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'The Car' reafirma a relevância do Arctic Monkeys como uma das melhores bandas dos últimos tempos

Alex Turner se consagra como um dos grandes letristas românticos de sua geração

CRÉDITO: Zackery Michael

A primeira impressão ouvindo ‘The Car’, novo álbum de estúdio do Arctic Monkeys (sétimo na ótima discografia da banda), é de que, o grupo de Sheffield, Inglaterra, trafega pelos caminhos da maturidade, deixando transbordar em canções, as vivências de todo esse percurso no decorrer de 16 anos de estrada, juntos como uma banda e como uma família. Porém, ‘The Car’ pode até dar continuidade no elegante e elogiado ‘Tranquility Base Hotel & Casino’ de 2018, portanto, Alex Turner e cia apresentam canções implacáveis, sedutoras e alinhadas em um trabalho sucinto e equilibrado, que forja magistralmente a química e a sintonia entre eles.

 


 

Decifrar a arte por trás de ‘The Car’, pode ser uma jornada instigante, misteriosa, incomum e, crucialmente, embarcar em uma sonoridade que alterna entre o Funk e o Indie, na qual você pode se deparar pelo caminho com fragmentos de David Bowie e até mesmo da banda brasileira de rock psicodélico Os Mutantes, seja através do uso de cordas harmoniosas, sintetizadores e notas profundas de piano que lembram uma dança de salão sedutora.


“There’d Better Be A Mirrorball”, que saiu como o primeiro single do álbum, chegou marcando presença, fornecendo uma prévia do novo disco, uma faixa com uma introdução de piano soberba e misteriosa, que logo se joga em uma melodia nostálgica carregada por um romance contemporâneo doloroso que caberia perfeitamente em um filme Noir. A canção ganhou um clipe retrô, e bucólico, filmado pelo próprio Alex Turner, e logo de cara, já é uma das grandes canções deste ano. “Então se você quer me levar até o carro/Você precisa saber que terei um peso no coração/Então podemos ter certeza absoluta/De que terá uma bola de espelhos?”, canta Alex com vocais soberbos e majestosos que soam tátil e retrô com nuances glamorosas que se espalham por todo o disco.

 


 

‘The Car’ se alimenta de vários desvios sonoros que soam surpreendentes e enigmáticos. Um disco sobre amor, saudade e incertezas, sentimentos que afloraram ainda mais durante a pandemia do COVID-19, onde tivemos que descobrir arduamente que as verdades mais simples são as mais difíceis de serem ditas e descobertas. Algo que tem muito a dizer sobre o processo de gravação do disco, o Arctic Monnkeys começou a produção do disco no ano passado em um mosteiro do século XIV em Suffolk, ainda sob os efeitos de uma pandemia devastadora e o colapso de um isolamento social. ­­­­A banda se uniu mais uma vez com James Ford, produtor de longa data do grupo, e traçaram o caminho para o sétimo álbum com uma sonoridade embasada nos instrumentos de cordas, elementos do Jazz e o pop fantástico de bandas como Beach Boys e The Beatles.


'The Car' é um disco avassalador e ambicioso. Com certeza, essas canções irão te instigar a revistar esse álbum várias vezes. Mesmo assim, pode não ser o suficiente para compreender o tamanho de sua grandeza.

As letras escritas por Alex parecem confusas e incertas, ele se tornou um compositor hábil em escrever frases inacabadas, deixando nuances abertas e interpretativas, porém conforme você vai passando mais tempo nesse labirinto de canções que se completam, entende que no fim tudo faz sentido e as frases abertas de Turner podem muito bem ser as certas para aquele momento.


Em "Body Paint" mesmo, a banda mergulha no melhor do robusto 'AM' de 2013, e volta para maré nas ondas de 'Tranquility Base Hotel & Casino' em um pop barroco fragmentado sob a bravura e o glamour de um desespero que canaliza uma certa paranoia romântica fixada na ótima e repleta de reviravoltas "I An't Quite Where I Think I Am", um Funk misturado com Indie que pode te levar de um estado calmo e sereno para um totalmente frenético. Uma faixa transitória que funciona bem, muito pela sintonia e química que a banda se encontra, eles parecem conversar a mesma língua.

 


 

"Jet Skis On The Moat" passaria notoriamente por uma trilha sonora cinematográfica criada por Isaac Hayes, a música tem uma atmosfera envolvente e singular que contrasta com a faixa que vem antes dela, a densa e sombria "Sculptures Of Anything Goes" ancorada por elementos eletrônicos que mais parecem um rosnado que se mistura a voz em falsete de Turner, criando um clímax noturno, azedo e extravagante. Ele, por sua vez, está cantando exuberantemente em tons mais quentes, profundos e sinceros. Entre uma faixa e outra de 'The Car', a voz de Turner pode se tornar uma fuga sagaz da gélida realidade de dias insólitos.


Já que as canções carregam entre si uma constante inquietação com o cotidiano, com a vida e com a rotina de estradas, holofotes... sempre pairando no ar uma sensação de incessante movimento que vai te deixar imerso nessas paisagens que se formam diante da vida. São tantas interpretações que se pode tirar de um álbum como 'The Car', que no fim não sabemos se eles querem argumentar sobre a vida tecnológica, voltar no tempo, ou apenas cantar sobre aquilo que acende instantaneamente no coração. A intimista "Hello You" com seu ritmo dançante deixa essas questões soltas no ar quando Turner canta sobre: "Eu mergulhei nas praias inutilmente/“Por que não voltar ao Rawborough Snooker Club? / Eu poderia passar por dezessete se eu apenas me barbeasse e pegasse alguns Zs.”

Talvez, os Arctic Monkeys não pertençam a um determinado tempo, época ou período. Com isso, 'The Car' reafirma a relevância deles como uma das bandas mais importantes do século 21, em termos de processo criativo e revolucionário, eles vão dando baile com total glamour e magistralidade. Para os fãs mais antigos, aqueles que permaneceram para amadurecer e crescer com a banda, pode ser um brinde absoluto, enquanto para os novos fãs, um recinto notável para começar sua jornada como um Monkeys.

 

The Car

Arctic Monkeys


Lançamento: 21 de outubro de 2022

Gênero: Indie Rock, Funk, Pós-Punk

Ouça: "There'd Better Be A Mirrorball", Sculptures Of Anything Goes" e "Body Paint"

Humor: climático, Revolucionário, Glamoroso



 

NOTA DO CRÍTICO: 9,0

 

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