Sofia Freire esbanja talento e criatividade no afável Ponta da Língua
top of page

Sofia Freire esbanja talento e criatividade no afável Ponta da Língua

Um deleite precioso pelo melhor do Art Pop feito no Brasil.

Sofia Freire
Foto: Lua Olívia


É do Recife, PE, que surge a voz afamada e contagiante da musicista Sofia Freire, que também é pianista e produtora musical. Com 26 anos de idade, a pernambucana esbanja um talento ímpar daqueles que fogem a comparações. Carrega em seu currículo a formação em Produção Fonográfica pela UNIAESO Barros Melo (Olinda, PE) e espalha seu canto e sua arte pelo país através do formato "one-girl-band". Além disso, ela atua como tecladista no projeto DRACENA, composto por Alessandra Leão, Issar e Karina Buhr.


Com sua musicalidade ancorada pelo pop eletrônico, tendo como inspiração e influências que vão de Björk a Tetê Espíndola, a cantora já passeou pelos palcos dos principais festivais de música independente, como Coquetel Molotov (PE), SeRasgum (PA), e foi convidada no show REFAVELA 40, de Gilberto Gil. Fora isso, Sofia ainda dirige e atua no musical feminista "A Dita Curva".



A artista chega ao seu terceiro disco, ‘Ponta da Língua’, após enfrentar um longo período de bloqueio criativo durante a pandemia. A reconexão da cantora com sua arte surge desse calabouço vivido por momentos de isolamento, refletido em 9 músicas que fazem jus ao título do álbum. Composições e sentimentos que estavam todos ali reunidos no seu eu, presos na ponta da língua. Essa atmosfera intimista do trabalho soa muito familiar e representativo. Você vai se encontrar e conectar com sua poesia e sentimentos que permeiam os 32 minutos do disco.


'Ponta da Língua' não foge muito dos outros dois trabalhos de Sofia, 'Garimpo' (2015) e 'Romã' (2017), obras contemplativas que já diziam muito sobre ela. O novo trabalho flutua pelas mesmas águas, porém buscando ondas experimentalistas com uso preciso de sintetizadores, pianos e cordas que dançam perfeitamente com o poder sonoro emanado de sua voz. Com isso, o disco vai se tornando um deleite precioso pelo melhor do Art Pop. E o melhor de tudo? Música de alta qualidade feita no nosso Brasil.


Daquelas obras sonoras que despertam o prazer de ouvir música, te acalma com o timbre adocicado da voz e vibra o sentimento de felicidade ao encontrar um álbum atento aos mais pequenos detalhes, ruídos, efeitos e batidas à la Radiohead em muitos momentos graciosos do disco. Por falar em gracioso, o trabalho já abre de maneira vibrante e convidativa com a deslumbrante Autofagia, que cuida de tratar do sentimento libertador que aflora por todo o álbum.



Sentimento esse que tende a ser reforçado com o espírito experimentalista e psicodélico que nasce dos arranjos caprichados de Arrebento, faixa que entrega uma força poética surgida da alma, como se fossem as tais palavras presas na ponta da língua, esperando o momento oportuno de gritar a todos sua força interior. Sempre apontando que ciclos terminam para outros surgirem, com isso, Sofia reimagina seu talento musical explorando a fundo seu repertório, buscando sempre o frescor e a brisa de novos arranjos. Mormaço e Big Bang são exemplos exaltantes de tais feitos, misturados com o amontoado de frustrações, anseios, medos e incertezas, que dividem as emoções com o lado bom da vida. Fragmentos que trazem a artista para mais perto do ouvinte, e quando der por si, já estão dividindo o mesmo mundo e emoções.


O jeito é aproveitar a viagem contemplativa e onírica à qual a obra te convida e não estranhe se durante o trajeto encontrar elementos que emulem a fase Sgt. Pepper's dos Beatles, fruto do poder criativo de uma cantora que trilha seu próprio caminho artístico. Apesar da idade, já demonstra maturidade, segurança e decisão sobre qual estrada pretende trilhar com sua arte: cantar sobre os dela, os meus e os seus sentimentos.



A faixa-título, que encerra o disco, ecoa todas as sensações experimentadas durante o isolamento, momentos vulneráveis que resultaram em ótimas canções pop que parecem não se prender e pertencer apenas a um determinado tempo. 'Ponta da Língua' é um disco que tende a reluzir para muito além de suas próprias limitações. Algo representativo e similar ao que vivenciamos trancafiados em casa, presos em nossos próprios pensamentos, onde aprendemos a nos reconectar com o mundo lá fora, com as pessoas e todo o ambiente externo. Mas enquanto estávamos por lá, não deixamos de criar e imaginar um mundo de magia muito além do horizonte.

 

Ponta da Língua

Sofia Freire


Ano: 2024

Gênero: Art Pop, Experimental

Ouça: "Mormaço", "Big Bang", "Autofagia"

Humor: Instigante, Provocativo, Estimulante

Pra quem curte: Björk, Luiza Lian, Céu


 

NOTA DO CRÍTICO: 8,5

 

Ouça a faixa 'Mormaço'









97 visualizações0 comentário
bottom of page