30 anos de (What’s the Story) Morning Glory?, o grito sujo, doce e eterno do Oasis
- Marcello Almeida
- 2 de jul.
- 3 min de leitura
Uma tapeçaria sonora de euforia, melancolia e realismo, ecoando o pulso de uma geração

Em algum momento de 1995, o rock britânico voltou a acreditar em si mesmo. Voltou a gritar, a soar bonito e sujo, arrogante e vulnerável. E ninguém fez isso com mais força, mais verdade e mais barulho que o Oasis. (What’s the Story) Morning Glory? não foi só um disco. Foi o som de uma geração que largou a camisa xadrez do grunge e vestiu de novo a jaqueta de couro britânica. Um tapa na cara da América. Um beijo molhado no passado dos Beatles. Um soco inglês no futuro do pop.
Esse disco explodiu como dinamite emocional no coração da cultura jovem. E não é exagero. Porque Morning Glory foi mais do que a trilha sonora de uma década — ele foi a voz rouca de milhões de jovens que queriam apenas pertencer a alguma coisa. Queriam cantar no topo dos pulmões, se embriagar de esperança e andar pelas ruas como se fossem os donos do mundo. Era isso que Liam Gallagher fazia com sua postura de pássaro bravo e cigarro no canto da boca. Era isso que Noel Gallagher escrevia, como se canalizasse Lennon e Lennon fosse seu irmão.
O britpop virou guerra santa entre Oasis e Blur, entre suor e sarcasmo, entre o proletariado do norte e a arte conceitual do sul. Mas em meio a todo esse duelo de egos, o que ficou foi o som. E que som. Guitarras gordas como tempestades. Refrões que se tatuam na alma. Letras que pareciam simples — e eram — mas diziam tudo. Amor, dúvida, derrota, recomeço. “Maybe… you’re gonna be the one that saves me” virou mantra universal. “So Sally can wait” virou epígrafe de geração.
Mas não é só Wonderwall. É Hello, abrindo o disco com um chute na porta. É Don’t Look Back in Anger, com Noel assumindo o vocal como quem abraça um mundo em ruínas e promete reconstruí-lo com três acordes e um piano roubado do McCartney. É Champagne Supernova, delírio psicodélico que nos leva pelas nuvens da imaginação e nos devolve com olhos marejados. É Some Might Say, contagiante, solar, suja como os becos de Manchester. É Hey Now, perdida entre gigantes, mas carregando um peso emocional absurdo. É tudo. Tudo junto. Tudo agora.
A beleza de Morning Glory está na mistura entre arrogância e melancolia. É um disco que se acha o melhor do mundo — e por isso mesmo, às vezes, ele é. A produção é crua, quente, viva. Não há firulas. Há verdade. E verdade, quando cantada com paixão, vira eternidade. Os vocais de Liam cortam como navalha. As guitarras de Noel abraçam como amigo antigo. E a química entre os irmãos, feita de amor, ódio e genialidade, é o que transforma boas músicas em hinos eternos.
Esse disco revitalizou o mercado fonográfico britânico. Fez o mundo olhar de novo pra Londres, pra Manchester, pras guitarras que choram, mas não se rendem. E hoje, 30 anos depois, ainda ecoa com a mesma força. Porque Morning Glory é sobre estar perdido e ainda assim cantar. É sobre falhar e não pedir desculpas. É sobre ser jovem, mesmo quando o tempo insiste em dizer que não somos mais.
Talvez o Oasis nunca tenha sido a melhor banda do mundo. Mas por alguns minutos, por alguns discos, por alguns refrões… eles realmente foram. Eles foram Deus. Ou, como eles mesmos disseram, foram maiores.

⭐️⭐️⭐️⭐️⭐️
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