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Pecadores aposta em vampiros, música, ancestralidade e religiosidade para nocautear a cabeça do cinéfilo

Coogler não reinventa os filmes sobre vampiros, porém adiciona um toque atípico, mesclado, jovial, ousado e capaz de carregar suas sátiras sociais

Créditos: Warner Bros/Divulgação
Créditos: Warner Bros/Divulgação

Muito mais do que um entretenimento, a função do Cinema é alertar, conscientizar e nos deixar reflexivos sobre o que foi abordado ali em tela. Claro que algumas produções precisam de um tempo maior para ser digerida, mas de qualquer forma não perdem a mensagem que transmitem (embora nós, como espectadores, geralmente deixamos de absorver a completude da obra).

 


Muitos filmes chegam para atordoar, chacoalhar e revirar nossas mentes. Trabalham com temas um tanto quando sensíveis, polêmicos e até contestáveis. Geralmente assuntos que podem trazer descontentamento ou desconforto por parte do público que se choca com o que foi contemplado em tela.

 

Pecadores (Sinners, 2025) é um desses filmes. O diretor e roteirista Ryan Coogler que tem no currículo Pantera Negra (2018) e Creed: Nascido Para Lutar (2015) assume a direção e o roteiro. No elenco, grandes nomes do Cinema como Michael B. Jordan, Saul Williams, Delroy Lindo (interpretando um personagem que dita bastante o humor da trama), entre outros. O músico Buddy Guy também faz uma participação especial.

 

A primeira ideia que vem na cabeça sobre o filme é não incluí-lo num gênero específico. Coogler faz um amálgama de gêneros e os joga na trama de uma forma embaralhada (e funcional): Ação, Terror, Comédia, Drama e até mesmo flerta com Musical e Western. Embora a sinopse entregue logo qual o sentido da trama, o filme vai encaixando suas peças lentamente, a começar pela apresentação dos personagens, muitos dos quais sentimos carisma logo de início.

 

A primeira metade também é capaz de criar toda uma configuração crucial na narrativa para situar o espectador diante dos costumes, tradições e folclore da comunidade negra durante a década que o filme se passa. Esse processo engrena bem, nos preparando para uma segunda metade mais explosiva e brutal que está por vir.


Sammie é um rapaz que trabalha numa lavoura de algodão em Clarksdale, no Mississipi. Seu desejo é se tornar um músico de Blues, o que acaba contrariando as ideias de seu pai Jedidiah (Saul Williams), pastor da igreja local. Ao mesmo tempo, vamos conhecer os irmãos Fuligem e Fumaça (ambos interpretados por Michael B. Jordan) que, após passarem um tempo em Chicago, voltam para o Mississipi com o intuito de abrirem um clube noturno na região.

 

Os irmãos saem em busca de outras pessoas para o clube. Hora de relembrar o passado e contar com o apoio de alguns velhos amigos de infância. Tudo pronto, lugar lotado, eles só não contavam com um terrível mal que se aproxima do recinto.

 

Uma narração nos primeiros minutos do filme diz que a música, quando feita por algumas pessoas, é capaz de rasgar o véu entre a vida e a morte, evocar os espíritos do passado e do futuro. Adiante, essa reflexão será reforçada através da figura de Jedidiah, pai de Sammie. A música é um dos elementos mais importantes para a construção do filme. Sammie, nos momentos mais extremos do filme, vai se lembrar das falas do pai num misto de remorso ou mesmo de certeza de praticar a música que gosta apesar do mal que enfrentará pela frente.

 

Créditos: Warner Bros/Divulgação
Créditos: Warner Bros/Divulgação

A interação do filme com outras artes e aspectos culturais cria uma conexão que se entrelaça com religiosidade, ancestralidade e traz referências de épocas antigas da História dos EUA, um tempo ditado por gangsters, trabalhadores de lavouras de algodão e por perseguições atrozes da Klu Klux Klan.

 

O tema da segregação racial aqui pode até passar despercebido, entretanto surge através de cenas que acabam bem encaixadas no roteiro. Em certa cena, Delta Slim (Delroy Lindo) diz a Sammie: ‘Os brancos gostam muito de Blues, só não gostam de quem faz’. Em outro instante, o vendedor fica desconfiado que os irmãos não tenham dinheiro suficiente para comprar o galpão que servirá de lugar para o estabelecimento.

 

Lembrando que mesmo com essas passagens citando questões raciais/sociais, o filme está longe de ser maçante. Coogler é muito criativo e estratégico para segurar a história usando apenas esse artifício. Ele sabe encaixar essas temáticas em segmentos variados do filme, inclusive para dar o diferencial da trama sem ofender o espectador.


A trilha sonora é requintada. Traz um retrato musical fiel da década 30’s, passando tanto pelo Blues nascido no Mississipi, como também não se esquece de citar a Country Music e o R&B. Essa missão foi bem sucedida graças ao experiente e renomado compositor sueco Ludwig Göransson (Oppenheimer, Pantera Negra).

 

Coogler não reinventa os filmes sobre vampiros, porém adiciona um toque atípico, mesclado, jovial, ousado e capaz de carregar suas sátiras sociais. E mesmo Pecadores se passando em 1930, fácil reconhecer muitas coisas ali que ainda perturbam e que estão presentes em nossa sociedade, mesmo quase 100 anos depois.

 Trailer:


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