20 anos de Mezmerize: a guerra é um negócio — e o System of a Down sabia disso antes de todo mundo
- Marcello Almeida
- há 6 dias
- 2 min de leitura
A música virou arma, e o alvo era o sistema

No dia 17 de maio de 2005, o System of a Down lançava Mezmerize, e o mundo não estava pronto. Em tempos de guerra no Iraque, desinformação em massa e alienação generalizada, a banda armênio-americana entregou um dos álbuns mais explosivos, provocativos e necessários do século XXI. Não era só um disco. Era uma bomba jogada contra a apatia. Um manifesto em forma de caos.
Com produção de Rick Rubin e do próprio Daron Malakian, Mezmerize escancarava feridas com uma mistura crua de metal, punk, música armênia e insanidade melódica. Em “B.Y.O.B.”, a crítica ao belicismo americano vinha sem rodeios: “Why do they always send the poor?” — uma frase que grita até hoje nas cabeças de quem viveu (e vive) o colapso ético do século.
Em “Question!”, a estrutura quebrada refletia um mundo sem respostas, onde o sentido das coisas se desmancha a cada verso. “Sad Statue” trazia a denúncia política com um senso de urgência brutal. E “Lost in Hollywood” — com sua melancolia amarga — fechava o disco como um epitáfio para os iludidos pela fantasia do entretenimento.
Mezmerize estreou direto no topo da Billboard 200, virou sucesso imediato e foi devorado pela crítica como um raio num céu entediante. Era um disco sem medo, afiado em todas as pontas. Um trabalho onde nada era gratuito: cada ruptura sonora, cada alternância de vocal, cada grito estava onde deveria estar. Era arte e era resistência.
O álbum ainda marcou a primeira metade de um projeto duplo, que seria completado seis meses depois com Hypnotize. Juntos, os dois discos formam uma das obras mais ambiciosas da história do metal alternativo — mas é Mezmerize que carrega o impacto inicial, o soco no estômago, a sensação de que algo importante estava sendo dito. E ninguém mais tinha coragem de dizer.
Vinte anos depois, o disco continua urgente. Porque a guerra continua lucrativa. Porque a alienação continua sendo vendida em pacotes bonitos. Porque o silêncio segue sendo confortável demais pra quem tem privilégios. E Mezmerize nunca foi confortável. Ele incomodava em 2005. E ainda incomoda em 2025.
É por isso que ele sobreviveu. Porque não se trata só de nostalgia — se trata de memória. E o System of a Down nos lembrou, com esse disco, que gritar ainda é necessário.
Especialmente quando querem te convencer a calar.

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