O Black Country, New Road soa sutil sem perder a magia no soberbo "Ants From Up There".
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O Black Country, New Road soa sutil sem perder a magia no soberbo "Ants From Up There".



Se você assim como eu, vem acompanhando essa cena maravilhosa do Rock britânico, com certeza já ouviu por aí o nome dos ingleses do Black Country, New Road, o multifacetado conjunto de Pós-Punk que mistura gêneros distintos em sua sonoridade como Jazz, Math Rock e Klezmer formando canções atmosféricas que alternam entre momentos calmos e picos eletrizantes de intensidade, detalhes esses, que levaram a comparações com bandas como The Fall, Slint e Nirvana. O grupo teve sua estreia em 2021, com o sonífero e absono ‘For The First Time’, disco indicado ao Mercury Prize, e praticamente um ano depois os ingleses estão de volta com seu segundo e elogiado disco ‘Ants From Up There’, que mal prestigiou sua estreia e já passou por momentos turbulentos, dias antes do seu lançamento o vocalista Isaac Wood anunciou estar deixando a banda, algo que poderia até parecer uma jogada de relações-públicas se não fosse tão triste. (Mas calma a banda vai continuar como um sexteto).


Ants From Up There’ é aquele disco deliciosamente saboroso de ouvir, recheado por canções bem mais concisas e equilibradas que despertam um sentimento de felicidade instantânea, e você simplesmente fica em estado de puro êxtase, uma espécie de transe hipnótico, tentando desvendar a verdadeira essência de ouvir música. Sentir isso é algo único e inexplicável.


O Black Country, New Road conseguiu definitivamente abraçar melodias bem mais acessíveis sem perder a magia exuberante e soberba apresentada no seu disco de estreia. No entanto, eles dão um salto expressivo em sua trajetória, canções mais sensíveis e sutis, composições melhores que enaltecem o ápice criativo e inventivo onde eles embarcaram de cabeça. (Vale apontar, que o Pós-Punk no Reino Unido, de uns tempos pra cá vem tomando esse caminho irregular e de novos elementos, e o Black Country, New Road compartilha desse sentimento contemporâneo com bandas como Squid ou até mesmo seus amigos do Black Midi), essa mistura de estilos e gêneros com boas doses de experimentalismo remonta certas familiaridades com a música pop dos anos 90, quando o Avant Jazz se fundiu com o Rock de guitarras e a World Music.

Não estranhe se você se lembrar de 'Funeral' do Arcade Fire, a atmosfera é a mesma. ‘Ants From Up There’, é um registro incrível de uma banda, no meio do seu voo, entregando abstrações arrebatadoras sobre as aflições da geração z.

Com notas de violino e piano, e com um sax estático de fundo “Chaos Space Marine” soa elegante, distinta e poderia muito bem caber em um disco do Arcade Fire. “Concorde” de alguma maneira soa convidativa e aconchegante. Os vocais de Isaac Wood caminham perfeitamente por arranjos cada vez mais melódicos e bonitos, são longas passagens solitárias que imprimem as angústias de Wood em versos cada vez mais profundos. O grupo parece estar abrindo portas e embarcando em um novo mundo e isso fica cada vez mais claro na linda e triste “Bread Song” onde Wood canta como se fosse uma despedida.


À medida que você avança pelas dez faixas do disco vai encontrando variados elementos e camadas bem mais densas e melancólicas, em certos momentos você se sente perdido em um espaço escuro da alma e de repente as coisas vão se tornando bem mais interessantes e provocativas, te faz sentir coisas distintas e que talvez não sentia há muito tempo, alegria, tristeza e esperança. Um misto de sentimentos enclausurados que eles libertaram com total maestria e sensibilidade.


The Place Where He Inserted the Blade” prova o quanto eles podem ser grandes e diferentes de tudo que está sendo feito hoje. A mistura perfeita do Pós-Punk com indie Rock. Tente não se emocionar com os instantes iniciais de “Snow Globes” perfeita e catártica. É difícil descrever o quanto esse álbum é visceral. Wood não está mais na banda, mas seus vocais ecoarão por muito tempo. Esse disco continuara sendo uma seleção de canções arrebatadoras que serão visitadas ao longo dos anos. Sério candidato a se tornar um clássico cult. Dado o drama em torno do seu lançamento, a questão agora é, o Black Country New Road vai sobreviver? Independente disso, a banda se lança para frente, aquele verdadeiro salto para o desconhecido.

 

Ficha Técnica:

Ants From Up There

Artista: Black Country, New Road

Gênero: Pós-Punk, Rock Alternativo

Ouça: "Chaos Space Marine", "Bread Song" e "Snow Globes"

Para quem gosta de: Squid, Black Midi e Fontaines D.C

Nota: 9,0


 

Veja o clipe de "Concorde" abaixo:



 

Ouça no Spotify
















 

Sobre Marcello Almeida

É editor e criador do Teoria Cultural.

Pai da Gabriela, Técnico em Radiologia, flamenguista, amante de filmes de terror. Adora bandas como: Radiohead, Teenage Fanclub e Jesus And Mary Chain. Nas horas vagas, gosta de divagar histórias sobre: música, cinema e literatura, e curtir as aventuras do cão Dylan. marce.almeidasilvaa@gmail.com

 









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