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Por que ainda ouvimos OK Computer, do Radiohead

Tudo o que parecia paranoia virou rotina

Radiohead
Imagem: Divulgação

Em 1997, quando o mundo ainda se encantava com a chegada da internet, com celulares que cabiam em uma mão e computadores que levavam minutos para iniciar, o Radiohead entregava um aviso cifrado: o futuro não seria libertador, mas sufocante. OK Computer não era apenas música — era um mapa de angústias que só agora aprendemos a decifrar.



Vinte e oito anos depois, esse disco segue mais vivo do que nunca porque ele é, ao mesmo tempo, diagnóstico e profecia. Ele antecipou o cansaço digital, a alienação diante das telas, a falsa sensação de conexão e a vida modulada por algoritmos. Tudo o que Thom Yorke cantava em desespero, hoje nós vivemos como rotina.


“Paranoid Android” não é só um delírio experimental: é a trilha sonora da hiperconexão, da sobrecarga de estímulos, da solidão coletiva. “No Surprises” ecoa como a ironia de uma geração que sorri no Instagram enquanto implora por alívio. “Fitter Happier” virou manual de produtividade tóxica em uma era que exige eficiência acima da alma.


O impacto de OK Computer está justamente em sua estranheza. É um disco que não nos deixa confortáveis, porque não foi feito para isso. Ele nos coloca diante daquilo que preferimos negar: que o progresso técnico não significa evolução humana, que a promessa de felicidade digital nos transformou em consumidores cansados e corações anestesiados.



Ainda ouvimos porque ele não pertence a 97 — ele pertence ao agora. Porque é impossível escutá-lo sem sentir que estamos dentro daquela distopia que parecia distante. Porque suas canções não envelheceram: elas apenas se tornaram realidade.



No fundo, ainda ouvimos para lembrar que alguém previu o abismo antes de nós. Para lembrar que, mesmo entre circuitos queimados e vozes robóticas, ainda há humanidade. Uma humanidade sufocada, mas que insiste em gritar.

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