One Love entrega um filme mediano sobre Bob Marley, mas ressalta, de forma positiva, seu legado artístico
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One Love entrega um filme mediano sobre Bob Marley, mas ressalta, de forma positiva, seu legado artístico

Bob Marley: One Love foi lançado em 15 de fevereiro de 2024.




Cinebiografia é um gênero cinematográfico destinado a contar a vida de uma pessoa através de sua biografia. Em Hollywood, esse gênero está em alta, trazendo filmes que retratam a vida de importantes figuras das artes. Um marco desse movimento foi o lançamento de Bohemian Rhapsody, em 2018, que narra a vida e trajetória de Freddie Mercury.


Desde então, diversos artistas tiveram suas vidas retratadas no cinema, alguns com grande sucesso, como Rocketman, enquanto outros passaram despercebidos, como Blonde. Chegamos a 2024, quando foi lançado Bob Marley: One Love, uma cinebiografia dirigida por Reinaldo Marcus Green, que aborda a vida do icônico Bob Marley, uma figura central no cenário do reggae.

 

O longa apresenta momentos importantes da vida de Marley, destacando seus feitos para a Jamaica e as dificuldades enfrentadas por sua família e amigos. Conhecido por sua mensagem de paz, amor e fé rastafari, Bob transcendeu fronteiras e se tornou um ícone musical global. A obra foca também em sua relação com sua esposa e a Jamaica, sua terra natal.

 



É preciso salientar que essa película não busca mostrar o nascimento do músico, e muito menos o início musical da trajetória dele. Ela foca apenas nos anos de 1976, 1977 e 1978 da vida de Bob Marley, período em que lançou os respectivos discos 'Rastaman Vibration', 'Exodus' (um dos álbuns mais importantes e excelentes da história do reggae mundial) e 'Kaya'.


Nela, já somos apresentados ao artista como um nome consolidado, esquecendo completamente o fato de que ele foi abandonado pelo seu pai quando era bem novo e que sofreu a dura realidade de uma Jamaica colonizada, que conseguiu sua independência no ano de 1962. Ignora também fatos interessantes da vida do músico, como a formação do The Wailers, sua vinda ao Brasil, onde jogou futebol com Chico Buarque, Moraes Moreira e Pelé, e o fato de ele ter morrido de melanoma em 1981, aos 36 anos.

 

Essas falhas se devem a Ziggy (filho de Bob) e Rita Marley (esposa de Bob), que desde 2018 estavam atuando como produtores do filme, e também aos seus roteiristas: Zach Baylin, Frank E. Flowers e Terence Winter, que quiseram focar apenas em um período pequeno da vida do músico. Ele é importante, sim, mas apresentar o artista já estabelecido tira a curiosidade do espectador de conhecer mais sobre o músico, o que por pouco não diminui a vontade de fazer as pessoas se tornarem fãs do artista jamaicano.


Felizmente, isso não aconteceu, porque Bob conseguiu mostrar seu impacto global de forma positiva, fazendo da Jamaica um polo cultural e sendo responsável com sua sonoridade por furar a bolha cultural que era centralizada apenas entre o país Estados Unidos e o continente europeu.




A brilhante atuação de Kingsley Ben-Adir ressalta alguns dos poucos lados positivos da obra, onde dá para ver que ele consegue transmitir o carisma, a genialidade, o talento e o pacifismo do ídolo ao mostrar seu envolvimento com a religião Rastafari e ao usar a música para propagar suas mensagens, seus pensamentos e suas emoções. Entretanto, a atuação não chega a ser 100% perfeita ou impecável, pois se mostra, em certos momentos, monótona e arrastada.

 

Continuando a falar dos lados negativos do filme, as tensões políticas da Jamaica pós-independência não são apresentadas de forma didática, deixando aberta e confusa a explicação sobre as origens desse conflito. No entanto, o filme consegue ser eficaz ao mostrar como ele afetou a vida de Bob, a ponto de ele ser ameaçado de morte, ter sofrido um atentado e, por um momento da sua vida, se exilar em Londres para fugir da violência de sua terra natal, e posteriormente voltar a ela, ao mostrar o poder atemporal e sem fronteiras de sua magnífica representação artística.

 

Lashana Lynch, que interpreta Rita Marley (esposa de Bob) no longa, é uma atuação que merece destaque também, por representar muito bem a presença de uma grande companheira para o músico, tanto no sentido amoroso como de luta social e apoio musical. No entanto, sua personagem poderia ter sido mais explorada, não fosse o egocentrismo da direção. Em contraposição, a trilha sonora foi muito bem aproveitada, com uma excelente seleção de canções que fazem parte do grandioso e espetacular repertório de Marley.

 

Reinaldo Marcus Green, conhecido por sua direção em King Richard: Criando Campeãs de 2021, assumiu a direção deste filme. Apesar de conseguir criar cenas dinâmicas e imersivas, sua abordagem superficial, possivelmente motivada por receios e uma certa dose de egocentrismo, resultou em uma produção que deixa a desejar em profundidade.


Contudo, o filme apresenta momentos interessantes, variando entre aqueles que cativam e outros que não despertam tanto interesse, revelando uma possível falta de maturidade intelectual do diretor. Este, sendo apenas o quarto longa-metragem de sua carreira, não alcançou as expectativas elevadas que cercavam o projeto, especialmente entre os fãs e admiradores de Bob Marley e do reggae, gerando uma recepção mista.



Em suma, Bob Marley: One Love é um filme mediano que apresenta aspectos admiráveis da vida e legado de Bob Marley, mas falha em explorar seu potencial total devido a escolhas narrativas e direcionamento limitados. No entanto, ainda serve como uma homenagem ao músico, respeitando sua importância na história da música mundial. Por isso, fica a indicação de assistir ao ótimo documentário Time Will Tell para obter uma visão mais abrangente e completa da vida de Bob e, posteriormente, ouvir sua excelente discografia, que merece divulgação.

 

Bob Marley: One Love


Ano: 2024

Gênero: Drama, Musical

País: Estados Unidos

Direção: Reinaldo Marcus Green

Duração: 1h 47min

Elenco: James Norton, Lashana Lynch, Kingsley Ben-Adir


 

NOTA DO CRÍTICO: 5,0

 

Trailer:


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