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Preoccupations dialoga sobre os tempos atuais com sua sonoridade Pós-Punk sólida e multifacetada de Ill At Ease

Ill At Ease é um daqueles discos que sintoniza poesia com música, mesmo que a mensagem chegue de forma crua e dolorosa

Preoccupations
Crédito: uproxx

Por trás de uma banda com uma discografia equilibrada e atraente, geralmente existe uma grande história. Assim pode ser no caso do grupo canadense Preoccupations. E tudo começou ainda em 2012 quando dois apaixonados por música resolveram se juntar e criar uma banda própria.

 



O baixista e vocalista Matt Flegel era integrante do grupo Women, o guitarrista Scott Munro, por sua vez, tocava ocasionalmente com a banda Lab Coast. Tornaram-se amigos e sempre tiveram vontade de criar um projeto musical só deles. Quando estavam numa turnê europeia, uma triste notícia chegou: a morte de Chris Reimer, guitarrista do Women.

 

A ideia dos dois músicos seguiu em frente. Convidaram o baterista Mick Wallace (também do Women) e o guitarrista Danny Christiansen que chegou a fazer parceria com Flegel num tributo ao Black Sabbath do qual participaram. Dessa forma, surgiu o Viet Cong. Em 2013, lançaram uma fita K7 com quatro canções.

 

Estava tudo certo então? Não, precisaram mudar de nome devido a polêmicas de que o nome da banda poderia ser ofensivo para algumas pessoas. Então, foi assim que passaram para Preoccupations. Com esse nome que não trouxe mais confusões, o début homônimo veio em 2016.

 


New Material (2018) deu continuidade a sonoridade do quarteto. A prova de fogo realmente veio com Arrangements (2022). Um disco composto logo após a chegada de uma pandemia que mudou pensamentos, ceifou vidas e limitou muitas atividades artísticas e intelectuais.

 

A banda mantinha-se firme e forte, inclusive criando novos territórios para sua sonoridade. Não apenas crueza, como também um caminho mais suave, mas que não ocasionasse perdas das características que as tornou bastante conhecida mesmo em menos de uma década.

 

Ill At Ease, quarto álbum, traz essa proposta viva e funcionando corretamente. Crueza e suavidade dividem o mesmo espaço, entretanto as letras ganham muito foco. Podemos dizer que os canadenses fazem do gênero uma alavanca mais do que útil para contemplar uma modernidade que hoje abraça as redes sociais, streamings e pensamentos polarizados.

 

Quem normalmente presta atenção em letras, então, fará questionamentos sobre muito do que a banda cita aqui. Ao retratar ideia que nos conectam a uma época que mesmo diante de tantas tecnologias e facilidades ainda nos coloca em constantes sentimentos e conflitos como medo, dúvidas, preconceitos e isolamentos, o grupo nunca foi tão sincero, porém necessário. Que a música seja não apenas para entretenimento, mas que possa ocasionar catarse e reflexões.

 

Em ‘Sken’ com sua bela guitarra dedilhada, Fleger canta: ‘I can't believe the apocalypse is taking so long/It's been a while since it all went wrong’. O vocalista não tem receio de citar o Apocalipse e de frisar que tudo deu errado. Pesado? Pessimista? Sim, porém necessário e verdadeiro.

 

Como fica expresso no próprio título do álbum, esse ‘pouco à vontade’, essa indisposição e desconforto, são temas recorrentes nas 9 faixas. A mensagem pode ser percebida facilmente, ou não. Metáforas, simbologias, filosofias e até mesmo o habitual existencialismo, caso da faixa ‘Ill At Ease’ que o vocalista cita: ‘Cause all the things I love are things that kill me/And all the things I dread aren't really there’.

 

Mesmo com certo aspecto amargo e sombrio, inclusive em canções que trazem uma influência bem absorvida do Joy Division, caso de ‘Retrograde’, esse é um disco longe de desagradar e que seja de difícil absorção, tanto que ‘Bastards’ e ‘Andromeda’ são grudentas na primeira audição e facilmente estarão presentes nos nossos fones de ouvidos em dias ensolarados.

 

Ainda é preciso destacar ‘Focus’ que guarda uma herança 80’s, bem encaixada para a sonoridade do grupo e para entender o Pós-Punk da atualidade. Um gênero que atravessa décadas e que encontra abrigo em boas mãos como o Preoccupations faz.



Ill At Ease é um daqueles discos que sintoniza poesia com música, mesmo que a mensagem chegue de forma crua e dolorosa. Uma obra artística onde a banda encontra em sua maturidade uma forma de representar não apenas seu talento e criatividade, bem como a de simular nossa realidade e de discutir aquilo que muitas vezes precisamos desabafar.


 Veja o vídeo oficial de ‘Ill At Ease’:


 NOTA: 8,0

 


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