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Morre Bruce Loose, voz sarcástica do Flipper e lenda do punk underground, aos 66 anos

Bruce Loose se vai, mas o ruído lento e corrosivo que ele ajudou a inventar continua ecoando como um grito contra a pressa do mundo

Bruce Loose se apresentando no palco com Flipper.
Bruce Loose se apresentando no palco com Flipper. (Foto de Anthony Pidgeon/Redferns)

O punk perdeu uma de suas figuras mais radicais e irônicas. Bruce “Loose” Calderwood, cantor e baixista do Flipper, morreu aos 66 anos, vítima de um aparente ataque cardíaco. A notícia foi confirmada pela própria banda de São Francisco na última sexta-feira (5), em uma homenagem publicada no Facebook:



“Após uma longa luta pela vida, Bruce ‘Loose’ Calderwood, do Flipper, faleceu de um aparente ataque cardíaco no início desta semana, aos 66 anos.”


Formado em 1979, o Flipper ocupou uma posição singular na cena punk americana. Enquanto muitos grupos aceleravam rumo ao hardcore, a banda escolheu a lentidão como estética, criando músicas pesadas, arrastadas e corrosivas. O disco de estreia, Album – Generic Flipper (1982), é considerado sua obra definitiva, com as linhas de baixo distorcidas de Loose e as guitarras barulhentas de Ted Falconi moldando um som tão estranho quanto hipnótico.


Bruce Loose dividia os vocais com Will Shatter, e juntos deram ao Flipper um caráter único: o sarcasmo e a ironia de Loose contrastavam com a monotonia quase apática de Shatter. Esse contraste ajudou a consolidar o grupo como um dos pilares do underground da Costa Oeste. Mesmo longe do mainstream, sua influência se espalhou. Nirvana, Jane’s Addiction e Mekons sempre citaram o Flipper como referência — Kurt Cobain chegou a usar uma camiseta da banda tanto no Saturday Night Live de 1992 quanto no clipe de Come As You Are, eternizando o tributo.



A trajetória de Loose também foi marcada por tragédias e renascimentos. Após a morte de Shatter por overdose em 1987, o Flipper se desfez, retornando nos anos 1990 com American Grafishy (1993). Em 2006, a admiração se transformou em um elo histórico: Krist Novoselic, baixista do Nirvana, passou a integrar o grupo. Loose ainda participou do último álbum de estúdio, Love (2009), antes de se afastar dos palcos por problemas de saúde relacionados a uma lesão na coluna.




Mais do que um baixista ou vocalista, Bruce Loose foi um símbolo de resistência ao conformismo — alguém que acreditava que o punk não precisava ser rápido para ser devastador. Sua ausência deixa um silêncio incômodo, como se uma distorção tivesse sido desligada de repente.


Bruce Loose se vai, mas o ruído lento e corrosivo que ele ajudou a inventar continua ecoando como um grito contra a pressa do mundo.



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