Yard Act destaca o caos e a sagacidade de um mundo banal com o debut 'The Overload'.
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Yard Act destaca o caos e a sagacidade de um mundo banal com o debut 'The Overload'.

Atualizado: 20 de fev. de 2022



O grupo Pós-Punk, da cidade de Leeds, Yard Act, mistura sagacidade, caos, melodias densas e minimalistas no debut 'The Overload'. A banda Formada em 2019 pelo vocalista James Smith e o baixista Ryan Needham, iniciou seu som com muita austeridade antes de adicionar o guitarrista Sam shijipstone e o baterista Jay Russel. Entre shows e lançamentos de singles, o grupo passou a atrair as atenções para o seu som cinético, irregular e nervoso, com canções que jogam luz no retrato da cultura jovem moderna ao misturar humor amargo e um tédio indolente. O Yard Act segue o caminho da fórmula que deu certo para bandas como Wire e The Fall, forte influências para os jovens de Leeds que chegam em 2022 com um disco de estreia pronto para brigar pela glória nas paradas.


O universo de ‘The Overload’ se constrói a partir de onze faixas pujantes, enfáticas, diretas e ligadas por uma sobrecarga de senso de humor extravagante. São batidas desconexas, loops e grooves que se misturam aos vocais mordazes de Smith e suas letras existencialistas, problemáticas, profundas e apoiadas por um teor político e poético. Smith pode muito bem buscar sua inspiração em John Cooper Clarke, considerado um dos grandes poetas da linhagem do Punk. Entretanto, o Yard Act leva seu Pós-Punk para um lugar excitante e contemporâneo, podendo desconstruir as barreiras do mainstream, assim como, Idles e Shame fizeram com hits de sucessos e grandes festivais.


Pode até parecer saudosismo, uma banda formada por jovens na casa dos trinta anos e pouco mais de dois anos de existência conseguirem assinar com a Island Records, lançar um álbum de estreia aclamado que corre pela disputa do primeiro lugar nas paradas e fez Elton John cair de amores pelos meninos. Nem é tão surreal assim, temos exemplos consistentes como: Black Country New Road, Dry Cleaning, Squid e outros, que apontaram dentro desse período.


A frenética abertura com “The Overload” (faixa que dá título ao disco) já dá o tom do álbum, apontando o poder hipnótico e empolgante do Yard Act, enquanto Smith canta sobre uma sociedade que vive em uma bolha sem visão crítica. O que eles fazem com seus instrumentos é algo distinto de tudo que podemos ver hoje em dia na música, o quarteto está totalmente conectando pela alma e coração. E isso, serve de berço para a atmosfera ardente e nervosa do disco. Não seria exagero algum em dizer que eles entregam em seu primeiro disco tudo aquilo que você procura em um álbum de Pós-Punk. (Ouça e tire suas conclusões).


O vocal enérgico, feroz e irregular de James ecoa soberbamente através do ótimo instrumental da banda. Com isso eles criam diversas nuances, camadas e estilos que se fundem a um Pós-Punk inteligente e volátil. O sentimento de liberdade ressoa pelo drama imposto pela angústia de uma Grã-Bretanha amplamente fraturada. Os acordes de guitarras esbarram agridocemente nas lacunas do Britpop, como se tudo que eles quisessem fosse soar feito o Pulp.

“Dead Horse” começa com guitarras cintilantes e brilhantes que tonificam os vocais falados de Smith, enquanto ele tece críticas acidas e sarcásticas em relação ao Brexit. “Você ainda está seriamente tentando me enganar que toda a cultura ficará bem? Restam os idiotas Morris Dancing to Sham 69?”. As letras desorientadas captam muito a atmosfera britânica, mas também faz uma leitura fidedigna dos nossos tempos atuais aqui no Brasil. O Yard Act se torna um narrador convincente dessa distopia que atingiu o mundo. Talvez sejamos todos vitimas desse mal-estar que se alastrou por esse (des) governo. O impacto do disco é justamente esse, você se senti compreendido e, ao mesmo tempo, acolhido pelo som estridente desses jovens de Leeds.


The Overload funciona como aquele amargo lembrete dos absurdos e armadilhas da vida que nos definem e nos unem na condição humana. “Payday” com suas linhas de baixo exuberantes (mérito Ryan Needham) remonta os melhores momentos do Franz Ferdinand com ritmos dançantes, energizados e uma letra sagaz sobre a modernidade cultural dos nossos tempos, e Smith é certeiro. “Todos nós fazemos o mesmo som quando somos abatidos”. Grande parte do disco se deixa levar pelos efeitos sombrios da riqueza e aquela velha ambição descontrolada que parece tomar conta dessa nova geração. Isso fica muito explicito na faixa “The Incident”.


Uma estreia brilhante e imensamente impressionante que contempla o humor sarcástico, a sabedoria, a raiva e a compaixão. Um disco que destaca em suas linhas a hipocrisia que sempre nos leva ao antagonismo e define nossas vidas em tempos de crise.

 

Ficha Técnica: 'The Overload'

Artista: Yard Act

Gênero: Pós-Punk, New Wave

Data de Lançamento: 21 de janeiro de 2022

Gravadora: Island Records

Ouça: "Dead Horses" "Payday" e "The Overload"

Para quem gosta de: Black Country, New Road e Dry Cleaning

Nota: 8,5


 

ouça no Spotify:


 

Veja o clipe da faixa "The Overload" abaixo:


 

Sobre Marcello Almeida

É editor e criador do Teoria Cultural.

Pai da Gabriela, Técnico em Radiologia, flamenguista, amante de filmes de terror. Adora bandas como: Radiohead, Teenage Fanclub e Jesus And Mary Chain. Nas horas vagas, gosta de divagar histórias sobre: música, cinema e literatura, e curtir as aventuras do cão Dylan. marce.almeidasilvaa@gmail.com



 

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