Por que ainda ouvimos Smells Like Teen Spirit, do Nirvana
- Marcello Almeida

- 10 de set.
- 2 min de leitura
34 anos de uma música que mudou o curso do cenário no início dos anos 90

Há músicas que não chegam como canções. Chegam como terremotos. Em 1991, quando Smells Like Teen Spirit veio ao mundo, ninguém sabia direito o que estava acontecendo — só sentia o impacto. Era como se de repente um grito subterrâneo tivesse rompido o asfalto e tomado o planeta.
O título, na verdade, nasceu de um acaso. Para Kurt Cobain, soava como chamado revolucionário, mas era apenas o nome de um desodorante usado por sua namorada. Essa origem irônica diz muito sobre a própria canção: um hino involuntário, que nunca se pretendeu grandioso, mas que se tornou a tradução perfeita do desajuste juvenil.
A letra, fragmentada e absurda, não oferece respostas. “Here we are now, entertain us” é convite e ironia, sarcasmo e confissão. Um pedido por diversão que escancara o vazio. “I feel stupid and contagious” transforma em coletivo aquilo que parecia individual: a apatia, o tédio, o desconforto de uma geração que não sabia como se nomear. E no refrão repetido — “Hello, hello, hello, how low” — ecoa o ciclo da insatisfação, uma pergunta sem fim.
O Nirvana armou uma bomba simples: versos suaves, quase preguiçosos, explodindo em refrões barulhentos. Essa dinâmica entre calma e caos não só definiu a estética do grunge, mas se tornou metáfora perfeita para os anos 90 — uma década que oscilava entre desencanto e revolta, ironia e intensidade.
O videoclipe, com estudantes em um ginásio escolar que termina em anarquia, gravou na memória do mundo uma cena definitiva: a juventude não queria mais posar de bem-comportada. Queria quebrar tudo. A MTV transformou o clipe em exibição diária, e em poucos meses o Nirvana havia deixado de ser banda alternativa de Seattle para se tornar a maior força do rock mundial.
Mas por que ainda ouvimos Smells Like Teen Spirit? Talvez porque a sensação que ela traduz nunca foi só dos anos 90. A alienação, o vazio, a ironia com o próprio tédio continuam sendo experiências contemporâneas. Continuamos a nos sentir “estúpidos e contagiosos”, de alguma forma. Continuamos a buscar sentido num mundo que parece sempre pronto a negar.
Kurt dizia que não queria ser o porta-voz de ninguém, mas se tornou. E há uma ironia dolorosa nisso: a canção que nasceu de uma piada virou o epitáfio de uma geração.
Ainda ouvimos Smells Like Teen Spirit porque ela é o som da contradição. Barulhenta e melódica. Cínica e sincera. Revolucionária e acidental. Um hino que nunca quis ser hino — e justamente por isso nunca perdeu a força.















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