top of page

Wet Leg mergulha em desejo, absurdo e ternura em “Moisturizer” — e a gente se afoga feliz

O amor é um verme molhado e doce

Rhian Teasdale e Hester Chambers, da Wet Leg
Rhian Teasdale e Hester Chambers, da Wet Leg CRÉDITO: Iris Luz

Você já se apaixonou como quem escorrega de propósito? Como quem sabe que vai cair, que vai doer, mas ainda assim ri no caminho — só pra depois repetir tudo de novo? É mais ou menos assim que soa Moisturizer, o novo disco do Wet Leg. Um beijo de língua no nonsense, um orgasmo existencial, uma piada interna dita debaixo das cobertas. É pop com alma grunge, é romance com gosto de salgadinho, é amor lésbico feito de baba e suspiro.



Desde que surgiram com aquele primeiro álbum debochado, lá em 2022, Rhian Teasdale e Hester Chambers foram classificadas como “cool”. Aquela frieza cínica que virou sinônimo de autenticidade. Mas aqui, elas largam o escudo. Em vez de rirem dos homens, agora elas choram por mulheres. Ou melhor: se derretem. Moisturizer não quer se proteger — quer se desmanchar de amor.


E quando eu digo amor, não estou falando de conto de fada. Estou falando de virar verme de marshmallow por alguém. De cantar “eu posso te deixar molhada como um aquário” sem o menor pudor, nem vergonha. De pular de penhasco porque a outra mandou — e ainda achar romântico. É isso: o disco inteiro parece uma carta de amor escrita com batom torto num espelho embaçado.


Teasdale canta como quem sonha acordada e geme por dentro. Em Davina McCall, ela sussurra como se estivesse contando um segredo que só faz sentido às 2h da manhã. Em Don’t Speak, compara a parceira a salsa e Doritos. Eu juro. E funciona. Porque o absurdo, aqui, é linguagem de afeto. É uma tentativa de dizer o indizível. O disco todo é isso: um esforço quase desesperado de traduzir o que o corpo sente e a boca tropeça.



E se você acha que é só doçura, prepare-se pra pancada. CPR abre o álbum como uma queda livre emocional — meio amor, meio suicídio, 100% intensidade. Já Catch These Fists e Mangetout lembram que o mundo ainda está cheio de boy lixo tentando estragar noites perfeitas. Mas agora elas não os ridicularizam: apenas ignoram, com um pé na cara e o outro na pista de dança.


Há excessos? Sim. Alguns versos se repetem, algumas metáforas se lambuzam demais. Mas quem se importa? Moisturizer não quer ser perfeito. Quer ser pegajoso, íntimo, vulnerável. Quer te lembrar de quando você se apaixonou pela primeira vez — e também da última. Quando você deixou alguém entrar, e foi lindo, e foi ridículo, e você ainda voltaria lá, mesmo sabendo que vai doer de novo.



No fim, a pergunta que fica é aquela do meme: você ainda me amaria se eu fosse um verme? Se eu deixasse de ser forte, sarcástica, racional — e virasse só afeto, carne viva, dependência besta?


A resposta, depois desse disco, é sim. Sim, mil vezes sim. Mesmo grudando. Mesmo babando. Mesmo chorando de rir.

ree

⭐️⭐️⭐️⭐️

Commentaires


bottom of page