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Meus 84m² e sua poderosa analogia com a atual prática da especulação imobiliária

Muito do que vemos na tela retrata principalmente a corrida que o capitalismo desenfreado causa ao nosso redor

Meus 84m²
Créditos: Reprodução/Netflix

O Cinema sempre soube capturar os diversos acontecimentos que circulam ao nosso redor. Uma análise crítica, um olhar atento, um debate sobre as atualidades do mundo. Nada escapa das lentes de uma câmera e de um diretor que pretende lançar isso para a tela. Sendo polêmico ou não, o resultado da ficção não escapa em nada de nossa realidade, muitas vezes resultando como cruel e imperdoável.

 

Muito do que vemos na tela retrata principalmente a corrida que o capitalismo desenfreado causa ao nosso redor. Um mundo desigual, o esnobismo social, ganância, egoísmo, o dinheiro como alavanca que confere status e o topo da pirâmide. O Cinema asiático é eficaz nessa tarefa, sobretudo nas produções coreanas tanto que a série Round 6 e o filme Parasita (2019) são exemplos que se encaixam perfeitamente nessa ótica.

 


Os diretores coreanos Kim Tae-joon e Sharon S. Park trazem para seu filme Meus 84m² (84 Jegopmiteo, 2025) uma das temáticas mais comuns do país: o panorama da especulação imobiliária. Claro, esse é apenas um dos elementos que se misturam numa narrativa que envolve Drama a Suspense.

 

Nos minutos iniciais com toda uma sequência de cenas dinâmicas, contemplamos Woo-seong (Kang Ha-neul) conseguindo comprar seu tão sonhado apartamento após anos de economia. Entretanto, começa a sofrer com ruídos e barulhos de outros andares, além de vizinhos inquietos e estranhos.

 

A crítica começa logo no início quando o chefe de Woo-seong fica sabendo que ele comprou um apartamento. O chefe argumenta dizendo que ele é um pobre e nesta situação não teria condições de comprar um imóvel. Depois diz que agora o empregado deixou de ser pobre para ser um proprietário pobre. Um diálogo que representa bem as relações socioeconômicas da atualidade.

 

Woo-seong é um homem que além de seu trabalho ainda faz entregas noturnas com sua bicicleta para poder melhorar a renda. Para conseguir manter seu sonho do imóvel próprio, precisa fazer alguns sacrifícios inclusive econômicos como ficar ao máximo no escuro, não ligar o ar condicionado e até mesmo dormir no chão.

 

Créditos: Reprodução/Netflix
Créditos: Reprodução/Netflix

O mercado das criptomoedas também é citado durante o filme. Entre apostar nesse tipo de investimento e agora tentar vender seu apartamento por um preço mais alto para saldar dívidas, ele passa por momentos apreensivos. A tensão cresce conforme o próprio homem passa por noites mal dormidas e também começa a ser acusado pelos vizinhos dele ser o responsável pelos barulhos que ocorrem.

 

Numa das melhores passagens do filme, Woo-seong, desgastado física e psicologicamente por esses eventos, causa o maior tumulto dentro de seu apartamento tentando fazer o máximo de barulho. Profusão de cenas embaralhadas que nos perturbam e nos colocam diante da situação do personagem. Importante como a fotografia e o som foram importantes aqui para a construção da passagem.

 


Em outra cena crucial do filme, ele precisa apenas apertar um botão no computador para poder continuar ganhando com seus investimentos. Porém, se envolve numa situação tão constrangedora e conturbada que mal consegue realizar esse simples ato (e essa passagem termina de uma forma tragicômica, convenhamos).

 

A primeira metade do filme expõe bastante algumas críticas e nos coloca diante de muitos problemas que enfrentamos na atualidade (e consegue bem). A outra metade, apesar de forma corrida, segue por um caminho denso, pesado, com revelações e choques. Não perde o jeito que o cinema coreano costuma concluir suas produções, um desfecho bem explosivo, cru e que termina deixando no espectador algumas reflexões e até mesmo dúvidas.

 

Embora não entregue todo um potencial, Meus 84m² nos coloca empáticos com o personagem. Muitas vezes seremos cúmplices de algumas situações vividas por Woo-seong que retrata fielmente um ser humano desses tempos. E, se o filme já causa essa aproximação entre realidade e ficção, essa empatia com a narrativa, ele já merece uma conferida e seguiu por um caminho interessante.

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Trailer:


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