Resident Evil, série da Netflix, pega elementos do jogo mas falha em muitos aspectos técnicos.
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Resident Evil, série da Netflix, pega elementos do jogo mas falha em muitos aspectos técnicos.

A série insere gradativamente elementos do jogo e os adiciona para criar uma nova estrutura narrativa, porém não tão eficaz

Foto: Netflix

Muitas foram as produções cinematográficas em torno do jogo Resident Evil. Todavia, a maioria delas não capturou a essência definitiva da franquia da Capcom. Seja pelos filmes do diretor Paul W. S. Anderson com Milla Jovovich atuando, seja pelas animações computadorizadas, tais produções sempre ficaram devendo por não conseguirem emplacar um universo completo e fiel aos jogos.


Claro que para uma franquia de sucesso como Resident Evil, sempre existe uma brecha para mais novidades, até mesmo não importando se alguns fãs reclamam do produto final, a exemplo do fraco Resident Evil: Bem-Vindo a Raccoon City (2021). Dessa forma chega na Netflix uma série live-action pensando na famosa saga de jogos da Capcom, tudo pelas mãos do diretor Andrew Dabb que também é responsável por escrever alguns episódios da série Sobrenatural.


Em sua primeira temporada, a história ocorre depois dos eventos que culminaram com o fim da cidade de Raccoon City (presenciado no terceiro jogo da franquia). O espectador acompanhará os acontecimentos por trás de uma Nova Raccon City, construída para ser uma cidade com ares futurísticos e que esconde o verdadeiro passado da antiga cidade.


A série se passa em duas linhas temporais: 2022 e 2036. Na primeira, acompanhamos a trajetória das irmãs gêmeas Jade (Tamara Smart) e Billie Wesker (Siena Agudong), junto com o pai Albert (Lance Reddick) chegando para morar na cidade, ainda num cenário pré-apocalíptico. A segunda, por sua vez, mostra um mundo pós-apocalíptico onde humanos tentam sobreviver em meio a hordas de mortos-vivos e outras mutações.

Claro que essas duas narrativas temporais diferem entre si. 2022 apresenta um contorno adolescente mostrando bastante as tensões das duas irmãs em se adaptar ao novo lugar e também tentando conviver harmoniosamente ente si. As coisas complicam quando elas passam a compreender os mistérios que envolvem o pai e a empresa onde trabalha. Então, espere algo bem melodramático inclusive com cenas escolares envolvendo bullying e com cenas familiares tensas causadas pelas relações complicadas que exigem a confiança entre pai e filhas.


2036, por sua vez, traz muita ação desenfreada, caos, reviravoltas e descobertas. Essa fase da narrativa mostra alguns personagens do passado e alguns novos dentro de um mundo caótico. É o momento onde nos deparamos com cenas turbulentas por conta da rivalidade de certos personagens e da escolha que cada um resolveu assumir (não citados aqui para evitar spoilers). Mas no meio de um mundo que desmoronou, ainda resta esperança, inclusive para Jade Wesker que pesquisa uma forma dos humanos viverem juntos com os infectados.


A série insere gradativamente elementos do jogo e os adiciona para criar uma nova estrutura narrativa, porém não tão eficaz. Muita coisa presente nos jogos surge, mesmo que apenas em rápidas aparições e citações. Umbrella Corporation, James Marcus, Albert Wesker, Dr. Salvador (jogo Resident vil 4), lagarta gigante, cachorro zumbi, licker, entre outros. Numa cena de ação onde Jade se vê diante de uma horda de infectados, podemos observar, na mesa do cenário, uma máquina de escrever (clássico objeto usado para salvar em alguns jogos).


Essas duas passagens da narrativa acabam soando confusas. Muitas vezes, a mistura entre as linhas temporais acaba destruindo a sequência de ação que ocorre em 2036. O clímax de algumas passagens da série acaba interrompido.

Exemplo é a cena claustrofóbica com os lickers em 2036 onde tudo poderia ter uma maior duração por conta da ação frenética e tensa, entretanto tal cena acaba perdendo a intensidade quando passamos a ver, abruptamente, um flashback de 2022, sem muito sentido com o momento da trama.


Além disso, a trama com as duas irmãs jovens acaba não engrenando e segue dando voltas desnecessárias. Geralmente, cenas que envolvem flashbacks de personagens precisam oferecer carga emocional em meio a tanta ação. Precisam criar um elo dramático para valorizar bastante o que está ocorrendo no tempo presente da narrativa. Não vamos presenciar muito isso na série.


Mesmo quando Jade e Billie tentam desvendar os segredos do pai às escondidas num momento em que elas bancam as detetives, cenas essas que poderiam facilmente prender o espectador pelo suspense, a tensão se perde facilmente e o resultado final acaba previsível, repetitivo e até irritante.


A série sequer permite criar carisma pela maioria dos personagens. Fora isso, alguns personagens são caricatos demais, provocam mais risos do que interesse no espectador. Caso de Evelyn Marcus (Paola Núñez), chefe da Umbrella, que acaba deslocada (sobretudo na fase pós-apocalíptica). Não passa medo, não convence em sua vilania e na sua mania de se meter na vida da família Wesker. Está longe de representar os poderosos vilões que o jogo teve até hoje.


E o que falar do agente Richard Baxter (Turlough Convery) que mostra outra faceta e ensaia até um balé coreográfico de matança de zumbis? Tentaram o humor aqui, mas depois dos acontecimentos prévios a esta cena, o ritmo destoa da trama e esse é mais um personagem do tipo risível do que marcante (e tinha tudo para ser).


Cliffhanger, recurso tão comum nesse formato de produção e que garante sempre a expectativa de um novo e empolgante episódio, aqui não funciona, não engata. Claro que no último episódio fizeram questão de mencionar um famoso personagem dos jogos para, quem sabe, incentivar uma nova temporada.

Apesar de tudo, conseguiram deixar muitas pontas soltas, mesmo com um episódio final moroso e previsível. Problema é que os fãs pediram o cancelamento da série e, ao mesmo tempo, ela alcançou o TOP 10 em diversos países. Então, veremos como a Netflix processa esse dilema.


Então, a produção acaba sendo um entretenimento volátil e que chama a atenção em algumas passagens, sobretudo aquelas que ocasionam aquela efêmera surpresa em quem é fã incondicional dos jogos. A empolgação maior acaba em ver toda a simbologia do jogo em muitos momentos da trama esperando sempre que cada episódio possa melhorar. O que não é tão verdade.

 

Resident Evil

Série Live-action (Em andamento)


Primeiro episódio: 14 de julho de 2022

Adaptação: Resident Evil

Duração: 1 temporada

Onde ver: Netflix



 

NOTA DO CRÍTICO: 4,0

 

CONFIRA O TRAILER DA SÉRIE:


 

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