O último uivo de Ozzy Osbourne
- Marcello Almeida

- 22 de jul.
- 3 min de leitura
Atualizado: 22 de jul.
Quando uma lenda cai, o silêncio também soa pesado

Nesta terça-feira triste, 22 de julho, Ozzy Osbourne nos deixou. Aos 76 anos, o eterno Príncipe das Trevas se despede deste mundo deixando um rastro de distorção, suor, caos e glória. Uma presença que definiu o heavy metal e, mais que isso, moldou o imaginário de gerações que encontraram nas sombras um lugar para existir.
Nascido John Michael Osbourne, em Birmingham, Inglaterra, Ozzy veio do chão da fábrica, da poeira da classe trabalhadora inglesa, e ajudou a fundar um dos pilares do rock pesado: o Black Sabbath. Ao lado de Tony Iommi, Geezer Butler e Bill Ward, transformou angústias urbanas e paranóias modernas em riffs cortantes e hinos imortais — Paranoid, Iron Man, War Pigs, Children of the Grave — canções que ainda hoje ecoam como profecias distorcidas.
O Sabbath não apenas criou um som; criou um sentimento. Era como se o peso do mundo, traduzido em acordes dissonantes e letras sombrias, encontrasse voz na figura esquelética e elétrica de Ozzy. Um frontman diferente de todos os outros — errático, teatral, às vezes assustador, mas profundamente carismático. Era mais que performance: era carne viva.
Mas o caminho nunca foi linear. Em 1979, após a turnê do álbum Never Say Die!, Ozzy foi demitido do Sabbath por causa do abuso de substâncias — substituído por Ronnie James Dio. “Fomos todos tão ruins quanto um ao outro”, diria ele depois, reconhecendo a loucura coletiva da época.

Foi com a ajuda de Sharon, filha do empresário da banda e futura esposa, que Ozzy renasceu. Com o álbum Blizzard of Ozz, iniciou uma carreira solo triunfante e enfileirou clássicos como Crazy Train, Mr. Crowley, Bark at the Moon e No More Tears. Rodeado por guitarristas como Randy Rhoads e Zakk Wylde, construiu uma discografia onde o peso do metal dividia espaço com melodia e emoção. O caos ganhou direção. A fúria, propósito.
Ainda assim, os demônios nunca descansaram. Nos anos 80 e 90, sua vida virou um desfile de episódios bizarros: mordeu a cabeça de um morcego no palco, urinou no Álamo, quase estrangulou a esposa num surto do qual nem se lembrava. Ozzy era o próprio abismo gritando de volta. Mas nunca deixou de ser humano — e essa contradição fascinava.
Com o tempo, virou um ícone cultural. O Ozzfest consolidou seu nome nas paradas do metal, e em 2002, com o reality The Osbournes, abriu as portas de casa e escancarou o caos doméstico da realeza do rock. A MTV o transformou num astro pop mundial. O Príncipe das Trevas agora também era o avô resmungão, o marido atônito, o símbolo de uma era que ria de si mesma com um cigarro aceso e uma camiseta preta.
Hoje, ao olhar pra trás, a linha entre a lenda e o homem se dissolve em meio a riffs, cicatrizes e aplausos. Ozzy Osbourne viveu como cantou: no limite, com a alma exposta e o coração no palco. E quando chegou a hora de se despedir, ele não fugiu. Se levantou, encarou os holofotes uma última vez e entregou tudo o que restava de si num show histórico.
No dia 5 de julho de 2025, em Birmingham — sua cidade natal —, Ozzy se reuniu com o Black Sabbath para a derradeira apresentação. Foi o fim de um ciclo. A última reunião da banda que criou o heavy metal, diante de uma multidão em prantos e êxtase. A performance foi emocionada, simbólica, quase ritualística. Ali, onde tudo começou, ele encerrou sua jornada como viveu: diante de amplificadores, cercado de irmandade, fazendo do palco um altar de barulho e alma.
Agora, com sua partida definitiva, o mundo sente que algo se partiu de vez. Mas o som de Ozzy não se cala. Ele permanece no olhar de cada adolescente que veste preto e sonha alto, no riff de cada banda nova que insiste em desafiar o silêncio, no vinil riscado de um velho fã que chora e sorri ao mesmo tempo.
Ozzy Osbourne não morreu. Ele virou lenda.
E lendas, meu amigo, não descansam. Apenas se transformam em tempestade.
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