Daron Malakian relembra criação de Toxicity e a inocência que deu origem a um clássico
- Marcello Almeida
- há 22 horas
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Da infância ao caos do mundo

Alguns discos parecem nascer em estúdios blindados, laboratórios sonoros calculados. Outros, no entanto, carregam a marca da vida comum — do quarto dos pais, do banco de trás de um ônibus, do improviso. Toxicity, o segundo álbum do System of a Down, pertence a esse último grupo.
Em entrevista recente à Metal Hammer, Daron Malakian, guitarrista e cérebro criativo da banda ao lado de Serj Tankian, revelou:
“Eu escrevi todo o disco do Toxicity enquanto ainda morava com meus pais. Eles me ouviam tocando guitarra no meu quarto, e quando o álbum foi lançado, eles ouviam Aerials ou Chop Suey! na rádio ou na MTV e ficavam tipo: ‘Ah, é aquela que a gente ouvia você tocando no quarto o tempo todo!’ Então acho que eles sabiam mais do que eu.”
É essa inocência, quase doméstica, que torna ainda mais impressionante a dimensão que o álbum tomou. De dentro de um quarto nasceu um dos discos mais emblemáticos do século XXI.
A gênese de um furacão
Toxicity, lançado em setembro de 2001, foi mais do que um disco: foi um terremoto cultural. No meio da cena nü metal que já mostrava sinais de desgaste, o System trouxe algo novo — um hibridismo brutal de riffs cortantes, melodia armênia, crítica política e humor ácido. Era como se Zappa tivesse se encontrado com o Slayer em um campo de batalha pós-moderno.
Malakian lembra que algumas músicas surgiram até mesmo no improviso da estrada:
“Chop Suey!, por exemplo, eu escrevi em turnê, no fundo do ônibus. Eu tinha um violão e simplesmente escrevi aquele arranjo. Eu não componho riffs, eu componho músicas. Chop Suey! eu trouxe com os vocais.”
E ainda revelou uma curiosidade: a letra original era bem diferente.
“Às vezes, Serj usava essa melodia e escrevia letras diferentes — por exemplo, a letra original de Chop Suey! era: ‘Wake up / Tell me what you think about tomorrow / Is there gonna be a pain in sorrow? / Tell me what you think about the people / Is there going to be another sequel?’ Essa era a minha fala. Mas aí é Serj dizendo: ‘Wake up, grab a brush…’. Colaborávamos dessa forma, mas eu diria que em 85 a 90% das vezes era eu quem fazia tudo.”
A força da inocência
É curioso pensar que músicas tão carregadas de raiva, crítica e intensidade nasceram em contextos tão íntimos e quase ingênuos: um quarto de adolescente, uma viagem de estrada, um violão no colo. Essa é talvez a maior lição de Toxicity: a arte que parece incendiar o mundo, muitas vezes, é parida no silêncio da vida comum.
O disco que não envelhece
Vinte e quatro anos depois, Toxicity não soa datado. Continua sendo trilha de protesto, catarse e identidade. É um álbum que atravessou gerações porque mistura brutalidade e beleza, caos e lirismo, sempre com a marca única do System of a Down.
Enquanto Daron surpreende fãs em bares de Chicago ou revive memórias de quando compunha escondido dos pais, a verdade é que Toxicity permanece vivo porque nasceu de algo essencial: a necessidade de transformar sentimentos em som. E quando isso acontece, o tempo não corrói — apenas consagra.
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