Saltburn mistura gêneros e critica a aristocracia inglesa com muita ousadia, polêmica, erotismo e subversão
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Saltburn mistura gêneros e critica a aristocracia inglesa com muita ousadia, polêmica, erotismo e subversão

Atualizado: 31 de dez. de 2023

O filme ganha bastante força por seu elenco. Conhecidos e experientes como Rosamund Pike e Richard E. Grant.

Foto: Divulgação / Amazon Prime Video


Tema frequentemente explorado no cinema, a amizade pode render uma trama desafiadora. Interessante notar como essa temática muitas vezes pode chegar de uma forma descontraída e sutil, em outras vezes, chega de forma cruel, com consequências devastadoras e dando o nocaute devido no espectador, mesmo que seja nos derradeiros minutos do filme.

 

Praticamente esse é o intuito de Emerald Fennell (Doce Vingança, 2020). Ela é responsável pelo roteiro e direção de Saltburn (2023). No filme, acompanhamos a amizade entre dois estudantes que se conhecem durante as aulas em Oxford. Embora com personalidades distintas entre si, o tímido, solitário e pobre Oliver Quick (Barry Keoghan) vai conquistando o afeto e a confiança do rico e extrovertido Felix Catton (Jacob Elordi).

 


Após a relação de amizade se fortificar, Felix convida Oliver a passar as férias de verão na mansão dos seus pais, a imponente Saltburn. Quando chega ao lugar, Oliver transforma a rotina na residência chegando a causar ciúmes ou até mesmo paixão dentro da excêntrica e soberba família de Felix.

 


O filme ganha bastante força por seu elenco. Conhecidos e experientes como Rosamund Pike e Richard E. Grant se juntam a uma geração promissora de atores e atrizes, a exemplo de Alison Oliver, Archie Madekwe e Jacob Elordi (que ganhou bastante atenção ao atuar em Priscilla, filme também de 2023).

 

Entretanto, o foco maior deve cair para o irlandês Barry Keoghan que ganhou muito reconhecimento com uma digníssima atuação em Os Banshees de Inisherin (2022) que fez lhe valer uma indicação justa ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante. No filme de Fennell, ele faz valer sua fama com uma atuação capaz de nos passar diversos sentimentos, além de uma construção incrível (e até difícil e delicada) do seu personagem na narrativa.

 

Apesar de passar por cenas que ficarão como polêmicas, controversas e/ou até mesmo desnecessárias (como a passagem no cemitério ou a da banheira), o ator mostra desenvoltura em trechos que envolvem desde dançar nu a cantar com timidez num karaokê entre família.

 

Fennell é mordaz e sabe explorar os estereótipos de uma sociedade aristocrática inglesa que está mais preocupada em fazer festas com pessoas que mal conhecem do que entender os próprios filhos. Banhos de sol com bebedeiras, festas, gastos e muito luxo fazem parte do cotidiano da família Catton.

 


A trilha sonora não deve ser esquecida. Com medalhões da música, difícil ficar imune a canções que fizeram parte do repertório de muitos ouvintes, dentro de variados gêneros: MGMT (‘Time To Pretend’), Bloc Party (‘This Modern Love’), Pet Shop Boys (‘Rent’), Arcade Fire (‘No Cars Go’), entre outros.

 

Além disso, não faltam citações a movimentos musicais ingleses como Britpop. Num dos diálogos entre a família, Elsbeth Catton (Rosamund Pike), a mãe de Felix, diz que chegou a sair com os integrantes do Blur e do Oasis. Logo em seguida, relata que muitos julgavam que a música ‘Common People’ do Pulp falava sobre ela. Elsbeth responde então que seria humilhante, pois ela mal conhecia Jarvis Cocker (líder e vocalista da banda).

 


Mas não é somente isso. Referências literárias e mesmo cinematográficas não ficam esquecidas, sendo assim, os residentes de Saltburn dialogam desde Lord Byron até Harry Potter, claro, tudo se encaixando num tom de cinismo e até mesmo de descaso.

 

Outro destaque é a arquitetura dos cenários. Inclusive, o próprio Felix, orgulhoso, faz questão de mostrar a mansão para Oliver logo no primeiro dia, descrevendo a suntuosidade dos ornamentos, compartimentos e outras relíquias que sua família tem em poder. Nem os quadros com reis famosos passam ilesos, inclusive, numa cena inusitada, um dos personagens conversa com outro dizendo com qual daqueles reis ele desejaria transar.

 

Entretanto, esse cuidado com os cenários colabora para muitas mudanças no tom da narrativa. Serão importantes para começar a entregar aquela reviravolta contundente. O segredo aqui é usar muitos lugares da mansão para segurar o espectador na tensão da trama e prepará-lo para um impacto maior que está por vir.

 

Isso pode acontecer com o claustrofóbico labirinto no jardim ou mesmo com a ambientação opressora e sufocante da sala quando as cortinas são fechadas e uma iluminação vermelha paira sobre os personagens (isso após um evento trágico ocorrido na mansão).

 

Existem muitas influências de outras películas a exemplo de O Talentoso Ripley (1999) e de Segundas Intenções (1999), mas digamos que Saltburn planeja chocar ainda mais, se enovelando pela subversão e bastante pelo erotismo, com muitas cenas ousadas (e até asquerosas) que acabam se juntando para o ápice do final. Dessa forma, estamos diante de mais uma produção do tipo ‘ame ou odeie’.

 


Saltburn se guia por uma história que envolve Romance, Drama e Thriller. Nunca se decidindo por um gênero em específico, ainda pega emprestado alguns elementos da Literatura Gótica e do Humor Negro. Tudo em prol de uma narrativa que sabemos que está prestes a explodir em cada festa ou diálogo que irrompe pela mansão, mas nunca sabemos o momento certo. E que mostra como a Amizade pode seguir por caminhos complexos e contrários do que julgamos.

 

Saltburn

Saltburn


Ano: 2023

Gênero: Thriller

Direção: Emerald Fennell

Roteiro: Emerald Fennell

Elenco: Barry Keoghan, Jacob Elordi, Archie Madekwe, Rosamund Pike, Richard E. Grant, Alison Oliver

Classificação: 16 anos


 

NOTA DO CRÍTICO: 7,0

 

Trailer:



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