Em ‘Õ Blésq Blom’, Titãs abusa da criatividade e fecha os 80's mostrando o poder de suas canções.
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Em ‘Õ Blésq Blom’, Titãs abusa da criatividade e fecha os 80's mostrando o poder de suas canções.



Eles já foram conhecidos como Titãs do Iê-iê-iê. Subversivos, versáteis no palco, polêmicos para certas pessoas. Uma banda com seus oito integrantes em sintonia, inclusive se dando ao direito de possuir 5 vocalistas. Bem, disso todo mundo já sabe e nem é preciso detalhar muito sobre essa grande banda fortalecida pelo Rock BR 80.


Mas a verdade, embora seja dolorosa, é que à medida que o Titãs foi se desmanchando e perdendo seus renomados integrantes, a exemplo de Arnaldo Antunes e Nando Reis, o grupo foi definhando em suas ideias musicais e na discografia perfeita que vinha realizando. Mesmo assim, seguiu adiante. Optando pelo lado menos contundente e polêmico, há quem diga que a banda se vendeu, ficou comercial demais (assuntos para outras matérias no futuro).


Enquanto lá fora alguns discos desenhavam perfeitamente o final de uma década, além de sugerir novas sonoridades para os 90’s, pegue como exemplo “Technique” do New Order e ‘Doolittle’ do Pixies (ambos de 1989), no Brasil o Titãs veio com um disco certeiro e estilhaçado em vários gêneros, mas aonde tudo se juntava e indicava um jeito novo de fazer música.


Mesmo que os gêneros continuassem iguais de outros anos e apesar de que muita coisa da música fosse parte de uma reciclagem, o método era planejar outras estratégias para a nova década que estava por chegar. O segredo seria então: colocar ingredientes num caldeirão sonoro bem preparado e que caísse no gosto de crítica e dos ouvintes. E isso o grupo fez.

Em ‘Õ Blésq Blom, o octeto cria novas ideias sem perder o sabor e o estilo dos discos anteriores, além disso, a banda se mostra ainda mais madura e antenada com a música mundial. Continua abraçando o Rock e suas inúmeras influências, trazendo seu jeito criativo num álbum com muita originalidade. Tudo ligado ao grupo aqui se agiganta: ousadia, irreverência, técnica, versatilidade, energia, letras, críticas e mesmo a alegria que o Pop-rock deve deixar no ouvinte.

Algo até inovador no Rock nacional, a banda se teve ao luxo de chamar um casal de repentistas recifenses, Mauro e Quitéria, para abrir e fechar o disco. Porque o Rock começava a ser menos tradicional e precisava descobrir novas saídas e artimanhas para um cenário musical talvez estagnado e saturado.


O estilhaço sonoro nos atinge de prontidão. Tal qual a capa que nos sugere remendos ou mesmo colagens, assim o grupo compõe o curtíssimo e eficiente disco. "Miséria" é o melhor da eletrônica que grandes nomes da música estrangeira já executavam. E ainda temos a letra crítica e peculiar do Titãs que casou de forma perfeita com aquela batida. "Racio Símio" é o jeito perfeito que o grupo encontrou para parodiar provérbios/ditados populares.


"O Camelo e o Dromedário", a canção mais longa do disco, é uma faixa lúdica e reflete a genialidade do grupo que vai traçando diferenças entre dois animais sob uma base entre o Eletrônico e o Pop-rock. "Palavras" e "Medo" são as que mais lembram o Titãs do início da década 80’s. A primeira pega um viés peculiar do Rockabilly e a segunda é um puro e enérgico Punk, ambas com letras inteligentes apesar do minimalismo que carregam e de serem faixas curtas.


Dois outros momentos são importantes nesse álbum e trazem a marca indelével da banda. "Flores", que mesmo num disco tão multifacetado e estranho que possa parecer, deixa transparecer a chance de existir algo radiofônico (e consegue). Um riff de guitarra memorável, uma letra cheia de metáforas e sentidos, que até hoje é um dos trunfos do grupo. "O Pulso" inova com uma batida hipnótica, trazendo um Arnaldo Antunes num dos seus melhores momentos. O performático vocalista vai desfiando uma lista de doenças/moléstias e a canção se transforma quase num hino que até hoje foi difícil imitar na música brasileira.


Junto com “Cabeça Dinossauro” (1986), “Õ Blésq Blom” (1989) é um dos melhores álbuns dessa banda que deve ser respeitada, não importa o rumo que tenha tomado. Uma obra atemporal, requintada e que dava pistas de como seriam as próximas décadas na música.


Texto originalmente escrito para:

 

Ficha Técnica:

Õ Blesq Blom

Artista: Titãs

Ano de lançamento: 1989

Gênero: Rock, Rock Pop Alternativo

Ouça: "Miséria", "Racio Símio" e "Flores"

Para quem gosta de: Os Paralamas do Sucesso e Ira!

Nota: 9.0


 

Ouça o disco no Spotify:





















 

Veja o clipe de "Flores" ao vivo no Faustão em 1989


 

Sobre Eduardo Salvalaio

Um cara da área Civil mas que nos momentos de folga tem um tempo para a escrita. Fã da arte de um modo geral, acha que com ela podemos tirar um pouco os dissabores da vida. Livros, discos, filmes, jogos: um arsenal do qual não abre mão.

 




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