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Vale Maligno: um pai desesperado num território sombrio envolvendo o sobrenatural e o trauma

Interessante como o filme sem apelar para sangue, gore ou efeitos absorve o espectador

Cena do filme, Vale Maligno
Créditos: IMDB / Divulgação

Vale Maligno (The Moor, 2023) apresenta uma das formas mais tristes de começar alguma narrativa. O desaparecimento de uma criança quando outra presencia o evento e isso a traumatiza pelo resto da vida. Aqui, neste caso, o garoto Danny apenas deseja saborear um doce. Sem dinheiro, ele e sua amiga Claire resolvem então criar um plano para roubar doces de uma loja. Infelizmente, durante o plano, Danny desaparece misteriosamente.

 


Vinte e cinco anos depois, sabemos que o garoto nunca apareceu. Agora adulta, Claire (Sophia La Porta) carrega a culpa pelo desaparecimento do amigo. Outras crianças também desapareceram, mudando as características e o modo de vida de um lugar que passou a viver com medo, tanto que o filme vai mostrando vários depoimentos dos habitantes sobre os desaparecimentos.

 

Embora o possível sequestrador tenha sido preso, ele será solto por não haver provas suficientes a respeito das crianças. Bill (David Edward-Robertson), o pai de Danny, está determinado a encontrar os restos mortais das crianças, inclusive de seu filho. Ele acredita que elas estejam enterradas numa grande charneca da região.

 

Em sua determinação, Bill pede a ajuda de Claire e também conta com a colaboração de uma policial, de um amigo e de uma garota que possui o dom da mediunidade. Dotado de um mapa e usando recursos como a radiestesia**, a cada dia o homem sai afoito numa jornada pela região encharcada atrás de possíveis pistas.

 

Interessante como o filme sem apelar para sangue, gore ou efeitos absorve o espectador. O drama de um pai em saber a verdade sobre o filho, o mistério que ronda a cidade e a própria atmosfera sombria e enevoada da charneca são suficientes para que sejamos hipnotizados. Não é um filme sobre vingança (longe disso), e sim, sobre encontrar verdades num território adverso onde o trauma ainda reside.

 

Depois, a película ganha outros contornos. Os aspectos sobrenaturais passam a ser mais intensos, com direito a animais raivosos e pedras com símbolos que surgem, além das visões assustadoras (que são mais ativas em Claire). Muito do filme também casa com o folclore e a cultura celta. Dessa forma, simbologias e alegorias estão presentes na trama.

 

Créditos: IMDB / Divulgação
Créditos: IMDB / Divulgação

Embora os diálogos e as reuniões com o grupo passem a ser cansativos e não despertem mais tanto a atenção como na primeira metade, os olhos do espectador passam a se voltar para a charneca que sempre guarda uma surpresa maior conforme os personagens avançam pela região, sobretudo quando a névoa aumenta e a noite vem se aproximando.

 

Para aumentar a tensão e o realismo, em algumas ocasiões o filme, que é o primeiro do diretor Chris Chronin, também inclui a técnica cinematográfica do found footage. Isso é bem evidente nos depoimentos dos moradores sobre os desaparecimentos e também pelo olhar de Claire em alguns de seus momentos de crise de pânico ou sobre sua visões dentro do espaço da charneca.

 

A última meia hora é bem frenética. O cenário aqui guarda seus ingredientes para criar uma atmosfera mais sombria e voltada ao terror tradicional. Uma frágil barraca que serve de abrigo em meio a algo inóspito, a noite chuvosa que chega inesperadamente, a sensação de estar perdido e a densa névoa ofuscando quem está a nossa frente.

 


O final, embora reacenda muitas dúvidas e fique aberto a distintas interpretações, é pesado e amargo. Não é tão perfeito, mas é bem realista. Não inventa tanto e traz o aspecto humanista como uma de suas alavancas, mesmo com seus toques sobrenaturais e mais contundentes.

 

Lembre-se, esse é (mais) um filme que trata de crianças com vidas interrompidas, onde traumas e culpas podem ser carregados pela vida toda e onde algumas coisas devem permanecer onde estão. Esse é o primeiro filme do diretor Chris Chronin.

 

** Radioestesia, ou radiestesia, é a arte de detectar energias através da sensibilidade pessoal, geralmente com o uso de instrumentos como pêndulos, varetas em Y ou outros aparelhos. Fonte da informação: Wikipedia.

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Trailer:


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