Do melhor ao pior: Arctic Monkeys
- Caue Almeida
- há 17 horas
- 7 min de leitura
Da garagem de Sheffield aos palcos do mundo: um ranking da discografia dos Arctic Monkeys, na nossa opinião

Poucas bandas do século XXI carregam tanto peso cultural quanto os Arctic Monkeys. Surgidos em Sheffield, em meados dos anos 2000, Alex Turner e companhia transformaram a cena indie britânica com guitarras, letras cortantes e uma confiança juvenil que os colocou de imediato no centro do mapa. Mas, ao longo da carreira, os Monkeys nunca se contentaram em repetir a fórmula — cada álbum representa uma virada estética, um risco assumido, seja na direção do rock garageiro, do psicodelismo, do groove sensual ou da melancolia futurista.
7 - AM (2013)

O disco que muita gente esperava ser o grande ápice da carreira dos Arctic Monkeys acabou soando como um retrocesso criativo. AM trouxe faixas pegajosas, mas embaladas em uma produção tão polida e radiofônica que acabou deixando tudo previsível e genérico. Não é à toa que músicas como “Do I Wanna Know?” e “R U Mine?” se tornaram onipresentes em comerciais e trilhas sonoras — parecem feitas sob medida para isso.
Apesar de alguns bons momentos, grande parte do álbum carece da crueza e da ousadia que marcaram a fase inicial da banda. Aqui, o garage rock foi deixado de lado em favor de um som seguro, feito para agradar, mas sem alma. O resultado é um trabalho que até diverte no começo, mas rapidamente se desgasta. Justamente por isso, AM fica no fim da lista: é o retrato de uma boa banda tentando ser genérica.
6 - The Car (2022)

Em The Car, Arctic Monkeys mergulha ainda mais fundo no clima orquestrado, cheio de cordas, arranjos grandiosos e uma produção mais sofisticada. Alex Turner soa cada vez mais confortável nesse papel de crooner elegante, como se tivesse abandonado de vez a ideia de ser o frontman de uma banda de rock. O resultado é um álbum de estética até que interessante, mas que parece mais interessado em impressionar com sua sofisticação do que em criar canções realmente memoráveis.
O grande problema de The Car é que, enquanto Tranquility Base ainda tinha o frescor da ruptura, esse segundo capítulo do “Arctic Monkeys pós-rock” dá sinais de desgaste. Muitas faixas soam excessivamente polidas, quase frias, sem a vitalidade que costumava ser marca registrada da banda. Ainda assim, há momentos de brilho genuíno — There’d Better Be a Mirrorball abre o disco de forma impactante, e Body Paint entrega um dos refrões mais intensos da fase recente. No conjunto, porém, The Car acaba sendo um trabalho mais respeitável.. do que necessariamente bom: mas tecnicamente superior ao AM.
5 - Suck It And See (2011)

Suck It and See é aquele disco que fica no meio do caminho: nem um desastre, nem um destaque. Tem seus momentos realmente bons — “She’s Thunderstorms” abre com um charme sexy, guitarras no ponto e vocais com um toque quase jazzy que funcionam bem. Já “Brick by Brick” traz uma quebra de ritmo com guitarras mais pesadas e vocais diferentes, o que dá uma cara grunge interessante. O problema é que, fora esses momentos, muita coisa soa morna, como se a banda estivesse testando ideias sem a mesma confiança de antes.
O álbum acaba sendo irregular, com composições que às vezes parecem mais longas e arrastadas do que deveriam. Alex ainda mostra talento como letrista, mas o conjunto carece da força e dos “grandes hits” que marcaram outros trabalhos da banda. É um disco que vale a audição, especialmente para fãs que querem entender a transição dos Monkeys nessa fase, mas dificilmente vai ser lembrado entre os melhores que eles já fizeram.
4 - Tranquility Base Hotel & Casino (2018)

Provavelmente o disco que mais divide opiniões junto do AM. Ao invés das guitarras marcantes e da energia explosiva, o Tranquility Base aposta num som mais lounge, cheio de teclados, sintetizadores, pianos e até cordas. É um álbum conceitual, inspirado em um jazz de bar, que transforma os Arctic Monkeys em algo totalmente novo. E, por incrível que pareça, eles soam muito confortáveis nisso — Alex Turner entrega letras mais poéticas e refinadas, com referências a tecnologia, cultura pop e solidão moderna, tudo com muita ironia.
O álbum tem uma produção lindíssima, cheia de detalhes, transições bem pensadas e momentos que realmente impressionam, como em “Star Treatment”, “One Point Perspective” e “She Looks Like Fun”. Ainda que não seja o tipo de trabalho que todo mundo vai colocar como favorito, a ambição aqui é clara, e é difícil não respeitar a coragem da banda em se reinventar de forma tão radical. É um disco que exige atenção, mas quando você entra na atmosfera dele, a experiência é única.
Se você ouviu em 2018 e não gostou, eu recomendo fortemente que dê mais uma chance.
3 - Humbug (2009)

Quando Josh Homme entrou no estúdio com os Monkeys, muita gente achou que a mistura ia dar estranho. O resultado? Um dos álbuns mais interessantes da carreira deles. Humbug soa pesado, psicodélico, arrastado no bom sentido — parece um disco feito no meio do deserto, carregado de sombra e calor. Essa atmosfera casou perfeitamente com a virada lírica de Alex Turner, que aqui deixou de lado o humor direto dos primeiros discos para escrever versos cheios de imagens esquisitas e ás vezes meio questionáveis.
“Crying Lightning” é praticamente um cartão de visitas desse novo estilo, enquanto “Cornerstone” mostra como Turner consegue ser poético falando de um coração partido.
Instrumentalmente, a banda também está em ponto alto. Matt Helders domina o álbum com uma bateria furiosa e inventiva, Jamie Cook segura riffs que se encaixam como luva no clima sombrio, e Nick O’Malley ainda acha espaço para baixos certeiros. Claro, nem tudo brilha — faixas como “Dangerous Animals” não passam da conta — mas a densidade do álbum não deixa espaço pra tédio. Humbug pode não ter a energia explosiva dos dois primeiros trabalhos, mas é nele que a banda mostra que sabia muito bem como se reinventar sem perder a identidade. Um disco que só melhora com o tempo e que coloca os Monkeys em um nível de maturidade absurda.
2 - Whatever People Say I Am, That's What I'm Not

O álbum de estreia dos Arctic Monkeys não foi só um sucesso — foi um fenômeno. E não é difícil entender por quê: Whatever People Say I Am, That’s What I’m Not captura como poucos discos um retrato cultural, o da juventude britânica dos anos 2000 — noites em pubs, flertes desajeitados, brigas, ressacas e toda a energia meio caótica da vida noturna.
A força desse álbum está toda na forma como Alex Turner transforma cenas banais em poesia cínica e sagaz. Ele narra noites de bebedeira, romances passageiros e confusões com um realismo que soa engraçado, doloroso e incrivelmente autêntico. Músicas como “I Bet You Look Good on the Dancefloor” e “When the Sun Goes Down” viraram hinos instantâneos, enquanto faixas como “Mardy Bum” e “A Certain Romance” mostravam que havia também um lado melódico e mais sentimental escondido debaixo das guitarras aceleradas.
A banda tinha só uma ideia naquele momento, mas executou essa ideia à perfeição. A velocidade, a urgência e a crueza compensam a falta de variedade. Se o tempo mostrou que os Monkeys cresceriam e mudariam muito seu som, esse debut continua sendo um registro cru e honesto de uma época. É um álbum que talvez faça mais sentido pra quem viveu a cena britânica dos anos 2000, mas ainda hoje transmite uma energia viciante e inesquecível. Pode não ser o mais completo da carreira, mas é o que transformou os Arctic Monkeys em um dos maiores nomes do rock do século XXI — e por isso ele fica com a segunda posição.
1 - Favourite Worst Nightmare (2007)

Se o primeiro álbum já tinha colocado os Monkeys no mapa, Favourite Worst Nightmare veio pra mostrar que eles não eram só fogo de palha. Esse disco é puro gás, um turbilhão de riffs, viradas de bateria insanas e algumas das melhores letras da banda. É o tipo de álbum que não te dá descanso: quando precisa ser rápido e agressivo, ele arranca seu fôlego, e quando desacelera, te pega pelo coração. Tudo isso costurado numa tracklist que simplesmente não falha.
A abertura com “Brianstorm” já é um soco no estômago — caótica, veloz, impossível de ignorar. “Teddy Picker” mostra Alex Turner tirando sarro da fama com uma das melodias mais viciantes da discografia, e “D Is for Dangerous” traz aqueles vocais de gangue que fazem a faixa soar diferente de tudo antes. É uma sequência inicial que gruda e já crava o disco como um dos grandes do indie rock dos anos 2000.
Mas o segredo está no meio do álbum. “Fluorescent Adolescent” é, talvez, a música mais amada e universal da banda até hoje, aquele tipo de faixa que consegue ser nostálgica e dolorosa sem perder o charme pop. Logo depois, “Only Ones Who Know” mostra um Arctic Monkeys etéreo, simples, quase minimalista, mas com uma melodia e um clima que enchem a sala inteira. E aí vem “Do Me a Favour”, com aquele final explosivo que ainda arrepia. Esse miolo do disco é simplesmente impecável.
A reta final mantém a energia mas dá espaço para o experimentalismo. “This House Is a Circus” e "If You Were There, Beware” já antecipam a atmosfera mais densa que viria em Humbug, enquanto “Old Yellow Bricks” tem um tom quase de despedida, como se a banda já estivesse se preparando para virar a página. E claro, o grand finale: “505”. Essa é, sem exagero, uma das músicas definidoras do século XXI. Dreamy, intensa, com uma construção de tensão que parece nunca envelhecer. É aquele tipo de som que converte não-fãs em fãs, de tão universal e magnético.
No fim, Favourite Worst Nightmare consegue algo raro: ele é tão caótico quanto calculado. Sabe o momento certo de te fazer dançar, de te fazer correr, e de simplesmente te destruir emocionalmente. Se o primeiro disco mostrou quem eram os Arctic Monkeys, foi aqui que eles se provaram como uma das melhores bandas de sua geração. Um clássico absoluto do indie rock moderno, e pra nós o melhor disco do Arctic Monkeys.