capaz de se reinventar a cada segundo.



O disco se abre com “My Mind Is A Mountain”, faixa que não pede atenção: ela a toma. O baixo rasteja sob a pele, a bateria explode no peito, e Moreno atravessa cada nota com intensidade física. O arranjo sugere tanto confinamento quanto erupção — ecos de cinco anos de espera desde Ohms e de experiências paralelas da banda, desde os projetos de sintetizadores de Moreno até shows que os colocaram na nova geração. Cada pausa, cada riff, cada respiração é medida com precisão, criando tensão e expectativa quase insuportáveis, que se dissolvem em momentos de pura beleza sonora.


Em “Locked Club”, Carpenter constrói riffs que grunhem e flutuem ao mesmo tempo, enquanto Chino imprime agressividade contida, lembrando momentos de rap-metal com a frieza de um cantor de lounge provocativo. A faixa demonstra o domínio da banda sobre contraste: peso e suavidade coexistem, e o ouvinte se movimenta com o som, sentido o corpo do álbum pulsar. É o equilíbrio entre controle e caos que define o universo Deftones.


“Ecdysis” expande esse território: sintetizadores e ruídos de Delgado criam texturas quase cinematográficas, lembrando Hecker e Sunn O))), enquanto riffs e batidas reforçam tensão e imprevisibilidade. A música não apenas se ouve, se respira, ocupando espaço no corpo e na mente, criando um cenário onde agressão e introspecção coexistem. O álbum se beneficia desse entrelaçamento de extremos, tornando cada faixa mais intensa e completa.


A delicadeza volta em “I Think About You All The Time”, uma canção que revela a face romântica e gótica da banda. Chino sussurra com intimidade, as guitarras soam frágeis como vidro prestes a quebrar, e o arranjo flutua entre ternura e tensão. É uma ponte emocional dentro do álbum, lembrando o que Deftones sempre fez melhor: encontrar beleza dentro da destruição, tocar o íntimo e o visceral ao mesmo tempo.



O ápice de energia chega em “Cut Hands” e “Metal Dream”, faixas que misturam groove, rap-metal e provocação. Moreno comanda com escárnio e precisão, Carpenter e Cunningham entregam riffs e batidas que transformam frustração e agressão em prazer físico e emocional. Cada faixa obriga o ouvinte a se mover, a se curvar, a sentir o peso e a leveza simultaneamente, detalhes que afirmam que o Deftones pode ser tanto corpóreo quanto espiritual.



O álbum se encerra em “Departing the Body”, voo suspenso fora da carne, quase espiritual. O detalhe de cada acorde, cada ruído processado, cada batida prolongada cria espaço para reflexão, entrega e silêncio. É uma conclusão que sintetiza o espírito do álbum: tensão, beleza, força e delicadeza coexistindo, o peso do passado e a liberdade do presente.



Private Music não é apenas o décimo álbum do Deftones; é a prova de que uma banda pode sobreviver ao tempo sem se repetir. Brutalidade e delicadeza coexistem, desejo e destruição se entrelaçam, e música deixa de ser formato ou gênero para se tornar organismo vivo. Trinta anos depois, eles ainda conduzem o ouvinte entre extremos, entre caos e beleza, entre silêncio e erupção — e fazem isso com maestria absoluta, lembrando que algumas bandas não são apenas ouvidas: são sentidas.

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⭐️⭐️⭐️⭐️

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