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Por que ainda ouvimos Smells Like Teen Spirit, do Nirvana

34 anos de uma música que mudou o curso do cenário no início dos anos 90

Nirvana
Imagem: Reprodução

Há músicas que não chegam como canções. Chegam como terremotos. Em 1991, quando Smells Like Teen Spirit veio ao mundo, ninguém sabia direito o que estava acontecendo — só sentia o impacto. Era como se de repente um grito subterrâneo tivesse rompido o asfalto e tomado o planeta.



O título, na verdade, nasceu de um acaso. Para Kurt Cobain, soava como chamado revolucionário, mas era apenas o nome de um desodorante usado por sua namorada. Essa origem irônica diz muito sobre a própria canção: um hino involuntário, que nunca se pretendeu grandioso, mas que se tornou a tradução perfeita do desajuste juvenil.


A letra, fragmentada e absurda, não oferece respostas. “Here we are now, entertain us” é convite e ironia, sarcasmo e confissão. Um pedido por diversão que escancara o vazio. “I feel stupid and contagious” transforma em coletivo aquilo que parecia individual: a apatia, o tédio, o desconforto de uma geração que não sabia como se nomear. E no refrão repetido — “Hello, hello, hello, how low” — ecoa o ciclo da insatisfação, uma pergunta sem fim.


O Nirvana armou uma bomba simples: versos suaves, quase preguiçosos, explodindo em refrões barulhentos. Essa dinâmica entre calma e caos não só definiu a estética do grunge, mas se tornou metáfora perfeita para os anos 90 — uma década que oscilava entre desencanto e revolta, ironia e intensidade.


O videoclipe, com estudantes em um ginásio escolar que termina em anarquia, gravou na memória do mundo uma cena definitiva: a juventude não queria mais posar de bem-comportada. Queria quebrar tudo. A MTV transformou o clipe em exibição diária, e em poucos meses o Nirvana havia deixado de ser banda alternativa de Seattle para se tornar a maior força do rock mundial.



Mas por que ainda ouvimos Smells Like Teen Spirit? Talvez porque a sensação que ela traduz nunca foi só dos anos 90. A alienação, o vazio, a ironia com o próprio tédio continuam sendo experiências contemporâneas. Continuamos a nos sentir “estúpidos e contagiosos”, de alguma forma. Continuamos a buscar sentido num mundo que parece sempre pronto a negar.


Kurt dizia que não queria ser o porta-voz de ninguém, mas se tornou. E há uma ironia dolorosa nisso: a canção que nasceu de uma piada virou o epitáfio de uma geração.


Ainda ouvimos Smells Like Teen Spirit porque ela é o som da contradição. Barulhenta e melódica. Cínica e sincera. Revolucionária e acidental. Um hino que nunca quis ser hino — e justamente por isso nunca perdeu a força.



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