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Foto do escritorMarcello Almeida

Entrevista: Sargaço Nightclub, reflexões sonoras em tempos de transformação

 "É um mundinho novo que está se descortinando e que a gente tá amando conhecer!"

 Sargaço Nightclub


Em meio à efervescência cultural do Nordeste brasileiro, surge a banda Sargaço Nightclub, uma expressão autêntica da criatividade e renovação musical pernambucana. Com o lançamento de seu segundo disco já disponível nas plataformas digitais desde o 04 de janeiro, o grupo tem se destacado por sua abordagem inovadora e engajada, participando de festivais renomados como o #ZiriguidumEmCasa, onde homenagearam figuras icônicas da música brasileira como Dóris Monteiro e Alceu Valença.


Conversamos com Marrê, vocalista e guitarrista da banda, para mergulhar nos detalhes desse novo trabalho que reflete sobre os desafios pandêmicos através de uma sonoridade diversificada, abrangendo desde a psicodelia ao rock, eletrônica e folk. A banda não apenas aborda temas contemporâneos e provocativos, mas também se inspira em obras literárias marcantes, criando uma experiência musical rica e reflexiva para o ouvinte.

 

É possível perceber nas canções do álbum a influência literária de obras de George Orwell, momento triunfante e reflexivo no disco. Além de Orwell, quais outros autores ou obras literárias influenciaram as letras e temas do disco? E no aspecto musical, quais bandas ou estilos foram fundamentais na construção do som do Sargaço Nightclub?


Em “Yorubá Rei” fazemos a citação “Eu vim acorrentado” do poema “We came in chains” de Muhammad Ali. No disco “Istmo” tem “Além do Bem e do Mal” que tem a letra toda inspirada em passagens de Nietsche, e também “O Mundo Sem Nós”, inspirada do livro de Alan Weisman. No aspecto musical, as influencias são bem variadas, propositalmente. Acho que nas antigas se fazia muito isso, num disco os artistas mostravam a sua versatilidade, e eu cresci tendo essa referência. Tem de rock clássico (O Grande Irmão) a darkwave (Fôlego), passando por blues fusion (Monodrama), Ska (Yorubá Rei) e pop psicodélico (Em busca de Conexão/ Carbureto), sem esquecer as baladas.



Outro ponto que percebemos ouvindo o disco foi uma certa conexão com as experiências da pandemia, isso teve um impacto significativo no conteúdo lírico do álbum? Como foi o processo de transformar essas vivências, muitas vezes difíceis e complexas, em música? Existem faixas específicas que você considera mais representativas dessas reflexões?


Se há um conceito no álbum é exatamente as vivencias durante a pandemia. Desde as separações (Por Enquanto, Eu/ Faz Falta), os dramas com saúde mental (Fôlego), e com a política (A Dança do Caos), o BLM (Yorubá Rei), o “boom” da vigilância digital (O Grande Irmão)... O nome Bioluminescente vem daí: a exemplo dos animais abissais, sob altas pressões e em meio à escuridão quase que total, o que nos restou foi criar luz própria para poder sobreviver, resistir...


A faixa ‘Yorubá Rei’ aborda o tema do racismo com um ‘suingue’ característico. Como vocês abordam o processo de escrever músicas que dialogam com questões sociais e políticas delicadas, mantendo a essência artística da banda?


Desde sempre escrever sobre questões políticas foi uma tônica da banda. As vezes mais na cara como a recente Yorubá Rei, às vezes mais sutilmente em meio à música, como Aquarius, que fala sobre os contrastes da cidade de Recife, a exemplo do filme que inspirou a letra de Kleber Mendonça (2016. Acho natural, falar de política, tá na nossa cara todos os dias, difícil seria fugir da realidade e não falar sobre isso nas letras... Acho que é da própria essência da banda mesmo.



O Sargaço Nightclub explora uma ampla gama de estilos musicais, de psicodelia a folk. Como vocês decidem quais sonoridades incorporar em suas músicas e há algum critério específico para essa escolha, ou é mais um fluxo orgânico de experimentação?


É de fato um fluxo orgânico, ao menos até hoje tem sido assim. Mas nada impede que venhamos a direcionar trabalhos futuros, musicalmente falando. Acho que é uma tendência até que foquemos na parada mais eletrônica-dançante, a gente tem curtido muito! Se bem que as baladas, todo mundo também gosta! kkkkk.



Pode nos contar um pouco sobre o processo criativo por trás do segundo disco? Como foi a dinâmica de trabalho entre os membros da banda durante a composição e gravação das faixas, especialmente considerando as limitações impostas pela pandemia?


O compositor das músicas da banda sou eu, Marrê, mas uma boa parte das canções foram feitas em parceria. Com o isolamento social, estreitei o contato com amigos com quem dividi parcerias, ou seja, coloquei letras em músicas, dividi letras em outros casos, e em outro dividi a parte musical também, como aconteceu em “Em Busca de Conexão”, com o grande Nenung! Interessante este caso, pois eu tinha uma linha musical bem seminal ainda e entreguei para ele, o que o inspirou na criação de toda a base da música e da letra; ele então me enviou e eu fiz novos ajustes para chegar na versão final.


Também teve dois casos de “presentes” que nos foram dados: “Fôlego”, composta por encomenda por Lucio Gomez, um grande amigo rapper aqui de Recife, e “Faz Falta”, que permitiu que déssemos uma roupagem totalmente nova à sua composição. Só para terminar, ainda cito o caso de “Giralua”, que foi feita a 06 mãos: a música me foi entregue por Magrão (vocalista da icônica banda recifense Cascabulho) e a letra por uma amiga compositora parceira, Carina Mayara. Meu trabalho foi de juntar uma coisa com a outra, e confesso que foi mágico como o encaixe aconteceu facilmente, pois ambos não se conhecem!



Desde o lançamento do álbum no início de janeiro, qual tem sido a reação do público e da crítica? Há alguma resposta específica que te surpreendeu ou teve um significado especial para você e a banda?


As reações estão sendo muito positivas sim! Desde as músicas, até o conceito do álbum e sua estética. Sem puxação de saco, eu confesso que uma das melhores coberturas do lançamento foi o texto publicado pelo Teoria Cultural, a matéria realmente me emocionou! Outra coisa que vale a pena ressaltar é que alguns veículos ainda se surpreendem com a nossa amplitude de referências musicais, talvez estranhem, mas isso tudo é muito bem pensado do lado de cá, podem ter certeza! As audições tem crescido bastante nas plataformas, e é surpreendente quão longe o nosso trabalho pode chegar (“A Dança do Caos” foi a faixa mais ouvida e a maioria das audições veio da Suécia, segundo as estatísticas do Spotify!)


 Acho natural, falar de política, tá na nossa cara todos os dias, difícil seria fugir da realidade e não falar sobre isso nas letras... Acho que é da própria essência da banda mesmo.

Como você vê a posição do Sargaço Nightclub dentro da cena musical contemporânea de Pernambuco? E de que maneira você acha que a banda contribui para a evolução dessa cena?


A gente investe pesado, a gente leva a sério este trabalho, e isso se reflete em como o cenário do rock independente nos enxerga. Mas é claro que há muito o que galgar... Estamos nos reestruturando com esta formação em trio, que tem um ano apenas! Então é um recomeço também. Mas creio que a busca de uma sonoridade própria, e a organização de tudo, em se tratando de uma banda totalmente independente, deve inspirar muita gente...


A banda participou de festivais renomados como o #ZiriguidumEmCasa, homenageando artistas como Dóris Monteiro e Alceu Valença. Como essas experiências influenciaram o Sargaço, tanto em termos de visibilidade quanto de aprendizado musical?


Com certeza estas participações influenciaram na circulação do nosso nome pelo cenário nacional, mas como disse anteriormente, estamos num processo de reformatação. Quando participamos do Ziriguidum, tínhamos duas vozes, cinco integrantes na banda, e tinha todo um foco no lance mais folk e nos trabalhos de duo vocal. Hoje somos um trio, com uma sonoridade se encaminhando fortemente pro darkwave, electro indie rock, e agora eu sou a única voz à frente da banda. É uma nova história, dentro da nossa história, novos ares e novas fases!



Quais são os planos futuros para o Sargaço Nightclub? Há alguma direção específica que vocês pretendem explorar em termos musicais ou temáticos nos próximos projetos?


Tocar, tocar e tocar! Como disse anteriormente, como estamos hoje em dia flertando bastante com os elementos eletrônicos, mais dançantes, então vislumbramos um caminho seguindo pra esse lado, e desde 2022 pra cá a gente vem se aproximando de uma galerinha que muito tem nos agradado, do chamado “rolê gótico”, não só aqui de Pernambuco, mas de estados vizinhos, como Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará... É um mundinho novo que está se descortinando e que a gente tá amando conhecer! Então vocês podem esperar algo puxado pro dark-dançante, mas claro, sem perder a estética musical que a gente vem construindo há tantos anos.




Por fim, que mensagem você gostaria de passar aos fãs e ouvintes do novo disco? Há algum aspecto particular do álbum que você espera que ressoe de maneira especial com o público?


Esperamos que vocês possam ouvir a obra por completo, curtir a viagem submarina que é Bioluminescente. O disco começa na superfície e submerge a profundezas, com níveis de calmaria e turbulências distintos... É um registro quase que musicográfico de acontecimentos pontuados durante a pandemia, que foi um período em que nossa banda se desenvolveu bastante (a exemplo das duas participações no festival Ziriguidum em Casa!) mas que também por muito pouco não se acabou.


Bioluminescente é um grito a se guardar, mas também um novo ponto de partida. Convidamos a todos a conhecer no Spotify e demais plataformas digitais e também a assistir aos clipes desde trabalho, como “A Dança do Caos”, “O Grande Irmão”, “Faz Falta” e “Em busca de Conexão”. Estes clipes têm rodado o Brasil e alguns países fora dele em festivais de cinema! Esperamos que gostem, que nos sigam, se inscrevam, se juntem a nós neste nosso mar de sargaço! Abraços a todos vocês e gratidão imensa à equipe da Teoria Cultural (vocês são jóia!)!

 

 

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