As 10 faixas que fizeram do System of a Down uma necessidade — não uma banda
- Marcello Almeida
- há 19 horas
- 4 min de leitura
É o reflexo do que fomos em Interlagos, e do que ainda somos quando o som para, mas a memória não

O System of a Down nunca foi só uma banda. Foi sempre um alerta. Uma sirene disfarçada de música. Enquanto o mundo fechava os olhos, eles gritavam. E a gente aprendeu a gritar junto. Não era pra dançar — era pra acordar. Não era pra entreter — era pra incomodar.
Entre riffs violentos e melodias potentes, o System criou um espaço onde a fúria faz sentido, onde o caos é coerente. Onde cada música soa como se fosse a última coisa a ser dita antes de explodir o planeta. Eles não pedem licença. Eles não explicam. Eles entram, bagunçam, apontam, e vão embora — deixando a gente sozinho com o estrago. E talvez seja exatamente isso que nos fez amar tanto.
1. Chop Suey!

O colapso virou oração, e a oração virou grito.
Talvez nenhuma outra música represente tão bem o paradoxo que é o System. “Chop Suey!” começa como uma súplica serena e termina em agonia. É confissão, desespero, questionamento existencial — tudo no mesmo fôlego. No show, quando ela começou, não foi só o refrão que explodiu: foram mil passados pessoais vindo à tona. Aquilo não era nostalgia, era terapia em massa.
2. Toxicity

O sistema apodrece, mas a gente canta sobre ele como quem se recusa a apodrecer também.
Com sua estrutura instável e letra ácida, “Toxicity” escancara os vícios de uma sociedade quebrada. O riff hipnótico, o groove do baixo, a bateria tribal — tudo conduz a um clímax que mistura fúria e lucidez. É uma crítica que não prega, mas arde. E ali em Interlagos, ela não foi cantada — foi cuspida com raiva.
3. Aerials

Voamos sem asas, só com o peso da própria existência nas costas.
É uma das músicas mais espirituais da banda. Fala sobre liberdade, conformismo e a busca por algo maior, mesmo que ninguém saiba exatamente o quê. A estrutura é quase circular, como um mantra. Ao vivo, ela não tem explosão — tem suspensão. E naquele silêncio antes do primeiro verso, muita gente segurou o choro.
4. B.Y.O.B.

Revolta de dança frenética, sarcasmo e soco na boca do conformismo.
Irônica, urgente e dolorosamente atual, “B.Y.O.B.” expõe a hipocrisia das guerras fabricadas. O refrão é grudento, mas carrega uma crítica feroz: por que os pobres é que morrem nas guerras dos ricos? Em Interlagos, foi uma das mais intensas. Era como se cada pessoa ali tivesse alguma guerra pessoal pra gritar.
5. Suite-Pee

O início da tempestade: curta, agressiva, imprevisível como um ataque de fúria contida.
Com pouco mais de dois minutos, essa faixa já avisava, lá no primeiro álbum, que o System não seguiria regras. Tem fúria religiosa, crítica de costumes, riffs quebrados e vocais esquizofrênicos. É caos puro em forma de vinheta punk-metal-armênia.
6. Deer Dance

Marcha contra o autoritarismo, coreografia de indignação em câmera lenta.
Uma das letras mais afiadas e visuais do grupo, “Deer Dance” transforma protestos em poesia agressiva. Fala da brutalidade policial, do controle estatal, da manipulação. A batida é tensa, o riff é seco. No show, ela veio como recado direto — sem firula, sem espaço pra respiro. E todo mundo entendeu.
7. Question!

Quando a dúvida é tão profunda que vira música.
Essa faixa é uma montanha-russa emocional. Começa com uma melodia quase etérea, mas mergulha em quebradas agressivas. A letra não dá respostas — oferece abismos. O impacto dela ao vivo vem mais pela emoção do que pela porrada
8. Sugar

A insanidade riu da nossa cara — e a gente riu de volta, em desespero coletivo.
Uma das primeiras faixas a viralizar, antes mesmo da internet ser o que é. É paranoia pura, uma crítica ao consumo de informação, drogas, controle social. No palco, é onde Daron e Serj se tornam demônios dançando. E naquele dia 14, foi exatamente isso: um ritual de caos, com a plateia se entregando de corpo inteiro.
9. Holy Mountains

A dor ancestral dos armênios virou hino — e a gente carrega esse peso mesmo sem ter vivido
Essa música carrega a alma do System. É uma homenagem aos mortos no genocídio armênio, um grito de justiça histórica. Os arranjos são épicos, quase cinematográficos. E mesmo pra quem não entende o contexto, ela chega como uma ferida antiga sendo exposta.
10. Prison Song

Uma denúncia cuspida, urgente, como quem não aguenta mais calar
É o System em sua forma mais politizada e crua. Uma rajada contra o encarceramento em massa, especialmente nos EUA, mas que ressoa forte aqui também. A letra é quase um manifesto, os versos são secos, o baixo é militar. Ao vivo, ela atinge como sirene. E naquele show, parecia que todo mundo tinha alguma prisão invisível pra quebrar.
Essa lista não é só nossa. É sua também. É a trilha sonora de uma geração que sangra e dança ao mesmo tempo. É o reflexo do que fomos em Interlagos, e do que ainda somos quando o som para, mas a memória não.