“Orbits”: o voo cósmico do The Circling Sun no melhor disco de jazz de 2025
- alexandre.tiago209

- 22 de out.
- 3 min de leitura
Atualizado: 22 de out.
The Circling Sun reafirma que o jazz segue vivo, universal e em constante reinvenção

O jazz é um gênero musical que ultrapassa fronteiras e idiomas, conectando culturas com ritmo, emoção e liberdade criativa. Em 2025, essa força ganha novo fôlego com “Orbits”, do grupo neozelandês The Circling Sun, um dos projetos instrumentais mais instigantes da atualidade. Formado em Auckland, na Nova Zelândia, em 2022, o conjunto traz influências diretas de Alice Coltrane, Yusef Lateef e Pharoah Sanders, criando uma sonoridade que mistura espiritualidade, groove e improviso em uma verdadeira viagem cósmica.
Com sete faixas e com 36 minutos e 14 segundos de duração, “Orbits” é o segundo álbum de estúdio de The Circling Sun. Ele é um trabalho coeso, envolvente e repleto de nuances. A capa, que remete a uma órbita espacial, traduz bem o conceito do álbum: uma jornada musical cósmica que parece vir de outro planeta. A afinação, o entrosamento e o equilíbrio entre os instrumentos revelam uma banda no auge da inspiração, unindo técnica e emoção de forma impecável.
A abertura com “Constellation” é uma imersão suave e atmosférica. O tema faz lembrar o lirismo do argentino Horacio “Chivo” Borraro, o balanço do grupo brasileiro Azymuth, o toque ancestral do Mulatu Astatke, a versatilidade da banda britânica Soft Machine, o suingue do camaronês Manu Dibango e a espiritualidade do estadunidense John Coltrane. São sete minutos e meio de puro encantamento, com sopros, vibrafone e baixo em perfeita harmonia — uma introdução hipnótica que desperta o desejo de presenciar esse som ao vivo.
Em “Mizu”, o grupo flerta com ritmos caribenhos e vibrações cubanas, destacando o baixo de Ben Turua, o vibrafone vibrante de Finn Scholes, o piano sofisticado de Joe Kaptein e os sopros expressivos de J.Y. Lee. A faixa “Teeth” mantém o alto nível, trazendo uma pegada setentista com ecos do fusion de Miles Davis, Wayne Shorter e Herbie Hancock, mas com um frescor contemporâneo que dialoga com nomes atuais do jazz como Amaro Freitas, Wynton Marsalis e Nubya Garcia.
“Anima” é uma das mais solares e dançantes do álbum — uma celebração sonora que, propositalmente ou não, parece homenagear o espírito criativo de Milton Nascimento. Já “Seki” e “Flying” exploram paisagens sonoras mais contemplativas, com atmosferas que remetem ao sublime disco "Promises" de Floating Points e Pharoah Sanders feito com a orquestra sinfônica de Londres, mostrando a capacidade do The Circling Sun de equilibrar o jazz ambiental com emoção e profundidade.
O encerramento do álbum com “Evening” é de pura harmonia. A faixa final entrega um desfecho elegante, de entrosamento e serenidade, reafirmando a coesão e a sofisticação do grupo. É um fechamento perfeito para um álbum que não apenas encanta, mas também inspira do início ao fim.
Em síntese, “Orbits” é o melhor disco de jazz de 2025 — uma obra que combina espiritualidade, ritmo e liberdade criativa em doses perfeitas. The Circling Sun reafirma que o jazz segue vivo, universal e em constante reinvenção, independentemente de sua origem. Cada faixa é um convite à contemplação, à emoção e à certeza de que a música ainda é um idioma comum capaz de unir o mundo.
















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