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Do melhor ao pior: Arctic Monkeys

Da garagem de Sheffield aos palcos do mundo: um ranking da discografia dos Arctic Monkeys, na nossa opinião

Foto: Reprodução/Variety
Foto: Reprodução/Variety

Poucas bandas do século XXI carregam tanto peso cultural quanto os Arctic Monkeys. Surgidos em Sheffield, em meados dos anos 2000, Alex Turner e companhia transformaram a cena indie britânica com guitarras, letras cortantes e uma confiança juvenil que os colocou de imediato no centro do mapa. Mas, ao longo da carreira, os Monkeys nunca se contentaram em repetir a fórmula — cada álbum representa uma virada estética, um risco assumido, seja na direção do rock garageiro, do psicodelismo, do groove sensual ou da melancolia futurista.

7 - AM (2013)

Capa do disco AM (2013), Arctic Monkeys
Imagem: Reprodução

O disco que muita gente esperava ser o grande ápice da carreira dos Arctic Monkeys acabou soando como um retrocesso criativo. AM trouxe faixas pegajosas, mas embaladas em uma produção tão polida e radiofônica que acabou deixando tudo previsível e genérico. Não é à toa que músicas como “Do I Wanna Know?” e “R U Mine?” se tornaram onipresentes em comerciais e trilhas sonoras — parecem feitas sob medida para isso.


Apesar de alguns bons momentos, grande parte do álbum carece da crueza e da ousadia que marcaram a fase inicial da banda. Aqui, o garage rock foi deixado de lado em favor de um som seguro, feito para agradar, mas sem alma. O resultado é um trabalho que até diverte no começo, mas rapidamente se desgasta. Justamente por isso, AM fica no fim da lista: é o retrato de uma boa banda tentando ser genérica.


6 - The Car (2022)

The Car (2022), capa do disco do ARCTIC MONKEYS
Imagem: Reprodução

Em The Car, Arctic Monkeys mergulha ainda mais fundo no clima orquestrado, cheio de cordas, arranjos grandiosos e uma produção mais sofisticada. Alex Turner soa cada vez mais confortável nesse papel de crooner elegante, como se tivesse abandonado de vez a ideia de ser o frontman de uma banda de rock. O resultado é um álbum de estética até que interessante, mas que parece mais interessado em impressionar com sua sofisticação do que em criar canções realmente memoráveis.


O grande problema de The Car é que, enquanto Tranquility Base ainda tinha o frescor da ruptura, esse segundo capítulo do “Arctic Monkeys pós-rock” dá sinais de desgaste. Muitas faixas soam excessivamente polidas, quase frias, sem a vitalidade que costumava ser marca registrada da banda. Ainda assim, há momentos de brilho genuíno — There’d Better Be a Mirrorball abre o disco de forma impactante, e Body Paint entrega um dos refrões mais intensos da fase recente. No conjunto, porém, The Car acaba sendo um trabalho mais respeitável.. do que necessariamente bom: mas tecnicamente superior ao AM.


5 - Suck It And See (2011)

Imagem: Reprodução
Imagem: Reprodução

Suck It and See é aquele disco que fica no meio do caminho: nem um desastre, nem um destaque. Tem seus momentos realmente bons — “She’s Thunderstorms” abre com um charme sexy, guitarras no ponto e vocais com um toque quase jazzy que funcionam bem. Já “Brick by Brick” traz uma quebra de ritmo com guitarras mais pesadas e vocais diferentes, o que dá uma cara grunge interessante. O problema é que, fora esses momentos, muita coisa soa morna, como se a banda estivesse testando ideias sem a mesma confiança de antes.


O álbum acaba sendo irregular, com composições que às vezes parecem mais longas e arrastadas do que deveriam. Alex ainda mostra talento como letrista, mas o conjunto carece da força e dos “grandes hits” que marcaram outros trabalhos da banda. É um disco que vale a audição, especialmente para fãs que querem entender a transição dos Monkeys nessa fase, mas dificilmente vai ser lembrado entre os melhores que eles já fizeram.


4 - Tranquility Base Hotel & Casino (2018)

Imagem: Reprodução
Imagem: Reprodução

Provavelmente o disco que mais divide opiniões junto do AM. Ao invés das guitarras marcantes e da energia explosiva, o Tranquility Base aposta num som mais lounge, cheio de teclados, sintetizadores, pianos e até cordas. É um álbum conceitual, inspirado em um jazz de bar, que transforma os Arctic Monkeys em algo totalmente novo. E, por incrível que pareça, eles soam muito confortáveis nisso — Alex Turner entrega letras mais poéticas e refinadas, com referências a tecnologia, cultura pop e solidão moderna, tudo com muita ironia.


O álbum tem uma produção lindíssima, cheia de detalhes, transições bem pensadas e momentos que realmente impressionam, como em “Star Treatment”, “One Point Perspective” e “She Looks Like Fun”. Ainda que não seja o tipo de trabalho que todo mundo vai colocar como favorito, a ambição aqui é clara, e é difícil não respeitar a coragem da banda em se reinventar de forma tão radical. É um disco que exige atenção, mas quando você entra na atmosfera dele, a experiência é única.


Se você ouviu em 2018 e não gostou, eu recomendo fortemente que dê mais uma chance.


3 - Humbug (2009)

Humbug (2009) Arctic Monkeys
Imagem: Reprodução

Quando Josh Homme entrou no estúdio com os Monkeys, muita gente achou que a mistura ia dar estranho. O resultado? Um dos álbuns mais interessantes da carreira deles. Humbug soa pesado, psicodélico, arrastado no bom sentido — parece um disco feito no meio do deserto, carregado de sombra e calor. Essa atmosfera casou perfeitamente com a virada lírica de Alex Turner, que aqui deixou de lado o humor direto dos primeiros discos para escrever versos cheios de imagens esquisitas e ás vezes meio questionáveis.


“Crying Lightning” é praticamente um cartão de visitas desse novo estilo, enquanto “Cornerstone” mostra como Turner consegue ser poético falando de um coração partido.


Instrumentalmente, a banda também está em ponto alto. Matt Helders domina o álbum com uma bateria furiosa e inventiva, Jamie Cook segura riffs que se encaixam como luva no clima sombrio, e Nick O’Malley ainda acha espaço para baixos certeiros. Claro, nem tudo brilha — faixas como “Dangerous Animals” não passam da conta — mas a densidade do álbum não deixa espaço pra tédio. Humbug pode não ter a energia explosiva dos dois primeiros trabalhos, mas é nele que a banda mostra que sabia muito bem como se reinventar sem perder a identidade. Um disco que só melhora com o tempo e que coloca os Monkeys em um nível de maturidade absurda.



2 - Whatever People Say I Am, That's What I'm Not

Imagem: Reprodução
Imagem: Reprodução

O álbum de estreia dos Arctic Monkeys não foi só um sucesso — foi um fenômeno. E não é difícil entender por quê: Whatever People Say I Am, That’s What I’m Not captura como poucos discos um retrato cultural, o da juventude britânica dos anos 2000 — noites em pubs, flertes desajeitados, brigas, ressacas e toda a energia meio caótica da vida noturna.

A força desse álbum está toda na forma como Alex Turner transforma cenas banais em poesia cínica e sagaz. Ele narra noites de bebedeira, romances passageiros e confusões com um realismo que soa engraçado, doloroso e incrivelmente autêntico. Músicas como “I Bet You Look Good on the Dancefloor” e “When the Sun Goes Down” viraram hinos instantâneos, enquanto faixas como “Mardy Bum” e “A Certain Romance” mostravam que havia também um lado melódico e mais sentimental escondido debaixo das guitarras aceleradas.


A banda tinha só uma ideia naquele momento, mas executou essa ideia à perfeição. A velocidade, a urgência e a crueza compensam a falta de variedade. Se o tempo mostrou que os Monkeys cresceriam e mudariam muito seu som, esse debut continua sendo um registro cru e honesto de uma época. É um álbum que talvez faça mais sentido pra quem viveu a cena britânica dos anos 2000, mas ainda hoje transmite uma energia viciante e inesquecível. Pode não ser o mais completo da carreira, mas é o que transformou os Arctic Monkeys em um dos maiores nomes do rock do século XXI — e por isso ele fica com a segunda posição.


1 - Favourite Worst Nightmare (2007)

Imagem: Reprodução
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Se o primeiro álbum já tinha colocado os Monkeys no mapa, Favourite Worst Nightmare veio pra mostrar que eles não eram só fogo de palha. Esse disco é puro gás, um turbilhão de riffs, viradas de bateria insanas e algumas das melhores letras da banda. É o tipo de álbum que não te dá descanso: quando precisa ser rápido e agressivo, ele arranca seu fôlego, e quando desacelera, te pega pelo coração. Tudo isso costurado numa tracklist que simplesmente não falha.


A abertura com “Brianstorm” já é um soco no estômago — caótica, veloz, impossível de ignorar. “Teddy Picker” mostra Alex Turner tirando sarro da fama com uma das melodias mais viciantes da discografia, e “D Is for Dangerous” traz aqueles vocais de gangue que fazem a faixa soar diferente de tudo antes. É uma sequência inicial que gruda e já crava o disco como um dos grandes do indie rock dos anos 2000.


Mas o segredo está no meio do álbum. “Fluorescent Adolescent” é, talvez, a música mais amada e universal da banda até hoje, aquele tipo de faixa que consegue ser nostálgica e dolorosa sem perder o charme pop. Logo depois, “Only Ones Who Know” mostra um Arctic Monkeys etéreo, simples, quase minimalista, mas com uma melodia e um clima que enchem a sala inteira. E aí vem “Do Me a Favour”, com aquele final explosivo que ainda arrepia. Esse miolo do disco é simplesmente impecável.


A reta final mantém a energia mas dá espaço para o experimentalismo. “This House Is a Circus” e "If You Were There, Beware” já antecipam a atmosfera mais densa que viria em Humbug, enquanto “Old Yellow Bricks” tem um tom quase de despedida, como se a banda já estivesse se preparando para virar a página. E claro, o grand finale: “505”. Essa é, sem exagero, uma das músicas definidoras do século XXI. Dreamy, intensa, com uma construção de tensão que parece nunca envelhecer. É aquele tipo de som que converte não-fãs em fãs, de tão universal e magnético.


No fim, Favourite Worst Nightmare consegue algo raro: ele é tão caótico quanto calculado. Sabe o momento certo de te fazer dançar, de te fazer correr, e de simplesmente te destruir emocionalmente. Se o primeiro disco mostrou quem eram os Arctic Monkeys, foi aqui que eles se provaram como uma das melhores bandas de sua geração. Um clássico absoluto do indie rock moderno, e pra nós o melhor disco do Arctic Monkeys.

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