Há 30 anos, os Ramones diziam adeus sem perder a essência: barulho, ironia e atitude até o último acorde
- Marcello Almeida
- há 16 horas
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Ramones nunca acabaram — eles apenas fizeram questão de sair do palco gritando

No dia 18 de julho de 1995, os Ramones lançavam seu último grito em estúdio: ¡Adios Amigos!. Três décadas depois, o álbum permanece como um testamento final do punk direto e sincero que a banda cultivou por mais de vinte anos. Era o 14º e último disco da carreira — e a despedida, como tudo que vinha deles, foi barulhenta, irônica e sem pedir desculpas.
Longe de soar como um lamento ou requentado de hits antigos, ¡Adios Amigos! trouxe um Ramones coerente com sua história — e, ao mesmo tempo, lúcido sobre seu próprio fim. Faixas como I Don’t Want to Grow Up, um cover agridoce de Tom Waits, e She Talks to Rainbows, composição sensível de Joey Ramone, traziam à tona a fragilidade por trás da jaqueta de couro. Já Born to Die in Berlin, cantada por Dee Dee Ramone — que havia deixado a banda anos antes, mas voltou simbolicamente para esse último capítulo —, parecia uma crônica sombria escrita com tinta preta e sangue seco.
Dee Dee, aliás, não apenas cantou, como assinou seis das faixas. Sua presença deu ao disco um tom de reconciliação silenciosa. Era o ciclo se fechando com o mesmo caos poético com que havia começado nos becos de Nova York.
A arte da capa também falava alto: dois dinossauros de sombrero num deserto surreal, extraídos de uma obra de Mark Kostabi, modificada digitalmente para exalar fim de linha, deboche e absurdo. Dentro do encarte, os quatro Ramones — Joey, Johnny, Marky e C.J. — posam como condenados à execução. Punk até na despedida.
Produzido por Daniel Rey, parceiro de longa data da banda, o disco mantém uma energia crua, honesta, alternando entre velocidade, raiva e melancolia. Os Ramones pareciam saber que estavam dizendo adeus — mas sem drama, sem lágrimas. Apenas um último “1, 2, 3, 4” jogado contra o mundo.
Trinta anos depois, ¡Adios Amigos! ainda soa como deveria: um adeus digno, rasgado, sem retoques. Uma última faixa de resistência em uma discografia que nunca implorou por relevância — ela simplesmente existiu, viveu, influenciou e encerrou com honra.
Porque os Ramones não morreram. Eles apenas disseram adeus do único jeito possível: fazendo barulho.