Série The Last Of Us captura a essência do jogo e ainda oferece outras camadas cinematográficas
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Série The Last Of Us captura a essência do jogo e ainda oferece outras camadas cinematográficas

Mesmo com um tema que possa parecer cansado como o mundo pós-apocalíptico causado por uma epidemia, The Last Of Us convence e confere novos ares a essa temática

Foto: HBO


Existe uma infeliz regra de que jogos de videogame não costumam render bons seriados ou filmes. Tomando como exemplo as produções cinematográficas de Resident Evil, que cada vez despenca nas qualidades de suas produções fora dos jogos, essa regra é a mais pura verdade. Mas convenhamos que trazer um universo de jogo para uma tela de cinema realmente não é fácil. É preciso ter cautela e pensar bem nas características de cada um (jogo e produção cinematográfica).


Há um risco do filme ou da série ficarem muito semelhantes ao jogo e se tornarem bastantes exageradas, bem como há o perigo de tudo fugir demais da história do jogo e, ao se apropriar de novas ideias, a trama acabar desagradando o espectador, sobretudo o fã do jogo. Foi o que aconteceu com a série Resident Evil da Netflix que decepcionou e fracassou. Como resultado, sequer receberá uma segunda temporada.



Pelo sucesso que fez em seus dois jogos, a série de The Last Of Us veio com uma dificílima obrigação. Sair da lista do retrospecto negativo que a relação Jogos-Cinema possui. Tudo se torna ainda mais interessante e com muitas expectativas quando sabemos que é a poderosa HBO que está por trás dessa missão.


Claro que nem sempre tudo cai no gosto dos fãs. E nem sempre todos ficam felizes. No começo, muitos torceram a cara para o elenco. Bella Ramsey como Ellie? Pedro Pascal como Joel? Para alguns, a diferença física era enorme e isso incomodava logo a princípio. E olha que ambos atuaram muito bem em Game Of Thrones.


Para provar como o ator não precisa ser corretamente idêntico ao personagem do jogo, basta lembrar-se do primeiro episódio com a filha de Joel, Sarah Miller. A atriz conseguiu transferir uma emoção ímpar na atuação de Nico Parker, a relação que passa entre filha e pai emociona e garante que a série não veio à toa.


Também é preciso de algum tempo para que a desenvoltura dos personagens aconteça. No caso da trama, a aproximação entre Joel e Ellie é um processo lento, mas fortalecido a cada passagem, a cada conflito. Isso a série captura bem, tal qual o jogo.


Outro fator importante foi manter personagens marcantes do jogo na série. Bill (Nick Offerman), Frank (Murray Bartlett), Tess (Anna Torv), Henry (Lamar Johnson) e Sam (Keivon Woodard) fazem sua presença. As mudanças inseridas para as ações e os destinos desses personagens não desestruturaram o bom enredo e conseguem comover tanto os fãs do jogo como quem nem sequer teve a chance de jogar. Até Troy Baker, o ator responsável pela voz de Joel no jogo, aparece como outro personagem na série, essencial para alguns acontecimentos dentro do enredo.


O visual é caprichado. Captura fielmente a ideia de um mundo devastado, desolado, minado por um cenário pós-apocalíptico, embora apresente certa beleza em alguns momentos (como a neve caindo, a natureza ao redor e aquela noção de que possa existir sempre alguma esperança.).


Ambientes externos também fazem a sua parte. Detalhes como escombros, ruínas, cômodos escuros, rastros do fungo Cordyceps no chão e paredes acrescentam uma claustrofobia que causa desconforto. O perigo de algum infectado ou mesmo de algum humano que precisa matar para sobreviver é frequente em cada lugar que os personagens chegam.



Outra bronca presenciada através das redes sociais é sobre a ausência de muitos infectados ou de mais ação. Uma produção constituída de capítulos/episódios precisa manter seu equilíbrio. Em séries, é comum um episódio mais impactante, outro mais parado e com muitos diálogos para desenvolver melhor as características dos personagens. Então já poderíamos esperar momentos onde a carga dramática ocupa sua vez, cenas que revelam as sequelas e mazelas ocasionadas por um mundo que tenta agora sobreviver, sem exceções.


A trilha sonora é outro atrativo. Artista já conhecido pela música do jogo, Gustavo Santaolalla, comparece com seu belo toque de violão. Porém, assim como Stranger Things que trouxe Kate Bush a nova geração, parece que The Last Of Us também cumpre o mesmo objetivo.

Hits esquecidos como ‘Never Let Me Down Again’ do Depeche Mode e ‘Long Long Time’ de Linda Ronstadt voltam a ganhar notoriedade e passam a ser muito tocadas no Spotify. Ainda tem outros nomes importantes como Fleetwood Mac, Erasure, Pearl Jam, A-ha, entre outros.



Garantida para uma segunda temporada, The Last Of Us não altera muito o jogo de sucesso e ainda consegue criar camadas na trama, sobretudo ao dar ênfase em outros personagens do jogo. Se pensarmos que o segundo jogo foi muito mais polêmico, a série também precisará de muitas engrenagens para continuar segurando o espectador e fazê-lo esperar por mais surpresas.


Mesmo com um tema que possa parecer cansado como o mundo pós-apocalíptico causado por uma epidemia, The Last Of Us convence e confere novos ares a essa temática. Com personagens em constante evolução, boa fotografia, angariada pelos cuidados técnicos que uma emissora como HBO costuma realizar, a série tira o estigma de que jogos não casam com cinema. E apresenta ideias para que a relação Jogos-Cinema possa conviver em harmonia.

 

The Last of Us

Em andamento (2023)


Criador por: Neil Druckmann e Craig Mazin

Duração: 1 Temporada

Disponível: HBO Max


 

NOTA DO CRÍTICO: 9,0

 

Trailer da série:



Nota: 9,0




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