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Por que ainda ouvimos Is This It, do The Strokes?

Porque 24 anos depois, ainda soa como um começo — e nunca como passado

Foto: The Strokes/Divulgação
Foto: The Strokes/Divulgação

Lançado em 30 de julho de 2001, Is This It completa hoje 24 anos. E a pergunta do título continua mais viva do que nunca — não como dúvida, mas como afirmação. Porque sim, era isso. E ainda é.


Os Strokes chegaram como quem não queria nada: cinco caras de jaqueta de couro, cabelos bagunçados e guitarras afiadas, relembrando a simplicidade do punk nova-iorquino dos anos 70 com a postura blasé de quem cresceu entre bares decadentes e sonhos de garagem. O impacto foi imediato. Em pouco tempo, a banda virou símbolo de uma nova cena, puxando a virada estética e sonora do rock nos anos 2000 — uma guinada que deixou para trás o maximalismo do nu-metal e do pop punk para abraçar o cru, o reto, o direto.



Capa "original" do disco. Foto: Is This It/Reprodução
Capa "original" do disco. Foto: Is This It/Reprodução

O rock mainstream do começo dos anos 2000 era dominado por estéticas superproduzidas, letras explosivas e bandas de visual carregado. Grupos como Limp Bizkit e Korn reinavam nas rádios, enquanto o pop punk pasteurizado tomava conta da MTV. O cenário indie parecia fragmentado e sem voz no centro da cultura pop. Foi nesse vácuo que Is This It chegou — não com gritaria ou solos grandiosos, mas com uma elegância descuidada, que soava como uma antítese de tudo que estava em alta. O disco não só resgatava elementos do punk e do rock de garagem como também os atualizava, com charme nova-iorquino, cortes precisos e senso melódico que havia sumido do radar comercial.


 Apesar do sucesso crítico quase imediato, o álbum precisou ser modificado para o mercado americano: a faixa New York City Cops, que criticava a polícia local, foi substituída por When It Started na versão lançada nos EUA por conta dos atentados de 11 de setembro, que aconteceram semanas antes do lançamento. A capa original — uma fotografia sensual e minimalista de uma mão enluvada tocando um quadril nu — também foi considerada provocativa demais e substituída por uma imagem abstrata. Enquanto na Europa o disco era visto como vanguarda, nos EUA ele teve que se ajustar a um clima de tensão, luto e conservadorismo cultural.


Capa alternativa Lançada nos EUA. Foto: Reprodução
Capa alternativa Lançada nos EUA. Foto: Reprodução

Talvez o mais impressionante de Is This It seja como ele apareceu na hora certa. Faltava alguém que soasse humano, direto, despretensioso. E aí vieram os Strokes, com letras sobre tédio, desejo e noites confusas. Sim, foram endeusados como “salvadores do rock” — uma expectativa exagerada — mas impossível negar que esse disco acendeu um novo pavio. Ele fez e segue fazendo pessoas de várias gerações quererem pegar uma guitarra e montar uma banda. Is This It não inventa nada: lembra que o básico, quando bem feito, ainda pode soar revolucionário.



Mesmo com apenas 36 minutos, nada sobra, nada falta. As guitarras de Nick Valensi e Albert Hammond Jr. se entrelaçam de forma quase matemática — ora duelando em riffs cortantes como em Last Nite e Take It or Leave It, ora criando texturas mais sutis em faixas como Soma ou Alone, Together. A bateria de Fabrizio Moretti, seca e contida, dita o ritmo com precisão quase mecânica, enquanto Nikolai Fraiture no baixo dá o corpo que sustenta tudo. O produtor Gordon Raphael captou esse som em fita analógica, mantendo a sujeira, os vazamentos e a aspereza dos ensaios — como se a banda estivesse tocando no seu quarto, não em um estúdio


Strokes performando no "MTV $2 Bill". Foto: Reprodução
Strokes performando no "MTV $2 Bill". Foto: Reprodução

Julian Casablancas canta como se tivesse acabado de acordar de uma ressaca eterna — e esse é o charme. Sua voz abafada, passada por distorções, funciona como mais um instrumento: rouca, melódica e insolente, ela carrega a identidade do disco. Há uma urgência em faixas como Hard to Explain e Barely Legal, mas também uma frieza emocional quase cínica, especialmente na faixa-título e em Trying Your Luck. O disco inteiro parece se equilibrar entre o controle e o caos — entre o cálculo e a espontaneidade. Julian entende como poucos o poder da contenção: nunca apela para grandes agudos, nunca se esforça para soar mais do que é. E justamente por isso soa eterno. Sua capacidade de dizer tanto com tão pouco, de tornar o desinteresse carismático, faz dele um dos maiores vocalistas de banda da história — não por alcance ou técnica, mas por identidade. Ele não precisa gritar para ser explosivo.


Hoje, 24 anos depois, Is This It continua soando fresco, direto, jovem. Porque o tempo passa, mas alguns discos não envelhecem — eles se tornam referência.



A gente ainda ouve Is This It porque ele não pertence apenas ao seu tempo. Ele moldou o som de uma geração e segue influenciando bandas até hoje. É um disco que soa jovem, direto, moderno — mesmo depois de duas décadas. E talvez porque, no fim, ele continua nos fazendo a pergunta do título. A gente só precisa continuar ouvindo pra lembrar que a resposta, às vezes, é exatamente essa: isso aqui.




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