Eduardo Salvalaio
- 27 de jan. de 2023
- 3 min de leitura

Italia 90 faz de Living Human Treasure um manifesto Pós-Punk Revival com atitude e energia

A batida desnorteante de ‘Leisure Activities’ é apenas uma premissa para as guitarras desenfreadas...

Dry Cleaning, Yard Act, Idles, Squid, Shame e Black Country, New Road. O que eles tem em comum? A primeira resposta que viria de muitas pessoas é: fazem parte de uma nova era para o Pós-Punk Revival. Tais grupos chegaram logo como promissores nos últimos anos com discos que frequentaram as listas de melhores do ano de muitos críticos e ouvintes.

As características dessas bandas são percebidas logo nas primeiras audições: a herança recebida de bandas 70’s/80’s, sonoridade crua e enérgica, o sotaque inglês acentuado. Grupos que também tem cuidado com as letras de suas canções. Letras que costumam ser cheias de retórica criticando a contemporaneidade, o modo de vida capitalista, xenofobia ou as mazelas de uma sociedade com desigualdades sócio-econômicas.

O quarteto londrino Italia 90 chega para aumentar esse grupo. Les Miserable (vocais), Unusual Prices (guitarras), Bobby Portrait (baixo) e J Dangerous (bateria) se conheceram desde a infância, ainda nos tempos de escola. A formação da banda aconteceu em 2016. O quarteto poderia ter chegado com um disco bem antes, caso não fosse a pandemia. Porém, neste tempo, ainda conseguiram lançar alguns EP’s e cassetes. E até mesmo já participaram de festivais ao lado de nomes importantes como Deerhunter e Cate Le Bon.

Com algumas canções novas e outras que tinham sido compostas desde os primórdios da banda (caso de ‘New Factory’), chega a hora de lançar o début “Living Human Treasure”. O grupo se isolou na remota cidade de Eastbourne e com o produtor Louis Milbourn gravou o disco em 5 dias. Apesar de os ingleses usarem prioritariamente os tradicionais baixo-guitarra-bateria, também aproveitaram para testar outros instrumentos como mellotron e tubular bells.

‘Cut’ é uma abertura de respeito e com muita influência de Wire. Logo nos primeiros minutos, o quarteto nos apresenta um som visceral guiado por guitarras pesadas, cozinha acentuada e vocais enérgicos. Marca muito a identidade do disco. Um convincente cartão de visitas para quem espera uma sonoridade visceral e enraizada em grandes nomes da música do passado.

A batida desnorteante de ‘Leisure Activities’ é apenas uma premissa para as guitarras desenfreadas que surgem e que se unem a vocais ágeis e gritantes. ‘Competition’, em seus quase 8 minutos de duração, nos leva a pensar numa espécie de fusão entre Public Image LTDA e Sonic Youth. Vocais e guitarras vão crescendo gradativamente e tudo se transforma num bloco sonoro maciço ensurdecedor e potente. Espere uma mistura de Pós-Punk e Noise.

‘Funny Bones’ tem uma pegada que foca na sonoridade New Wave/Goth Rock 80’s com um riff de guitarra grudento, batida dançante, baixo pulsante. Fácil de conquistar na primeira audição. Uma das virtudes do grupo é alternar entre momentos leves e outros pesados, caso de 'Golgotha', canção que não parecia tão densa mas que explode abruptamente virando um caos sonoro.

Nem tudo da banda é agressivo, caso de ‘The MUMSNET Mambo’ que abre espaço para piano e violino numa espécie de (como o título sugere) Mambo melancólico e climático, apesar de soar estranho. O instrumental límpido e os vocais desacelerados de ‘Does He Dream?’ também representam um lado mais introspectivo do grupo.

Italia 90 é uma banda para se prestar atenção. Mesmo que possa parecer mais uma dentro dessa enorme lista da nova safra do Pós-Punk Revival, interessante reservar um lugar de interesse para amigos de infância que levaram a música a sério. E viram nessa arte um lugar para atitude, energia e críticas.