St. Vincent entrega uma sonoridade sucinta com letras confessionais em 'Daddy's Home'
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St. Vincent entrega uma sonoridade sucinta com letras confessionais em 'Daddy's Home'



Com canções literárias que soam emocionalmente obscuras e o seu jeito distinto e habilidoso em tocar guitarra, St. Vincent se destacou com sua música que vai do Rock ao Pop, acrescentando bons elementos do Groove, Soul e Jazz. Uma jovem, cujo amor por bandas como Nirvana e Soundgarden a inspirou a aprender guitarra. Em seu primeiro disco 'Marry Me' de 2007, ela introduziu muito bem elementos do Indie Rock, música Eletrônica e Jazz de maneira excêntrica. A partir dai seus álbuns ganharam cada vez mais densidade e expressividade. Características que estão presentes em 'Daddy's Home' de 2021.


Um trabalho que apresenta uma atmosfera e sonoridade com uma estética bem anos 70. A pesar do contexto contido no disco aproximar do presente, Vincent conseguiu canalizar muito bem os acontecimentos que marcaram sua vida enquanto seu pai estava na prisão. Um turbilhão de sentimentos fervilhando na cabeça, não poderia resultar em nada menos do que um belo álbum com todas aquelas camadas e ritmos já citados aqui com uma certa dose experimental de Glam Rock. Como se ela quisesse narrar novas histórias, através de uma sonoridade totalmente retrô?!


Impossível não pensar em David Bowie ouvindo esse disco. A faixa “Down” parece ter saído do emblemático álbum do camaleão, “Young Americans" de 1975. Uma música nostálgica que fala sobre certas pessoas que gostam de aproveitar da boa vontade de outras para tirar proveito disso. E tipo, ser legal não é ser influenciável. Outra canção de destaque no álbum é “Somebody Like Me” que por hora pode parecer uma canção bem inferior as outras do disco, mas possui sua beleza de camadas bem nostálgicas. “Down and Out Downtown” fala sobre não se preocupar com o que as pessoas vão pensar de você. E também sobre você estar em uma festa de porre, pegar um trem de volta para casa ao amanhecer, e sem entender nada do que aconteceu, ter que lidar com os olhares de reprovação das pessoas.

Sua visão e criação musical sobre o mundo continua ácida e impressionantemente complexa e profunda. Tendo como base o retorno do seu pai para casa, Vincent explora temas um tanto cinzentos e complexos, quanto o seus trabalhos anteriores.

'Daddy’s Home' é um disco que consegue impactar logo no início com um, Blues, sensacional na faixa “Pay Your Way in Pain” que contextualiza muito bem com nossa atual realidade. Aquele velho sentimento de você se sentir por baixo e deslocado em um país que obriga você a escolher, muitas vezes, entre dignidade e sobrevivência. Vincent se jogou definitivamente na música do início dos anos 70 e presta uma bela homenagem à canção "Fame" de David Bowie, enquanto traça um paralelo entre passado e presente, apontando as coisas boas e ruins transferidas de geração para geração. “Live in The Dream” marca o momento mais psicodélico do disco. A canção remete muito a sonoridade de George Harrison ou até mesmo Pink Floyd com suas camadas introspectivas e atmosféricas. Uma música que fala sobre a fama e o peso de ser alguém famoso, e sobre as pessoas que você perde por causa disso.


Em meio a esse turbilhão de emoções introspectivas, é possível encontrar momentos mais vulneráveis e confessionais na faixa título "Daddy's Home". E ela segue seus questionamentos em relação à família e liberdades femininas. Revisitando seu passado artístico, bem como suas influências musicais e familiares. Um disco nostálgico e amplamente íntimo. Como se ela fosse se revelando justamente pelas coisas que tanto tenta esconder, mas Vincent sabe muito bem aonde pisa e adota uma liberdade ousada para dizer que todos já passamos por situações semelhantes. Algo bem presente na faixa "At The Holiday Party". Enquanto a figura de Daddy do título do álbum pode muito bem ser um sujeito paterno, namorado ou até mesmo um cafetão. O disco passa muito essa ideia de ambíguo como se fosse literal mesmo.


Um trabalho conciso e complexo sobre a nossa própria capacidade de evoluir e, ao mesmo tempo, em aceitar a humanidade que existe em nossas imperfeições.

 

Ficha Técnica:

'Daddy's Home'

Data de Lançamento: 14 de maio de 2021

Gênero: Rock Alternativo, Indie Rock e Glam Rock

Ouça: "Somebody Like Me" "Daddy's Home" e "Live In The Dream"

Para quem curte: David Bowie e Arctic Monkeys


 

Ouça no Spotify:


 

Veja o vídeo de "Somebody Like Me" abaixo:


 

Sobre Marcello

É editor e criador do Teoria Cultural.

Pai da Gabriela, Técnico em Radiologia, flamenguista, amante de filmes de terror. Adora bandas como: Radiohead, Teenage Fanclub e Jesus And Mary Chain. Nas horas vagas, gosta de divagar histórias sobre: música, cinema e literatura. marce.almeidasilvaa@gmail.com

 

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