Reféns da Terra possui alguns bons elementos narrativos, mas merecia uma construção melhor de seus personagens
- Eduardo Salvalaio
- há 1 dia
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Reféns da Terra possui alguns bons elementos narrativos, mas merecia uma construção melhor de seus personagens e de sua segunda metade

Um filme pode ser repleto de clichês e até passar uma sensação de previsibilidade, mas se ele conquista do início ao fim, nem julgamos os métodos que ali foram utilizados. Na falta de originalidade e de trazer novas ideias para o Cinema, que ele ao menos seja um bom entretenimento e que termine deixando no espectador boas lembranças, mesmo que em mínimos fragmentos.
Reféns da Terra (Lie of the Land, 2023) do diretor John Carlin (mais conhecido através dos curtas que realizou) chegou quase lá. Um filme que logo no início traz muitos elementos que convencem rapidamente: uma isolada casa de campo, personagens passando por momentos difíceis, uma fotografia que preza pela escuridão e por cenários mais cinzentos.
Também é difícil não sentir carisma pelo casal de idosos Ward (Nigel O'Neill) e Cath (Ali White). Os dois agora vendem o restante do gado que possuem para obter um dinheiro que lhes dará uma oportunidade de saldar dívidas. Mesmo que o valor dos animais seja mais baixo, Ward vende para agradar sua esposa (num momento bem triste da película).
Com o dinheiro todo guardado numa bolsa dentro do quarto, Ward e Cath aguardam a chegada de um homem da cidade que cuidará do processo de transferência do dinheiro para o banco. Entretanto, o acordo sofre alterações e o casal percebe que a negociação não será tão tranquila assim.
O filme se inclui entre os gêneros Suspense e Terror. Entretanto, é melhor ficarmos apenas com o primeiro. Existe sim um Terror Psicológico numa trama que já sabemos desde cedo quem é o mocinho e quem é o vilão, sobretudo dentro de um cenário isolado com poucos personagens que seguem pelo típico caminho do ‘jogo de gato e rato’.
É a partir desse ponto que o filme se arrasta, mesmo em suas constantes reviravoltas e perseguições. Porém, o problema maior fica centrado no vilão caricato, que não consegue passar medo para o espectador, chegando até a ser risível em muitos resultados de suas ações (não sei se o intuito de algumas cenas era trazer um lado cômico).

Também vamos conhecendo um pouco mais do casal, sobretudo da intenção de Ward ao vender o gado para obter dinheiro. Existe até brecha para tecer comentários sobre a economia durante e após a pandemia de Covid-19, entretanto, esse sentimentalismo acaba raso e apenas dá combustão para a fala dos personagens em momentos mais tensos da trama.
E se um filme desse tipo precisa ser vibrante e angustiante até os minutos finais, aqui o espectador cansado espera apenas o desfecho sem muitas surpresas que ainda traz algumas cenas pós-créditos que não acrescentam tanto. Isso mesmo num filme que dura menos de 80 minutos.
Reféns da Terra possui alguns bons elementos narrativos, mas merecia uma construção melhor de seus personagens e de sua segunda metade. Pelo menos o filme tem um pé no chão, mostra uma realidade para os nossos dias atuais que falam da cobiça, velhice, sonhos e a própria humanidade. Pena que a irregularidade do filme acabe subtraindo os temas que poderiam ser melhor discutidos.












