Respira de Bia Nogueira traz equilíbrio entre tecnologia e ancestralidade
- Eduardo Salvalaio
- há 18 horas
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Desacelere, respire e curta as 8 faixas do álbum

Bia Nogueira é uma atriz e cantora mineira. Entretanto, a artista é inquieta e participa de outros movimentos culturais e artísticos. Inclusive atuou em inúmeros espetáculos musicais, algumas vezes assumindo a direção.
Também participa do coletivo IMuNe (Instante da Música Negra) onde gravou 8 clipes musicais em 2020. No mesmo ano, a cantora fez uma participação na faixa ‘O Cara de Óculos’ no disco História da Minha Área do músico Djonga.
Essa aproximação com o rapper não para apenas nessa colaboração. De forma recíproca, ele também agora faz parceria com a artista na faixa de abertura ‘Menino’. Respira (2025), novo álbum de Bia, foi lançado pelo selo A Quadrilha que pertence a Djonga. O disco começou a ser pensado e gravado ainda nos tempos de pandemia.
As canções de Bia dialogam bastante com os tempos atuais, alertam sobre preconceitos que ainda nos cercam, retratam sentimentos tão comuns como solidão e desejo, permitem refletir sobre questões ambientais e sociais.
Outro aspecto que Bia faz questão de passar para seu ouvinte é que tanto a ancestralidade e a tecnologia podem conviver juntas. Mesmo num disco onde a Eletrônica é uma constante e o próprio clipe de ‘Menino' foi elaborado com ajuda da Inteligência Artificial, um dos instrumentos utilizados foi a gunga, um tipo de chocalho antigo comumente tocado nos congados mineiros.
Numa sonoridade que abraça Afrobeat, Samba, Rap, Eletrônica e até mesmo o Pop, Bia Nogueira mostra sua versatilidade, dinâmica e criatividade. Uma cantora que se conecta com passado e presente somando muitas influências para seu repertório: Elza Soares, Juçara Marçal, Clara Nunes, entre outras.
Como diz o próprio título do trabalho, Respira é um convite para a desaceleração numa época em que esquecemos de pensar mais racionalmente porque vivemos em correria, padronizados nos constantes excessos de informações que nos chegam ou nas redes sociais que muitas vezes extrapolam ideias egocêntricas e de falsa felicidade.
E essa filosofia se encontra na faixa título. Cantada como um recital, cheia de efeitos e camadas vocais, a canção tem diversas citações ligadas ao universo da internet: ‘qual a senha do wi-fi?’, ‘perfeição forjada numa selfie’, ‘vida editada’, ‘retrato da solidão compartilhada’, ‘quantas curtidas eu ganhei?’.
Na opinião da cantora, a IA está longe de destruir o trabalho de um artista. Pode sim ser uma ferramenta de apoio se usada de forma inteligente. ‘Sankofa’, por exemplo, mescla vozes reais de Bia junto a vozes clonadas, além de trazer uma percussão típica do congado mineiro, cortesia de Kátia Aracelle (que também é atriz).
Mas a preocupação também cai para o lado da questão ambiental e do capitalismo exagerado, como fica expresso em ‘Terra Cinza’ (‘Na terra cinza só cimento e metal tem vez’). ‘Sobre Solidão e Saudade’ é uma faixa que diz muito da pandemia, inclusive quando nos leva a refletir sobre o distanciamento e a solidão que ela causou.
O disco, além de chegar às plataformas digitais, também foi divulgado durante algumas turnês da cantora em capitais nordestinas como Salvador, Natal, Recife e Maceió. Bia Nogueira abraça o país esbanjando latinidade, dinâmica artística, cultura e visão bilateral de que tecnologia e ancestralidade podem se misturar. Desacelere, respire e curta as 8 faixas do álbum.