Animais Perigosos cria seu suspense e terror expondo o próprio ser humano como um cruel predador
- Eduardo Salvalaio
- há 4 horas
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A película está longe de apelar para o gore e para uma carnificina gratuita

Predadores são criaturas frequentes que garantem tensão no cinema. Leões, crocodilos, lobos e outros animais com seus enormes dentes afiados prontos para atacar suas presas indefesas. Entre eles, claro, não poderia faltar o temido tubarão. Animal que costuma estar presente nas telas de cinema e que apareceu em clássicos como Tubarão (1976) de Steven Spielberg.
Em Animais Perigosos (Dangerous Animals, 2025), o diretor Sean Byrne e o roteirista Nick Lepard pensaram no predador marinho, porém de uma forma diferente. O tubarão aqui é utilizado como um letal instrumento pelo serial killer Bruce Tucker (Jai Courtney) para dar fim às suas pobres vítimas, geralmente mulheres.
Pior é que o assassino adora gravar o sofrimento de suas vítimas após serem lançadas vivas ao mar. Um ritual bizarro envolvendo tortura e humilhação onde Tucker contempla tudo de forma descontraída, fazendo questão de guardar as fitas VHS no armário de seu barco.
Zephyr (Hassie Harrison) é uma surfista que está passeando pela Austrália. Curtindo os mares da região, por obra do destino a moça acaba sendo uma das prisioneiras de Tucker. Agora, enclausurada no porão de um barco, sem a quem recorrer, precisa sobreviver antes de virar mais uma vítima do serial killer.
Então é fato que o filme se transforma num apreensivo jogo de gato e rato. Algemada, Zephyr precisa encontrar forças não apenas para lidar com seu algoz, como também para encontrar elementos que a possam livrar daquele cenário. Então, cada elemento do ambiente pode servir de ferramenta ou mesmo arma para o plano de fuga ter sucesso.
A película está longe de apelar para o gore e para uma carnificina gratuita. Inclusive, até possui momentos descontraídos. Numa cena, Tucker sugere a um casal que pretende realizar um mergulho em gaiola com tubarões que eles cantem ‘Baby Shark’ para ficarem mais aliviados e descontraídos antes da tarefa.

Citando música, a trilha sonora do filme é bem atraente e variada. Temos Billy Idol (‘Dancing With Myself’), Fleetwood Mac (‘Albatross’), Cigarettes After Sex (‘Apocalypse’), Crowded House (‘Mean To Me’), entre outros. Creedence Clearwater Revival é frequentemente citado. Zephyr discute com um rapaz que acabou de conhecer sobre gostar muito de ‘Fortunate Son’ e não de ‘Ooby Dooby’ (duas músicas do lendário grupo).
Nesse embate entre dois personagens resistentes, observadores e obstinados em dar seguimentos aos seus opostos objetivos, o filme se sustenta com reviravoltas (algumas bem previsíveis por conta de velhos clichês dentro do gênero). Problema talvez sejam os 15 minutos finais onde a trama corre para um desfecho forçado e acelerado que merecia o mesmo clímax que sustentou parte do filme.
Alguns erros como Zephyr cair na água sangrando e não ser devorada por tubarões são até aceitos para um filme que consegue entregar o que promete. Animais Perigosos certamente não deixa de ser uma das produções mais interessantes com tubarões feitas nestes últimos cinco anos.
Aqui, nada de tubarões mutantes e quase imbatíveis, e sim, um animal predador em seu habitat natural. Porém ele não assusta tanto neste filme quanto o próprio homem que também ocupa a posição de um predador sem escrúpulos e que não mede esforços para matar sua presa. E ele está bem próximo de nós.

Trailer: