Review: Dehd-'Flower of Devotion', um disco de canções melancólicas e ritmos ensolarados.
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Review: Dehd-'Flower of Devotion', um disco de canções melancólicas e ritmos ensolarados.



Formado por Emily Kempt, Jason Balla e Eric McGrady, o trio de Chicago lançou em 2020 o seu terceiro e mais recente disco de estúdio. Flower Of Devotion chega quase de forma prematura, apenas um ano após seu antecessor Water, de 2019.


Dehd vem seguindo um caminho de composições cada vez mais seguras e “maduras”. Pode se dizer que o novo álbum cria uma espécie de devoção ao grande estilo Rock ‘n’Roll, numa celebração ao caminho das boas músicas. Influências oriundas de bandas como The Jesus And Mary Chain. É formidável como o trio consegue extrair os melhores elementos do Indie Rock, Dream Pop e do Rock Alternativo e soar autêntico e enérgico, trazendo identidade para sua música. E eles continuam extraindo e explorando seus humores coloridos com músicas ensolaradas com solos de guitarras bem mais definidos e melodias mais aventureiras.


A atmosfera do disco possui acordes magnéticos que agem de forma crescente e fazem as canções alcançarem um alto nível. São canções engatadas por ótimos vocais, guitarras e bateria. O clima do álbum é atraente, existe uma conexão entre letras e riffs de guitarras, e tudo se encaixa de forma simétrica. O que nos leva a seguinte conclusão: se no disco anterior eles eram bons em criar canções ganchosas, aqui eles literalmente aprimoram sua sonoridade, com elementos de sobra para levar a banda direto para o mainstream.

O grupo se abastece de momentos nostálgicos e flerta com desilusões amorosas para dissertar sobre sentimentos e emoções um tanto pessoais. Aquele velho poder do eu lírico.

E é algo que cresce e se aprofunda com os vocais compartilhados entre Kempt e Balla, que deixa transparecer nas entrelinhas um certo sentimento e química, que trazem para as canções o lado humano e isso se encaixa perfeitamente na atmosfera do álbum. Elementos que se destacam em canções como “Desire”, faixa que abre o disco com versos feitos para ficarem rodando por horas e horas na cabeça. O uso da licença poética aqui funciona como um canal para sintonizar os mais distintos sentimentos envolvendo relações amorosas e desilusões, algo no estilo do romance Alta Fidelidade, de Nick Hornby. E para manter o gancho de emoções, na sequência temos a ótima “Loner” com guitarras e vocais em perfeita harmonia. Uma música sobre a solidão e os efeitos que ela provoca com o decorrer do tempo. Bem pertinente para esse momento pelo qual estamos passando. A música acentua muito bem o uso dos sintetizadores e Kempt já tinha se mostrado ser uma excelente vocalista, mas aqui ela consegue subir níveis incríveis elevando seu canto a lugares novos e estranhos. Um misto entre Patti Smith com as nuances de B-52s.


Flower Of Devotion pode ser nomeado como um disco que semeia inspiração sobre a vida e as relações que construímos com o passar do tempo e a forma como a gente vai se modificando, se reinventando ao envelhecer. Algo sobre as percepções de vida, de olhar para trás e perceber o quanto amadurecemos e o quanto ainda carregamos de espírito juvenil. São reflexões que “Month”, em pouco mais de três minutos, consegue nos fazer viajar por toda a vida. São ganchos simples e melodias diretas que revestem toda a atmosfera do disco. Apesar do teor pop das treze canções, elas não perdem o peso e a vitalidade do alternativo. Vocais potentes e certeiros que rimam com as melodias, ótimas composições e guitarras profundas. "Haha" segue a linha agridoce e melódica criando um ritmo introspectivo e ao mesmo tempo belo e peculiar. Mais uma vez a voz de Kempt se sobressai sobre batidas eletrônicas e sintetizadores.


A banda também transita pelo Shoegaze e Surf Rock, onde eles dissertam sobre o preto e branco do amor. Isso já fica evidente com a bela capa do disco com duas máscaras que serve de abridor para sentimento de desespero e comédia. Um misto de sentimentos que nos seguem pela vida. Sim! O Dehd também vai fazer você lembrar de Joy Divison e as composições bucólicas de Ian Curtis. Um disco bem produzido, onde a banda encontrou o equilíbrio em suas composições. Algo que o torna mais limpo que o disco anterior e mostra que trio possui talento e vem buscando seu espaço no alternativo. Um álbum de canções melancólicas e crepuscular de verão.

 

Ficha Técnica: Flower of Devotion


Artista: Dehd

Gênero: Indie Rock, Shoegaze e Lo-Fi

Data de Lançamento: 17 de julho de 2020

Ouça: "Disire", "Loner" e "Month"

Para quem gosta de: Lala Lala e No Age

Nota: 8,5


 

Veja o clipe de "Loner" abaixo:


 

Ouça no Spotify


 

Sobre Marcello Almeida

É editor e criador do Teoria Cultural.

Pai da Gabriela, Técnico em Radiologia, flamenguista, amante de filmes de terror. Adora bandas como: Radiohead, Teenage Fanclub e Jesus And Mary Chain. Nas horas vagas, gosta de divagar histórias sobre: música, cinema e literatura, e curtir as aventuras do cão Dylan. marce.almeidasilvaa@gmail.com



 

Texto originalmente publicado no site Urge!

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