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A Sala dos Professores: o filme que expõe a verdade sobre o sistema educacional moderno

Seria essa sala o espelho corrosivo do mundo?

Cena do filme, A Sala dos Professores
Imagem: Reprodução

Há um silêncio que pesa mais que o barulho. Ele vive entre carteiras, olhares e notificações. É o som do cansaço de quem tenta ensinar num tempo em que todo mundo já acha que sabe de tudo. Ser professor hoje é sobreviver entre verdades distorcidas, achismos inflamados, intolerância e a sombra permanente de uma câmera pronta para julgar o próximo erro.



É nesse terreno minado que se desenrola A Sala dos Professores (Das Lehrerzimmer), de İlker Çatak, filme alemão indicado ao Oscar de Melhor Filme Internacional. E o que ele mostra é mais do que uma história, é uma radiografia da nossa era.


A protagonista, Carla Nowak (Leonie Benesch), é uma jovem professora de Educação Física e Matemática movida por um idealismo quase ingênuo. Ao tentar resolver um caso de furto dentro da escola por conta própria, ela acaba abrindo um labirinto de acusações, fofocas e julgamentos que ultrapassam os muros da instituição. A cada decisão, o que parecia nobre se torna perigoso. O que era ética vira obsessão. O que era justiça se confunde com vaidade.


Çatak constrói o filme como um microcosmo social, onde tudo o que fervilha do lado de fora — racismo, fake news, cancelamento, desconfiança nas instituições — é comprimido dentro de uma sala de professores. A atmosfera é sufocante. As câmeras acompanham cada respiração de Carla, cada tremor de mão, cada olhar atravessado. O resultado é um suspense psicológico quase claustrofóbico, que lembra o impacto moral de A Caça (2012), mas com uma linguagem ainda mais seca e urgente.


Cena do filme, A Sala dos Professores

O roteiro, assinado por Çatak e Johannes Duncker, não oferece respostas fáceis — apenas provoca o incômodo necessário. Há sempre uma ponta solta, uma dúvida, uma tensão ética que nos obriga a questionar: quem está certo? Existe certo? O espectador é colocado no mesmo lugar de Carla: à beira de um colapso, tentando compreender um mundo que perdeu o sentido.



A atuação de Leonie Benesch é de uma força rara. Ela carrega o peso da culpa e da lucidez nos olhos, num retrato preciso de uma mulher engolida por um sistema que cobra perfeição, mas oferece desamparo. Ao lado dela, o jovem Leonard Stettnisch, no papel do aluno Oskar, dá corpo à angústia e à vulnerabilidade de quem cresce em meio a um ambiente de desconfiança generalizada.



A Sala dos Professores não fala apenas sobre a escola, fala sobre a sociedade inteira dentro de uma escola. Cada personagem representa uma engrenagem do mundo moderno: o aluno vigiado, o professor sobrecarregado, os pais indignados, a diretora acuada, a opinião pública que tudo consome e nada entende.


No fim, Çatak nos obriga a olhar para dentro. A sala de aula é apenas um espelho: o caos está do lado de fora, e dentro de cada um de nós. Num país que celebra o Dia dos Professores em meio a cortes, ameaças e descrença, o filme soa como um grito abafado. Um lembrete de que ensinar é um ato político e emocional, mas também uma forma de resistência silenciosa.


Cena do filme, A Sala dos Professores
Imagem: Reprodução

A Sala dos Professores é, antes de tudo, sobre isso: o conflito entre o ideal e o real, entre o dever e o desejo de fazer o certo, mesmo quando ninguém parece saber o que é o certo. E talvez o cinema, como a educação, ainda exista justamente por isso — para nos lembrar que algumas perguntas não precisam de resposta. Apenas de coragem.

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Onde ver: Prime Video, Google Play, Apple TV

Trailer:


⭐⭐⭐⭐⭐

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