E de magia Miyasaki entende.
Dia 22 de fevereiro estreia nos cinemas a mais nova animação de Hayao Miyasaki: O Menino e a Garça. A animação já venceu o Globo de Ouro e foi indicada ao Oscar e é uma das favoritas a levar o prêmio. Como convidados para a pré-estreia, o Teoria Cultural foi prestigiá-la no Sato Cinema, no Bunkyo (Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistência Social) na tarde do último dia 04.
Há alguns anos Hayao Miyasaki anunciou sua aposentadoria. Mas voltou atrás na sua decisão, iniciando o projeto de sua mais nova obra no Studio Ghibli. E agradecemos por isso.
O filme conta a história de Mahito, um menino que perdeu a mãe durante a Segunda Guerra Mundial. Ele se muda da cidade natal junto com seu pai a sua madrasta, irmã da falecida mãe de Mahito. Na nova casa, ele conhece uma garça, que na verdade é um personagem de caráter duvidoso e que lhe diz que sua mãe está viva. Ao mesmo tempo, sua madrasta desaparece na floresta e Mahito e a Garça iniciam uma jornada para resgatá-la, numa aventura repleta de muito suspense, magia e beleza.
Quem assistir O Menino e a Garça notará que todos os elementos clássicos de suas obras estão presentes novamente: as velhas com verruga na testa, os gráficos típicos das animações japonesas, criaturas vindas de mais diversos mundos, paisagens e árvores que remetem a obras impressionistas e muitas cores. Diálogos simples, mas repletos de simbolismos. Uma jornada do herói onde os protagonistas são puros de coração, como os alquimistas que conseguiram alcançar o ouro.
Na parte técnica também podemos notar outra de suas características marcantes, como o espaço vazio que há entre um acontecimento e outro. É o conceito de “Ma”, que significa o vazio, a ausência de algo. São momentos onde os personagens estão parados, sentados, dormindo ou se alimentando, os meios de transporte passam e cenas do cotidiano acontecem sem gerar algum impacto no enredo.
São nessas ausências que a obra do diretor nos leva à contemplação, nos libertando da ansiedade de que cenas de ação tenham que acontecer o tempo todo. A ação, o drama, o mistério e o terror são todos metodicamente medidos, como em uma receita, mas não uma receita comum: e sim uma receita mágica.
Miyasaki certa vez explicou sobre o conceito de Ma para o crítico de arte Roger Ebert, dizendo que é através do vazio onde a gente enxerga algo, criando os espaços negativos. E podemos brincar de como encontrar esses espaços dentro das artes, como o silêncio em uma peça teatral, os espaços entre as notas musicais em uma melodia, etc. assim como podemos tentar utilizar o conceito no nosso próprio dia a dia, fazendo pausas no trabalho, meditando, descansando. Não dizem que são nesses momentos que temos os nossos insights mais poderosos?
É tão importante nos dias de hoje a gente sentir a sutileza e a beleza em alguns momentos da vida. Tudo anda muito pesado, muito frio e muito complexo. E aí o Studio Ghibli e o Miyazaki chegam com um trabalho novo, mesmo sendo feito para crianças de 10 anos, agrada todos os públicos,
Por isso que é natural enxergar beleza em suas obras. E O Menino e a Garça, apesar de contar sempre a mesma jornada do herói, é tal como todas, uma obra iniciática: contemplam os quatro elementos, os quatro reinos, seus personagens conseguem dominar as forças da natureza e mesmo após todo o tipo de ameaças, o bem tende a superar o mal e as transformações acontecem. Pois muito além do “Abracadabra”, é assim que se faz magia. E de magia Miyasaki entende.
O Menino e a Garça
(Kimitachi wa Dō Ikiru ka)
Ano: 2024
Gênero: Animação, Anime
País: Japão
Direção: Hayao Miyasaki
Elenco: Kaoru Kobayashi, Keiko Takeshita, Takuya Kimura, Yoshino Kimura
Duração: 124 min
NOTA DO CRÍTICO: 10
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