“Posing In Bondage” pode muito bem ser uma união entre The War On Drugs e The XX, uma balada lenta que fala sobre solidão
Michelle Zauner vem assumindo seu posto de cantora e compositora brilhantemente. A moça que ficou conhecida no projeto Japanese Breakfast, parece não se conter diante das adversidades da vida e vem trilhando um caminho prolífero e grandioso na cultura pop. Ela lançou esse ano seu primeiro livro ‘Crying In H Mart: A Memoir, que ganhou vida após a morte da sua mãe de câncer. O livro atingiu o segundo lugar na lista de Best-Sellers de não ficção do New York Times e abriu os caminhos e inspiração para o (grandioso) terceiro disco solo, ‘Jubilee’, uma obra concisa, harmoniosa de canções suaves e meigas que traçam um caminho melódico entre o Indie Pop, Indie Rock, com linhas e camadas experimentalistas, algo meio Lo-Fi que abraça a doçura do Shoegaze.
Assim como o livro, ‘Jubilee’ ajuda a jogar luz no processo criativo de Zauner, ambas as obras traçam uma linha do tempo resgatando memórias e histórias de vida da cantora. Uma abordagem sentimentalista (alegre) e íntima. O disco espalha essas emoções através de ondas sonoras ensolaradas que ganham evidência pelos vocais agridoces de Zauner. Entretanto, o trabalho vai seguindo por um caminho equilibrado com canções que elevam um pouco mais os ritmos e outras que se comportam mais calmas, suaves e nostálgicas.
Michelle atinge seu ápice criativo entregando um disco bem mais conciso e maduro que os seus outros dois trabalhos. ‘Jubilee’ se fortalece de ganchos poderosos de camadas pop, estilo anos 80 enquanto sua criadora embarca em viagens enraizadas por experiências pessoais, dando vida a canções que se apresentam intimas, mas sonoramente expansivas, como se Zauner encontrasse o colorido das flores e a melancolia de dias áridos tornando isso tudo mais estiloso e eclético. Melodias que abraçam o coletivo trazendo conforto e aconchego em tempos incompreensíveis.
Ao longo dos anos a cantora vem aprimorando e expandindo suas formas de dar vida aos arranjos e vocais, criando verdadeiros hinos que enaltecem sua paixão pelo Synth Pop ensolarado dos anos 80, com as melodias do Shoegaze dos anos 90, uma beleza contemporânea requintada. Se suas composições são feitas de melodias cativantes, suas letras continuam introspectivas.
Ela tem um talento impar para isso. A faixa que abre o disco “Paprika” já mergulha nessas camadas introspectivas com harmonias adocicadas, uma mistura sedutora, repleta de nuances criadas por notas de baixo escorregadias, sintetizadores e acordes de guitarras pontuais. “Be Sweet” é a estrela do álbum, com sua atmosfera viciante e contagiante, versos grudentos e melódicos, que dançam por camadas Lo-Fi que lembram muito Madonna e o som do The Naked and Famous. A faixa também ganhou um videoclipe bem divertido com uma atmosfera nostálgica e retro. Ligue o Repeat e deixe o clima tomar conta, enquanto isso Michelle vai jogando luz em suas emoções e sentimentos com “Kokomo, In” uma canção mais sentimentalista que ressalta aquelas memórias e lembranças de entes queridos que vem e vão de nossa mente. Sentimentos que ganham uma maior entonação pelas guitarras nostálgicas e profundas.
“Slide Tackle” chega em alto astral te elevando para cima, enquanto Zauner canta docemente versos como: “Não se importe comigo enquanto estou enfrentando esse vazio”. Momentos alegres e tristes caminhando lado a lado. “Posing In Bondage” pode muito bem ser uma união entre The War On Drugs e The XX, uma balada lenta que fala sobre solidão. A vida sempre encontra um meio de resistir. Entre emoções, angustias e harmonias alegres ‘Jubilee’ se torna um disco carismático, bonito e perfeito para embalar manhãs ensolaradas ou cinzentas.
Ficha Técnica:
Artista: Japanese Breakfast (Michelle Zauner)
Álbum: Jubilee
Lançamento: 4 de junho de 2021
Gênero: Indie Pop, Synth Pop
Ouça: "Be Sweet", "Kokomo, IN" e "Posing In Bondage"
Para quem gosta de: The Naked and Famous e The XX
NOTA DO CRÍTICO: 9,5
Ouça o disco no Spotify:
Veja o vídeo entusiasmado de "Be Sweet" abaixo:
Para mais informações acesse:
Sobre Marcello
É editor e criador do Teoria Cultural.
Pai da Gabriela, Técnico em Radiologia, flamenguista, amante de filmes de terror, adora bandas como: Radiohead, Teenage Fanclub e Jesus And Mary Chain. Nas horas vagas, gosta de divagar histórias sobre: música, cinema e literatura. marce.almeidasilvaa@gmail.com
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