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Por que ainda ouvimos Tocando em Frente, de Almir Sater?

Tem músicas que não cicatrizam feridas — mas ensinam a caminhar com elas

Almir Sater
Imagem: Reprodução

Porque tem horas em que a gente não precisa mais de respostas — só de silêncio e estrada. Tocando em Frente é isso: uma canção que não chega com promessas, nem com conselhos, mas com uma sabedoria que só o tempo pode ensinar. É música que não diz “vai passar” — diz “segue comigo”.



Escrita por Almir Sater e Renato Teixeira, a canção foi lançada em 1990, mas parece existir desde sempre. Como se tivesse nascido do barro, da madeira e do vento. É um hino da simplicidade que acolhe, do amadurecimento que não endurece, da paz que chega depois que a alma já gritou tudo o que podia.


“Ando devagar porque já tive pressa / E levo esse sorriso porque já chorei demais” — talvez não exista verso mais honesto sobre a maturidade. Não a maturidade como cansaço, mas como clareza. Como quem já se quebrou por dentro e agora aprendeu a se carregar com mais calma. O tempo, quando vivido, ensina a dosar o passo.


A beleza da letra está em como ela trata o viver: como quem cuida da terra. “Conhecer as manhas e as manhãs, o sabor das massas e das maçãs.” É poesia sem truque. É sobre aprender que a vida não se revela nos grandes momentos, mas nas entrelinhas. No cheiro do café, no cuidado com o outro, na escuta atenta, na espera sem ansiedade.


A repetição de “é preciso amor pra poder pulsar, é preciso paz pra poder sorrir, é preciso a chuva para florir” não é didática — é um lembrete. Como se a música dissesse: olha, não tem atalho. A gente só cresce se for pelo caminho inteiro. Até a dor faz parte. E ela também floresce.



Mais do que uma música sobre aceitar, Tocando em Frente fala sobre confiar. Sobre saber que a vida tem seu ritmo — e que tentar apressar tudo só nos afasta do que importa. “Cada um de nós compõe a sua história” é um verso que entrega liberdade sem perder o afeto. E “carrega o dom de ser capaz e ser feliz” vem como bênção. Uma frase que parece nos ver com olhos bons, mesmo quando a gente duvida de si.


É por isso que essa canção atravessa gerações e continua acendendo algo na alma de quem ouve. Porque ela não fala com o ego — fala com o coração que cansou de lutar contra a própria história.



A gente ainda ouve Tocando em Frente porque, em algum ponto da estrada, a gente entende: a paz não vem quando tudo dá certo — vem quando a gente aceita o que não pode mudar, e segue mesmo assim.



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