Uma intensa atmosfera combinando vocais falados da vocalista Florence Shaw com uma abundante harmonia oriunda do Pós-Punk, a sonoridade do Dry Cleaning contrasta o real com o surreal criando camadas catárticas. A banda foi formada em 2018, pela já citada vocalista, o guitarrista Tom Dowse, o baixista Lewis Maynard e o baterista Nick Buxton. Vindos do Sul de Londres exteriorizando um som angustiado e fátuo com o EP ‘Meghan Markle’ (2019), o Dry Cleaning chegou em 2021, ostentando uma abordagem expansiva com seu álbum de estreia ‘New Long Leg’. A semelhança com bandas como: Clean, Wire, B-52’s e Joy Division, logo ganhou status no debut.
Trabalhando com o produtor John Parish a banda facetou seu estilo feito uma navalha em ‘New Long Leg’, através de guitarras pontuais e estonteantes, unindo-se ao poder do baixo e vocais expressivos que nadam na contramão do estilo convencional e fácil. Ao invés disso a banda sabe onde quer enraizar sua identidade, transitando por camadas introspectivas e distorcidas, o disco do Dry Cleaning se torna atrativo e instigante. Qualquer semelhança com o Sonic Youth, é mera coincidência.
Shaw sintetiza sua potência vocálica e sabe muito bem usa-la para iniciar uma verdadeira ode ao caos e a desordem sonora, reverenciando Kim Gordon e se aproximando cada vez mais de Laurie Anderson.
Em meio a esse turbilhão sonoro o Dry Cleaning constrói suas raízes embasadas por guitarras tortas, enigmáticas e imprevisíveis, deixe se levar pela atmosfera retro e dissonante da faixa de abertura “Scratchcard Lanyard” sons estranhos e incoerentes se tornam desafiadores com o vocal de Shaw que não segue o ritmo do instrumental, e isso soa soberbo e autêntico. Uma abertura a altura de um trabalho que pode soar incompreensível nos primeiros instantes. Florence não se preocupa nem um pouco com isso e segue entoando: “Vim aqui para fazer sapatos de cerâmica... Vim aqui para aprender a conviver”, versos que ganham uma entonação maior com o poderoso refrão “Faça tudo /Não sinta nada”.
Os ingleses seguem com suas letras enigmáticas, introspectivas abordando temas como angústia, marasmo, tédio e a solidão de noites insólitas. “Unsmart Lady” emenda com seu bordão provocativo, sarcástico e ritmos depuradores. Shaw segue como se recitasse uma poesia em meio ao caos com explosões espontâneas. “Strong Feelings” pode ser um tanto divertida e comovente com sua sonoridade que se aproxima do A Flock Of Seagulls com a exuberante e nostálgica “Space Age Love Song”, por mais distinto possa parecer seu estilo Florence não parece se esforça nem um pouco e isso porque a banda pontua suas reflexões de maneira pontuais e concisas.
O Dry Cleaning consegue criar uma atmosfera climática expansiva que não segue os padrões de técnicas famosas da música Pop-versos, refrão e melodias, facilmente identificáveis. Longe disso, o som da banda alça dimensões mais irregulares e difíceis, fugindo dessa padronização "moderninha". Mesmo quando eles elevam sua sonoridade a altas tensões, com camadas repletas de distorções, eles conseguem, soar como quem sabe realmente onde está pisando. “Every Day Carry” faixa que encerra o disco é o reflexo dessas camadas experimentalistas que tornam ‘New Long Leg’ um álbum enérgico que traz novas roupagens para o Pós-Punk altamente desafiadoras ao lado de bandas como Black Country, New Road e Squid.
Ficha Técnica:
Artista: Dry Cleaning
Álbum: New Long Leg
Lançamento: 2 de abril de 2021
Genêro: Pós-Punk, New Wave e Rock Alternativo
Ouça: "Scratchcard Lanyard", "Unsmart Lady" e "Every Day Carry"
Para quem gosta de: Sonic Youth e Black Country, New Road
Ouça o disco no Spotify:
Veja o vídeo de "Scratchard Lanyard" abaixo:
Para mais informações acesse:
Sobre marcello
É editor e criador do Teoria Cultural.
Pai da Gabriela, Técnico em Radiologia, flamenguista, amante de filmes de terror, adora bandas como: Radiohead, Teenage Fanclub e Jesus And Mary Chain. Nas horas vagas, gosta de divagar histórias sobre: música, cinema e literatura. marce.almeidasilvaa@gmail.com
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